Sem gasolina para voltar para casa, motoristas estão presos em fila de posto

Dos cerca de 250 postos de combustível de Salvador apenas um tem gasolina. Mas nem se anime. O Posto Escola – bandeira Petrobras no bairro do Stiep, se trasnformou em oásis para os motoristas que padecem sem combustível que está em falta por conta da greve dos caminhoneiros. O posto tem combustível, mas não para venda do consumidor final. O combustível disponível será para viaturas e carros oficiais. Com isso, gente que ficou na fila está ‘presa’ no posto e não consegue sair do local pois está sem combustível.

Mesmo com esse aviso uma fila se formou desde o fim da tarde de sexta-feira (25). O engenheiro civil Paulo Roberto Santos, 52, chegou às 17h de sexta, quando o posto ainda abastecia normalmente.

Desde então, a gasolina acabou e não consegue mais sair da fila. “Estou zerado. Moro em Piatã e não tenho nem como voltar. Só precisamos de cinco litros de gasolina. O pessoal do posto disse ontem que a partir de 8h a gente ia poder, mas os policiais não estão deixando”.

É o mesmo drama da estudante de Ciências Contábeis Sueli Lopes, 44 anos. Ela chegou com os dois filhos – adolescentes de 13 e 14 anos – e o marido por volta das 18h. Estavam procurando um posto para abastecer e conseguir voltar para casa – próximo à Ceasa de Simões Filho. Angustiada, ela mostra um galão com capacidade para cinco litros vazio.

Eu já desci aqui com o galão duas vezes e eles negaram, mesmo eu tendo visto algumas pessoas saindo com gasolina, mas disseram que eram amigos dos PMs. Não temos opção até aparecer uma alternativa. Como vamos sair daqui sem gasolina?”, questionou.

A fonoaudióloga Caroline Lima, 34, também estava na fila tentando conseguir alguma coisa. “Eu deixei de atender pacientes hoje por causa disso e, na segunda-feira, trabalho em Camaçari. Por que eles que são viaturas podem e nós da área de saúde não?”, questionou.

 

Foto: Thais Borges/CORREIO

Ao CORREIO, diversos motoristas relataram ter visto carros sem emblemas oficiais sendo abastecidos durante a madrugada. O agente de portaria Ageneilton dos Santos, 45, chegou a gravar um vídeo, mas diz que um policial militar teria mandado que ele apagasse.

“Eu consegui gravar os outros carros, mas ele me forçou a deletar”, contou ele, que queria gasolina para sua moto. “Já vieram muitos enchendo vasilhas e levando e enchendo carro particular”, disse outro homem, que não se identificou.

O vendedor Rafael Bastos, 31, também estava com o carro parado. O veículo sofreu pane seca. Ele chegou no Posto Escola pela primeira vez às 15h30 de sexta, mas estava com a esposa e o filho.

Carro de Rafael está com ‘pane seca’ e não consegue sair do posto
Foto: Thais Borges/CORREIO

“Meu filho é asmático e eu precisei deixá-lo em casa em Mussurunga. Voltei para cá meia-noite e estou aqui desde então. Agora, preciso de cinco litros para pelo menos voltar para casa, para sair daqui mesmo”, desabafou.

O casal Ana Paula, 39, e Alan Matias, 35, também estavam na fila desde as 20h da sexta. “A gente mora em Fazenda Coutos e o carro está zerado. A gente não poderia sair daqui nem se quisesse, porque só empurrando mesmo. Mas vamos esperar uma solução”, contou Ana Paula. Os filhos do casal, de 9 e 12 anos, estão desde o dia anterior com a avó, porque os pais não conseguiram chegar em casa.

Por volta das 8h, parte dos motoristas que estava na fila chegou a fechar a via que dá acesso ao posto, na região do Stiep. No então, a polícia logo voltou a estabelecer o fluxo do trânsito.

Motorista de um dos carros “comuns” que aguardavam na fila junto às viaturas e veículos oficiais, Evandro da Silva afirmou que se tratava de um carro da Conder. Ele chegou a mostrar adesivos com o emblema do governo estadual.

“Esse carro fica à disposição da coordenação e colocamos o emblema a depender do bairro onde vamos, para que o pessoal não pense que é carro de polícia. Aqui não tem como abastecer se não for carro oficial, porque quando chegar lá, vou ter que digitar uma senha de oito dígitos para comprovar. Quem não tem a senha não consegue”, garantiu.

O rodoviário Marcos Conrado passou por três postos antes de chegar ao Escola. Veio a pé e de ônibus, com um galão vazio nas mãos. “Só queria abastecer isso aqui para poder trabalhar. Hoje vou pegar 16h e largar 1h da manhã, então preciso do carro para voltar para casa”.

Uma confusão no posto atrapalhou o trânsito por volta das 9h deste sábado (26) atrapalhando o trânsito na região.. Teve gente que dormiu na fila e acabou fazendo protesto quando soube que não ia conseguir abastecer, nem ter como voltar para casa.

“Chegaram dois caminhões tanque com combustível e as pessoas que estavam na fila se manifestaram e fecharam a via porque falaram que a gasolina era só para ambulância e carros oficiais da polícia. Lá mesmo ontem teve taxista que teve que rebocar o carro de lá, dormiu e não teve como abastecer”, afirmou Ademilton Paim, presidente da Associação Geral dos Taxistas.

Carros sem gasolina não serão multados 
A Superintendência de Trânsito do Salvador (Transalvador) informou na manhã desta sexta-feira (25) que os agentes de trânsito estão orientados a não notificarem veículos que pararem nas ruas por falta de combustível enquanto durar a crise no abastecimento na capital baiana.

A infração conhecida por pane seca é de natureza média e tem previsão no artigo 180 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), com multa de R$ 130,16 reais.

O superintendente Fabrizzio Müller destacou ainda que o CTB estabelece, no artigo 26, que antes de colocar o veículo em circulação nas vias públicas, “o condutor deverá assegurar-se da existência de combustível suficiente para chegar ao local de destino”. “Mas, em virtude dos problemas ocasionado pelo movimento dos caminhoneiros, é de bom senso flexibilizar”, disse.

 

*Correio



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