Astrônomos descobrem na madrugada asteroide prestes a passar de raspão pela Terra

Por Salvador Nogueira

Astrônomos brasileiros descobriram na madrugada deste sábado (27) um asteroide prestes a passar de raspão pela Terra. Ele passará a menos de um quarto da distância até a Lua, fazendo sua aproximação máxima às 22h25 de hoje.

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A descoberta foi feita por Cristóvão Jacques, João Ribeiro de Barros e Eduardo Pimentel, do observatório SONEAR, localizado em Oliveira (MG). Eles conduzem o único esforço significativo de monitoramento de objetos ameaçadores à Terra no hemisfério Sul — iniciativa de defesa planetária que é mantida 100% com recursos privados.
O asteroide tem cerca de 40 metros e deve passar a 86 mil km da superfície terrestre — com alguma incerteza, uma vez que o pouco tempo de observação torna difícil determinar sua órbita com exatidão absoluta. Os astrônomos, contudo, afirmam que não há risco de colisão.

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“Ele foi descoberto às 3h20 desta madrugada”, disse Jacques ao Mensageiro Sideral. “Estou impressionado com como ele vai de 685 mil km de distância, quando achei ele, a pouco mais de 86 mil em menos de 24 horas!”

E desse nível de proximidade não deve passar. Ainda bem. Embora um bólido de 40 metros não seja uma ameaça à civilização (para efeito de referência, o que levou os dinossauros desta para uma melhor tinha pelo menos 10 km), ele pode causar danos significativos e detonar na atmosfera com a força de dezenas de bombas atômicas. Ele teria o dobro do tamanho do meteoro de Chelyabinsk, que adentrou a atmosfera sobre a Rússia em 2012 e produziu uma onda de choque que danificou mais de 7.000 edifício e feriu mais de 1.000 pessoas. Ou seja, não é batatinha.

Gostemos ou não, a essa altura os astrônomos já sacaram que estamos em meio a um interminável campeonato de tiro ao alvo espacial. Estima-se que uma colisão desse porte ocorra em média a cada 100 anos, mas nada impede que esse número tenha sido subestimado — afinal, não éramos bons em monitorar o globo inteiro em tempo real, que dirá asteroides próximos, até muito recentemente. Uma hora é inevitável que encontremos um bólido celeste que ofereça algum nível de ameaça e tenha nosso nome grudado nele. Felizmente, não será hoje.

Por outro lado, você pode esperar relatos similares a esse com uma certa frequência a partir de agora. A descoberta foi resultado de uma mudança de estratégia de observação do SONEAR para encontrar objetos mais próximos da Terra, que costumam ser “perdidos” se não são acompanhados quase imediatamente após a detecção. A decisão naturalmente deve aumentar nosso conhecimento sobre os “quases” pelos quais a Terra passa e sua frequência.

“Meu sentimento é que pegaríamos um asteroide a menos de três vezes a distância da Lua por mês”, diz Jacques. “Mas é um sentimento nada estatístico ainda, já que não temos o tempo 100% limpo como quase acontece no Chile.”

E AS BOAS NOTÍCIAS?
O sábado celeste não é só de choque e pavor para os terráqueos. Quem tiver céu aberto após o pôr do Sol terá a oportunidade de ver a conjunção mais espetacular do ano, quando Vênus e Júpiter estarão tão perto no céu que parecerão ser um astro só!

O brilho promete ser impressionante. Procure-os na direção do horizonte Oeste e, se você olhar com atenção, verá Mercúrio, bem menos brilhante, ali pertinho também.

Numa curiosidade que vale a pena mencionar, alguns astrônomos acreditam que uma conjunção desse tipo possa ser uma explicação para a lendária estrela de Belém, que teria guiado os reis magos do Oriente na história bíblica do nascimento de Jesus.

E, enquanto você estiver olhando para Júpiter, não se esqueça de que a sonda Juno está fazendo neste sábado sua aproximação máxima do gigante gasoso com suas câmeras ligadas.

A sonda, que entrou em órbita no maior planeta do Sistema Solar na madrugada do dia 5 de julho, passou agora a menos de 4.200 km da cobertura de nuvens de Júpiter — algo que ela já tinha feito durante a inserção orbital. A diferença agora é que ela estará com os instrumentos ligados, colhendo dados e tirando as fotos mais espetaculares já vistas da alta atmosfera joviana.

A Nasa informou que as primeiras imagens do encontro devem ser transmitidas da espaçonave para o centro de controle da missão a partir de amanhã e então divulgadas em meados da semana que vem.

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COMENTÁRIOS (9)
Boa tarde Salvador, sou assíduo leitor de sua coluna no UOL, atualmente estou em fase de conclusão do curso de filosofia e estou escrevendo meu TCC, na área de Cosmologia, gostaria de lhe pedir uma contribuição para meu projeto,caso lhe seja possível. Gostaria de um comentário seu sobre se há compatibilidade entre fé e razão, desde já lhe agradeço, abraço

André Motta – 27/08/2016 12:52 pm – Responder
André, tive uma ótima conversa com o Neil deGrasse Tyson sobre isso, entre outros assuntos. A entrevista sai no domingo, e em breve pretendo publicar a íntegra — que não caberia no jornal. Desconfio que pode te interessar. Além disso, já dei diversas vezes minha opinião sobre o tema no blog. Eu acho que não são excludentes, mas cada uma precisa saber seu domínio de aplicabilidade. A fé consiste em algo pessoal e intransferível, e a razão aborda aquilo que não é subjetivo. Se você não misturar os canais, ambas podem conviver. Infelizmente, não há o hábito, de parte a parte, de respeitar essas fronteiras.

Salvador Nogueira – 27/08/2016 12:57 pm – Responder
Olá Salvador, estou no sul da Alemanha, na Baviera, distante 90 km. de Munique. O verão aqui está ótimo e os últimos dias tem sido espetaculares, céu azul e sem nenhuma nuvem. Gostaria de ver neste sábado o fenômeno planetário citado em sua matéria e poderia me enviar por e.mail alguma orientação? O fuso horário aqui é de + 5 horas em relação ao horário de Brasilia.
Grato.

Nogueira – 27/08/2016 12:52 pm – Responder
O que vale aqui vale aí. Olhe na direção do poente logo após o pôr do Sol. ????

Salvador Nogueira – 27/08/2016 12:57 pm – Responder
ficamos imaginando quando o asteroide se chocou com a terra a outra ponta ainda estava nas nuvens, deve ter sido um espetáculo maravilhoso, mas ainda bem que não estava lá pra assistir pessoalmente

marco antonio de santana – 27/08/2016 12:50 pm – Responder
Quem garante que esse troço não mudará sua trajetória ? Dá medo da incerteza…Já não bastasse incertezas políticas, econômicas, sociais, da própria vida e existência humanas, ainda tem que haver essas ameaças espaciais…Se pelo menos previssem com antecedência e não em cima da hora…Mas confio no ” seu taco “, Salvador…Se você afirma que não há risco de choque, confio…Abraço…

infiel – 27/08/2016 12:49 pm – Responder
A inércia e a gravidade — duas coisas bem compreendidas — garantem que ele não mudará sua trajetória. Agora, o que pode acontecer é a trajetória ter sido mal calculada para começar, por falta de dados observacionais. De toda forma, o Jacques já excluiu a possibilidade de colisão, mesmo com as incertezas. Abraço!

Salvador Nogueira – 27/08/2016 12:59 pm – Responder
“A Nasa informou que as primeiras imagens do encontro devem ser transmitidas da espaçonave para o centro de controle da missão a partir de amanhã e então divulgadas em meados da semana que vem.”

Que chato, achei que seria “ao vivo” também… 🙁 Com os delays de transmissão, claro…

Essa NASA adora fazer umas surpresas, né?? ????

David Machado Santos Filho – 27/08/2016 12:39 pm – Responder
David, os caras esperam 57 dias para uma coleta de dados relevantes para a missão de poucos minutos, e que exige que a sonda não fique com a antena apontada para a Terra. Natural que não fosse em tempo real. Agora, eu esperava que pelo menos uma imagem bonitona os caras fossem divulgar no domingo. Realmente estão pouco ágeis. Mas tempo real eu não esperava, não.

Salvador Nogueira – 27/08/2016 12:41 pm – Responder
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