Os 50 anos das cotas raciais nas universidades dos EUA: o que deu certo e o que deu errado

 

Imagem Ilustrativa

Goodson, de 67 anos, e o colega fazem parte de um número recorde de estudantes negros admitidos na Universidade Columbia em 1969. À época, ela e outras instituições dos EUA já haviam começado a mudar a composição racial de seus campi à medida que o movimento pelos direitos civis ganhava terreno, mas o assassinato de Martin Luther King Jr., em 1968, as greves estudantis e revoltas urbanas levaram as universidades a redobrar seus esforços.

As instituições agiam em parte por um imperativo moral mas também por medo de que o tecido social estivesse sendo dilacerado pelo conflito racial. Arriscaram-se ao prometer espaço para estudantes negros de bairros pobres, até então ignorados.

Cinquenta anos depois, é possível observar o que deu certo, mas também o que pode dar errado, mesmo com as melhores intenções, desde o início das cotas raciais nas universidades americanas.

Aqueles que, por sorte ou trabalho árduo, se adaptaram à cultura dessas instituições que, durante muito tempo, foram pilares do establishment branco, tiveram êxito.

Outros não conseguiram romper essa estrutura, seja por traumas pessoais, por problemas familiares e financeiros ou pelo choque cultural. As universidades na época, dizem eles, não tinham a vontade ou o conhecimento para ajudá-los.

— Eu acho que é uma pergunta justa: nós realmente entendemos ou soubemos o que estávamos fazendo? Ou poderíamos ter previsto quais seriam os problemas? A resposta é não. Acho que estávamos instintivamente tentando fazer a coisa certa — afirmou Robert L. Kirkpatrick Jr., na época reitor de admissões em Wesleyan University, em Connecticut, que fez parte desses esforços iniciais.

Columbia foi um cenário particularmente revelador. Talvez em nenhum outro lugar fossem mais marcantes as divisões entre o privilégio para dentro dos portões da universidade e os problemas e demandas dos negros fora deles.

O “New York Times” localizou muitos dos quase 50 estudantes negros da turma que chegou ao campus de Columbia em 1969. Naquele ano, o número de estudantes negros admitidos na universidade mais do que dobrou em relação ao ano anterior. Cerca de metade dos que se matricularam receberam seus títulos quatro anos depois.

Muitos passaram a ter vidas confortáveis e sucesso profissional. Eric H. Holder Jr., por exemplo, saiu de um pobre no Queens para se tornar o primeiro procurador-geral negro dos Estados Unidos.

Em sua classe, havia futuros médicos, executivos e advogados — e também Goodson, o que toca saxofone na rua por onde passa o bem-sucedido colega.

Logo depois que ele entrou na universidade, o debate sobre as admissões de negros nas instituições se intensificou. No final da década de 1970, as faculdades começaram a enfatizar o valor da diversidade no campus.

Hoje, Harvard e a Universidade da Carolina do Norte têm suas políticas de cotas raciais questionadas judicialmente, em casos que podem chegar até a Suprema Corte.

O governo Trump está investigando acusações de discriminação contra candidatos asiático-americanos em Harvard e Yale. Funcionários das universidades que viveram todo o processo temem que os ganhos dos últimos 50 anos possam ser revertidos.

Um deles é Lee Bollinger, o atual presidente de Columbia, que chegou pela primeira vez ao campus como estudante de direito em 1968.

— Naquela época, havia um sentimento, puro e simples, de que as universidades tinham que fazer sua parte para ajudar a levar diversidade ao ensino superior. Ainda estamos nessa missão, mas o senso de propósito, de urgência e conexão com o passado se dissipou — disse Bollinger

Fonte O Globo



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