Cachoeira: Primeira mesa da Flica debate racismo

Os escritores Carlos Moore e Cuti Silva na primeira mesa da Flica 2017, mediada por Zulu Araújo (centro) (Paolo Paes/Divulgação)

“O que acontece com a criança negra?”, questionou o escritor paulista Cuti Silva na mesa de abertura da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), que aconteceu na tarde desta quinta (5), na cidade de Cachoeira. “Na tenra idade, ela perde o nome na escola, ganha um apelido e em geral é sempre pejorativo. Isso é um dos grandes problemas: o racismo começa a nos afetar na infância”, denunciou o autor, doutor em literatura brasileira e um dos fundadores da série Cadernos Negros, que dividiu a mesa de abertura com o escritor cubano Carlos Moore.

Provocados por perguntas do mediador Zulu Araújo, os dois escritores passearam por diferentes questões que envolvem o racismo, durante a mesa chamada Os Reflexos do Passado Ancestral em Nossa Pele. “O racismo está sendo benéfico para alguém, servindo um propósito para alguém, mesmo nefasto para outros. Então, enquanto servir a esse propósito, o racismo será permanente. Temos que ver o racismo como uma dinâmica da sociedade, que se renova a cada geração e se complexifica”, afirmou o cientista político e militante Carlos Moore.

Autor de sete livros publicados, Moore comentou sobre o titulo da recém-lançada autobiografia Pichón – Minha Vida e a Revolução Cubana, que faz referência a um termo pejorativo usado em Cuba. “Ninguém sabe, a coisa que mais me feriu quando era pequeno, aquilo que mais me causou dor quando era momento de brincar, era ser chamado de pichón (filhos de urubus). Queria que o mundo inteiro conhecesse esse termo. Por isso pus esse termo no titulo dessa obra”, justificou Moore.

Em outro momento, Cuti destacou que “quem é negro, é negro 24 horas por dia, por mais que não saiba”. “E você ficar 24 horas por dia ausente de vocês mesmo, é uma falha existencial imensa”, completou o autor. Moore, por outro lado, destacou que não é muito otimista diante da sociedade que se apresenta. “O otimismo não salvou ninguém do desastre. Então não tenho visão otimista de nada. Me baseio naquilo que a história me mostra ser uma constante. Então o racismo é uma constante na história”, denunciou.

Cultura como estrutura humana
Minutos antes da mesa de abertura, o governador Rui Costa destacou a importância de se pensar no conceito de cultura como “aquilo que estrutura a vida humana”. “Considero que na afirmação do nosso Recôncavo, da nossa gente, do nosso povo, a cultura é muito singular. É o que dá a diferença, singularidade, entre todos os estados do Brasil. Não poderíamos ter outro comportamento se não apoiar, de forma ampla, não só a Flica de Cachoeira, a primeira e inovadora, mas outras festas literárias como a Fligê. Assim nós vamos demonstrando o que a Bahia tem. Feliz Flica, feliz Cachoeira e viva a cultura da Bahia!”, desejou o governador.

A secretária de cultura Arany Santana, por outro lado, afirmou que iniciativas como a Flica permitem abrir portas para outras festas literárias da Bahia e servem de incentivo para jovens leitores. “A Flica é, hoje, o maior evento literário do estado. Traz para as crianças e a juventude novas perspectivas para sentir, pensar e aprender. Tem fundamental importância na formação de novos leitores e aquece a cadeia produtiva do livro. A cidade está em festa”, comemorou. “Essa grande festa literária que tem tomado corpo será responsável pela transformação da nossa sociedade, humanização dos nossos alunos. Vida longa pra essa festa literária!”, completou.

*Correio



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