Pescadores retiram 1,5 tonelada de lixo do mar do Porto da Barra

Quem vai à praia costuma levar objetos como boné, guarda-sol, cooler, toalhas e  cangas. Mas, ao dar um mergulho, já pensou em encontrar pneus, televisões,  geladeiras e até bicicletas depositadas no fundo do mar? Apesar de inusitada, a  situação é real e tem preocupado um grupo de pescadores subaquáticos que, há  três anos, desenvolve um projeto de limpeza na costa de Salvador, retirando da  água toneladas de lixo.

Neste domingo (18), a ação foi realizada na praia do Porto  da Barra, de onde foram retiradas cerca de 1,5 tonelada de entulho que foi  descartado na areia ou na água e acabou indo para o fundo do mar. Entre os  objetivos recolhidos estão pneus, garrafas pet, latas de refrigerante e cerveja,  redes utilizadas por pescadores, tubos de PVC e até uma televisão.

A ação levou  pouco menos de duas horas e contou com a participação de cerca de 100  mergulhadores voluntários. Além de Barra, eles costuma realizar atividades  parecidas em outras praias da costa da capital baiana, especialmente no Cantagalo, na Cidade Baixa, onde existe um “corredor de lata” de pelo menos três  quilômetros, segundo os pescadores.

Além de ser benéfica para o meio ambiente,  a retirada de lixo do mar tem trazido outra consequência positiva: espécies de  peixe que tinham abandonado a costa de Salvador por causa da sujeira estão  retornando. Entre elas estão o bodião azul, o bodião batata, a tainha, o robalos e  o badejo, todos vendidos por pescadores e utilizados nos cardápios de  restaurantes ou caseiros.

“Esse trabalho tem trazido muitos resultados positivos. Um deles é que essas espécies estão voltando. O lixo atinge especialmente os peixes de fundo, que fazem moradia nas pedras. Por causa do lixo, muitas delas estavam se afastando da beira da praia, e isso é prejudica a nós, pescadores subaquáticos”, conta Ronald Silveira, vice-presidente da Associação Brasileira de Pesca Submarina.

Luan Santos/ CORREIO

Conscientização
O presidente da associação, Fernando Suber, que deu início à limpeza há três anos, conta que um dos objetivos da ação é conscientizar banhistas e vendedores ambulantes. “As pessoas precisam entender que esse lixo que elas deixam lá, desprentensiosamente, acaba indo para o fundo do mar e prejudica o meio ambiente, afasta espécies. Mais de 70% do oxigênio que respiramos vem do mar. Então, precisamos ter o mínimo de cuidado com ele, que, para nós pescadores, dá nosso sustento”, afirma.

Ele diz que tem conversado com ambulantes para que disponibilizem sacolas para o descarte de lixo. A praia do Cantagalo, segundo Suber, é a região mais problemática. “É uma região que tem muita lata. Toda ação que fazemos lá retiramos pelo menos duas toneladas de lixo”, diz. Latas, garrafas pet e placas de ovos de codorna representam mais de 50% de tudo que é recolhido por eles das praias. “Já tiramos geladeiras, uma cama de mola, bicicletas, tudo que você imaginar”, relata.

No caso dos pneus, o pescador diz que só tira da água aqueles que têm menos de 70% do espaço ocupado por espécies. “Quando os pneus são pintados, o material orgânico já começa a ocupar em poucos dias. Mas se for puro, os derivados do petróleo afastam os materiais, que só começam a ocupar em três ou quatro meses. Por isso, temos esse cuidado de observar se o pneu está muito ocupado por vida orgânica. Se tiver, não vale a pena tirar e prejudicar as espécies que estão ali”, afirma.

Todo o material recolhido do mar é removido pela Limpurb. Fernando Suber conta que a iniciativa foi provocada após dar uma aula de mergulho para uma turista francesa. “Ela falou que o mar da Barra tinha várias embarcações que naufragaram, falou da beleza, mas também da sujeira, e perguntou o que nós fazíamos para cuidar do mar. Foi então que começamos. Na primeira, fomos cinco mergulhadores. Na segunda, já éramos 35”, revela.

Desde então, conta, eles fazem operações de limpeza mensalmente nas praias. A atividade contou com o apoio da Companhia de Proteção Ambiental da Polícia Militar (Coppa) e da Marinha.

Luan Santos/ CORREIO

Projeto
A vereadora Lorena Brandão (PSC) também deu apoio à ação e foi à Barra para acompanhar a retirada do entulho. Ela apresentou, logo no início do ano passado, um projeto de indicação  para a criação do cargo de “gari do mar”, que seria responsável pela colata de lixo na costa da capital baiana. “Assim como existem os garis que fazem a coleta pela cidade estamos pedindo a criação dos garis que vão ficar responsáveis pela limpeza do mar. A cidade teria, também, um calendário de limpeza para o mar”, comenta.

Segundo ela, com essa medida, seria possível limpar completamente a faixa marítima que vai da Barra a Itapuã de cinco a sete anos. A vereadora ressalta a necessidade de conscientização da população sobre a importância de preservação da fauna e da flora marítima. “É uma causa que deve ser de todos, e acredito que este trabalho desses pescadores, que é voluntário, deve ser visto como exemplo”, defende.

 

*Correio



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