No próximo domingo, dia 03 de dezembro, às 14h na quadra de esportes do
bairro Três Riachos, periferia da cidade de Cachoeira, no Recôncavo baiano,
serão lançados os videoclipes “Mina Favelada”, composição de MC Jayne, e
“O Tombo é Certo”, música autoral de MC Tainá. O rap de MC Jayne narra o
dia a dia da quebrada dela, dos desafios de ser uma das poucas minas
representando no rap do Recôncavo e do orgulho de suas origens. Já a letra
dada por MC Tainá, passa a visão da vida do corre no morro, como que um
aviso para que os menores não tomem o rumo do crime, porque “quando tá lá em cima esquece que o tombo é certo”. O lançamento ocorre ainda
simultaneamente pela internet.
Jayne Oliveira, 21 anos, é rapper, dançarina e compositora. Conheceu Tainá
e Silva da Silva, também de 21 anos, rapper e compositora, ainda na
primeira infância. Viraram melhores amigas. Entre idas e vindas, cresceram
passando por experiências bem próximas e que também marcam a realidade de outras meninas negras brasileiras. Falta de oportunidades de emprego digno, pouco ou nenhum acesso à educação ou à saúde pública. Ambas engravidaram na adolescência e desde então fazem a correria de uma vida de jornada dupla para poderem se virar não sendo mais apenas uma. Jayne tem uma filha de três anos e a de Tainá completou seis.
Nesse meio tempo, a caneta, o papel e as rimas viraram a fonte de lazer, de
prazer, de alternativa à realidade. Os primeiros raps surgiram com 13 anos.
Desde 2016 formam a dupla Az Piveta das Áreas e, a cada dia, ascendem como referências do rap feminino em Cachoeira e na Bahia. O lançamento dos videoclipes faz parte do Projeto Sonhadoras que narra, através de produções audiovisuais, a trajetória artística e cultural de ambas. O Projeto prevê ainda um documentário em desenvolvimento sobre a vida das MCs. O trabalho é fruto de uma articulação coletiva e independente que acredita na potência da arte como forma de transformação social, aliando produção cultural e comunicação popular.
Cachoeira é uma cidade que tem marcada na sua história a importância ímpar do legado das mulheres negras na fundação do lugar. Mulheres que foram escravizadas, mulheres negras do Partido Alto, da Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, de quitundeiras à charuteiras, de agricultoras à costureiras, de sambadeiras à rappers. De uma identidade não fixa e fluída, essas mulheres são presença viva e histórica pelas ruas da cidade. Da tradição à contemporaneidade, a pluralidade marca essas vivências cotidianas e artísticas. E a celebração da importância desse legado para a juventude na atualidade acontece com o lançamento de um projeto coletivo que parte do talento e da resistência de MC Jayne e MC Tainá.
