Baiana Manuela Dias vai estrear como autora de novelas em 2019

A baiana Manuela Dias, 40 anos, está prestigiada na Globo. No ano passado, foram ao ar duas minisséries com roteiro dela: primeiro, foi Ligações Perigosas e em seguida, Justiça. A primeira teve média de 23 pontos de audiência e a segunda, 27. Agora, Manuela se prepara para estrear no espaço mais disputado da dramaturgia brasileira: as novelas.

A sinopse, que ainda não foi revelada, já foi aprovada pela Globo. Apesar de Manuela dizer que não há ainda horário definido para a trama ir ao ar, a imprensa especializada já aposta que a estreia da autora no formato será no horário mais disputado, às 21h. Deve ser exibida em 2019.

Manuela chega ao ápice na Globo num momento em que as mulheres estão em alta na emissora: pela primeira vez, as quatro novelas no ar são  criadas por mulheres. “Acho importante que o lugar de fala seja eclético. Porém, mais importante do que isso é tomarmos cuidado com essa instauração de uma patrulha ideológica. Eu não quero fazer dramaturgia feminina, quero fazer dramaturgia humana”, comenta a autora.

Leandra Leal vive Luiza e Manolo Cardona é Adrian em Love Film Festival, estreia de Manuela Dias como diretora de cinema (foto: divulgação)

Antes da história da baiana, devem ser exibidas, na mesma faixa, obras de Walcyr Carrasco, Aguinaldo Silva e João Emanuel Carneiro.

Jornalista
Formada em jornalismo, Manuela graduou-se na Faculdade de Comunicação da Ufba. Lembra-se que, em sua sala, estudavam baianos hoje ilustres como Jean Wyllys, Wagner Moura.

Havia também nomes que hoje têm força no cinema local, como Ana Rosa Marques Teixeira, Lula Oliveira e Amaranta César. “São meus amigos até hoje e foram meus companheiros nesse momento importante de transição para a vida adulta”, recorda-se.

A história de Manuela na maior emissora do país é antiga: começou aos 19 anos, como pesquisadora da série Sandy & Júnior. Após oito meses, tornou-se colaboradora da redatora final, Maria Carmem Barbosa.

A dramaturga assume que seu sonho era mesmo cescrever uma novela: “Como dramaturga brasileira, esse sempre foi meu objetivo. É o formato no qual temos a maior excelência no mundo. Agora, estou começando a realizar esse sonho”.

Embora as novelas estejam longe de seu auge, quando alcançavam números superiores a 80 ou até 90 pontos de audiência, Manuela ainda acredita no formato. Para ela, há muitas razões para essa perda de público: “Muitas coisas influenciam o hábito do espetador: tem a internet, um acentuado processo de individualização, a quantidade de trabalho necessário para sobreviver, a reconfiguração da unidade familiar, o tempo no trânsito…”.

Em sua trajetória, destaca-se um momento na formação como criadora de histórias: um curso de vinte dias que teve em Cuba com Gabriel García Márquez (1927-2014), um dos maiores escritores da história.

Luiz Fernando Guimarães e Alinne Moraes em Cordel Encantado, primeira colaboração de Manuela Dias como roteirista em novela (foto: Zé Paulo Cardeal/Globo)

A roteirista lembra-se daquele período especial, na Escuela de Cine y TV de San Antonio de Los Baños: “Eram alunos do mundo todo, entre latinos e jovens de países com uma história ligada à resistência ao capitalismo. Minha turma tinha dez pessoas e eu era a única brasileira. Passamos 20 dias tendo aulas com ele e foi inesquecível”.

Gabo
Nas aulas, García Márquez pedia aos alunos que contassem histórias uns aos outros e ele interrompia quando o enredo parecia chato. “Cual és la buena?”, perguntava o autor de Cem Anos de Solidão, sinalizando a monotonia provocada pela monotonia da história. Numa daquelas, “Gabo”, como Manuela o chama, chegou a tirar um rápido cochiclo, enquanto um aluno, a todo custo, tentava melhorar o roteiro. “História chata é aquela que não faz o seu coração bater”, define a dramaturga baiana.

E, para fazer “o coração bater”, a autora gosta de inspirar-se no cotidiano. Tanto que, há alguns anos, ela passou uns dias no Centro do Rio de Janeiro colhendo histórias de cidadãos comuns para ver se, dali, algo lhe inspirava.

“Passei quase dois anos gravando essas histórias para restituir o volume da paisagem humana da cidade. Acho que a gente, para sobreviver e não por mesquinharia, vai aplainando a paisagem humana pra seguir em frente. Só que aquela pessoa que está servindo seu café pode ter perdido a mãe naquele dia”, disse uma vez Manuela à jornalista Bianca Ramoneda, no programa Ofício em Cena, na Glononews.

Além de escrever para a TV, Manuela tem escrito para o cinema roteiros como o de A Hora e a Vez de Augusto Matraga. Também já foi codiretora de Love Film Festival, exibido em Salvador no mês passado.

A baiana dividiu a direção com Vinícius Coimbra, Bruno Safadi e Juancho Cardona. No filme, Leandra Leal vive Luiza, uma roteirista brasileira, e Manolo Cardona é Adrian, um ator colombiano. Os dois se conhecem num festival de cinema e se apaixonam. A história é desenvolvida em cinco encontros, todos em festivais.

Adriana Esteves era Fátima, mulher que decidia matar o cão de um policial
(Foto: Estevam Avellar/Globo)

Manuela fez questão de acompanhar todas as etapas do filme: “Conceito, formar equipe, encontrar parceiros, viabilizar produção, convidar elenco. Tudo”, diz. Mas preferiu recorrer à ajuda dos três colegas. “Não quis mobilizar tantos esforços e arriscar que a minha inexperiente direção não desse conta. Por isso, os convidei. Essa proposta sempre foi muito clara e sempre fluiu contando com a imensa generosidade dos rapazes”, registra a diretora.

Mas ela avisa que não se considera ainda uma cineasta: “Não me vejo como diretora. Não tenho essa ‘entrega profissional’ para fazer. Me vejo como uma roteirista que dirige ocasionalmente”. Já tem mais dois filmes engatados: Menina Azul, inspirado no livro de memórias da atriz e documentarista Conceição Senna, e Love Film Festival 2, que deverá contar com a parceria da Globo Filmes.

Manuela exalta a qualidade dos roteiristas brasileiros: “Temos João Emmanuel Carneiro, Gilberto Braga, Carol Kotscho, Bráulio Mantovani, Mauro Wilson, Patricia Andrade… E a lista segue”. Mas faz uma ressalva: “Talvez exista ainda um elo a ser reforçado entre diretores e roteiristas, especialmente no cinema”.

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