Mulher sai de casa após ser agredida pelo companheiro e homem toma posse de imóvel e outros bens

Uma mulher que mora em Salvador teve a casa em que vivia tomada pelo ex-companheiro após ela sofrer agressões e deixar o imóvel. O caso foi registrado na Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) como agressão física e também violência patrimonial.

Além disso, após receber ameaças, a vítima entrou com um pedido de medida protetiva contra o agressor. Hoje a mulher diz que mora de favor e relata outros prejuízos provocados pelo ex-companheiro, como dívidas com contas de luz e água, e o cancelamento de linhas telfônicas que ela usava para trabalhar.

“Meu nome estava no SPC por conta dele não ter pagado a minha conta de água e de luz. Em posse do meu CPF, ele cancelou minhas duas linhas telefônicas. Eu sou manicure e dependia desse telefone para trabalhar, que eu atendo em domicílio também, e, por conta disso, perdi minhas clientes”, diz.

A vítima, que prefere não se identificar, contou que as agressões começaram quase dois anos depois que ela e o namorado foram morar juntos. Ela registrou o caso no dia 20 de dezembro do ano passado. A medida protetiva foi solicitada em janeiro, mas só saiu mais de três meses depois.

“Ele me bateu, me jogou no chão, minha cabeça bateu no chão. Ele ficou me ameaçando de morte. Eu não abandonei meu lar, eu saí por conta da violência que sofri. E, até então, eu tô fora de casa por conta disso”, afirmou a vítima.

Enquanto esperava pela medida protetiva, com medo, a manicure saiu de casa. A vítima afirma que ela comprou a casa quando o casal foi morar junto. Mas quando se separou, o agressor se recusou a deixar o imóvel.

Desde então, a manicure ficou sem ter onde morar. Ela passou por casas de familiares, mas, por conta das ameaças, precisou se esconder. Em mensagens enviadas a um amigo em comum, o ex-companheiro da vítima faz ameaças. “Eu vou subir lá amanhã e vou pegar ela. Ela tá fazendo inferno na minha vida. Vou acabar com ela”, diz o texto.

A violência patrimonial é quando, além de sofrer agressão física e psicológica, a mulher perde os bens, que são tomados pelo agressor. A manicure espera ter os bens devolvidos o quanto antes. Agora, ela vai levar o caso à Justiça.

“Eu peço que a Justiça me ajude, que me dê minha casa de volta, que a casa é minha. Eu quero minha reintegração de posse”, pede.

Violência patrimonial

Só na Deam do bairro de Periperi, na capital baiana, foram registrados, até agora, 61 casos de violência patrimonial neste ano. O número é mais do que o dobro do registrado no mesmo período do ano passado, quando foram contabilizados 29 casos na mesma unidade policial.

A delegada titular da Deam, em Periperi, Vânia Matos, acredita que o aumento no número de ocorrências de violência patrimonial se deve à intolerância e também a um possível sentimento de poder que homens têm em relação às mulheres.

“Eu acredito que a intolerância está maior, e acredito também que esse sentimento de poder que o homem tem sobre a mulher faz com que, num momento de raiva, ele tente atingi-la destruindo seu patrimônio, seus bens, as coisas que mais lhe aconchegam e lhe pertencem”, disse.

A delegada afirma, que a violência patrimonial ocorre, muitas vezes, quando o homem não aceita uma separação e acha que é um crime menos grave.

“Como ele não tem condição de ter a mulher, o revide é através da destruição dos bens que ela possui, além do que muitos deles, o que elas [mulheres] relatam, dizem a elas que estão fazendo no patrimônio o que gostariam de fazer nelas. É também uma maneira de se livrar da agressão a ela, achando que a agressão ao patrimônio é de menor potencial. Mas também é uma coisa grotesca, porque a gente adquire as coisas com sacrifício, com o labor do dia a dia e, de repente, a gente vê destruído”, afirmou Vânia Matos.

A delegada orienta que a mulher que sofre violência patrimonial deve registrar o caso em uma delegacia. Segundo o defensor público Rodrigo Assis, feita ocorrência a uma unidade policial, a vítima que não tiver condições de pagar um advogado particular pode procurar auxílio no Núcleo de Defesa da Mulher da Defensoria Pública do Estado. Em Salvador, o órgão fica no bairro de Sussuarana.

*G1



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