Santuário de Irmã Dulce tem movimento cinco vezes maior às vésperas da canonização

Foto: Valma Silva / G1 Bahia

Falta pouco mais de um dia para a baiana Irmã Dulce ser canonizada pela Igreja Católica. A celebração acontece no dia 13 de outubro, no Vaticano. Antes desse momento histórico, admiradores de várias partes do Brasil lotam o santuário que homenageia a religiosa, em Salvador. A equipe do G1 esteve no Complexo de Roma nesta sexta-feira (11) e encontrou uma grande movimentação em todos os setores.

Desde o último sábado (5), mais de três mil pessoas passaram pelo local. O número é cinco vezes maior do que a média registrada antes do anúncio da canonização e a tendência é que aumente ainda mais nos próximos dias.

Apesar do fluxo intenso, não há barulho. As pessoas demonstram grande respeito pelo lugar. “Isso tudo é sagrado, pois foi onde viveu uma santa. É emocionante pensar que há menos de 30 anos ela caminhou nestas ruas, neste prédio que tem uma energia especial”, diz a tradutora Georgiana Vaz, lembrando que a canonização de Irmã Dulce é considerada uma das mais rápidas da história da Igreja Católica.

Georgiana, que é natural de São Paulo, fez questão de passar pelo santuário em visita rápida a Salvador. Como muita gente, se surpreendeu ao saber que Irmã Dulce dormiu sentada em uma cadeira durante 30 anos, para cumprir uma promessa. O assento está no quarto dela, que aliás, desperta grande curiosidade das pessoas, que fazem o sinal da cruz diante das vestes que ela usou quando foi sepultada e que ficam expostas no cômodo.

Outro ponto de expressão da fé é o túmulo onde estão os restos mortais da futura santa, que foi recentemente reformado. “Não há palavras para descrever a emoção de estar aqui. É uma honra estar tão perto de uma santa, de uma pessoa tão bondosa”, diz, em voz baixa. Todos fazem orações neste ponto. Muitos choram e tocam o vidro que protege uma réplica do corpo da freira.

Na capela, voluntários se revezam em momentos de oração. Visitantes se ajoelham diante de imagens de Dulce, de Santo Antônio, Nossa Senhora da Conceição, entre outras. Nos olhos cerrados, nas mãos unidas, no balbuciar dos lábios, é possível perceber que os santos estão recebendo inúmeros pedidos e agradecimentos.

No passeio, muitos não dispensam uma parada no café, que fica ao lado da loja, onde são vendidos terços, broches, camisetas, velas e outros itens. Os visitantes se apertam para garantir produtos, especialmente imagens. “Quero ter uma santinha na minha casa para proteger minha família”, diz a técnica de enfermagem Angélica Nunes da Silva.

Ela mora no Largo da Madragoa, também na região da Cidade Baixa, e costuma assistir às missas semanalmente na Igreja da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, que fica no Complexo de Roma e em breve deve se tornar a Igreja da Santa Dulce dos Pobres. “Imagine, sou praticamente vizinha de uma santa? Nunca pensei”, comenta, entre risos.

Reforma e reinauguração

Há também intenso movimento na Igreja da Imaculada Mãe de Deus, que fica no santuário, passou por uma grande obra e recebe os últimos ajustes antes da cerimônia. Operários e auxiliares de limpeza dividem o mesmo espaço, pois tudo tem que ficar pronto nas próximas horas.

A reforma durou quase 60 dias. De acordo com a arquiteta responsável, Carla Macedo, há cerca de 20 anos o local não passava por uma grande obra, apenas recebia serviços de reparos e manutenção. Ela detalha que foi recuperada toda a parte da assembleia, onde são realizadas as missas.

Conforme a arquiteta, a construção foi praticamente toda custeada com doações, assim como o novo túmulo. Entretanto, a OSID ainda necessita de dinheiro para a conclusão da obra. Por exemplo, não foi recuperada a área de apoio para realização de eventos e cursos. Também não foi instalado sistema de climatização nem isolamento acústico, conforme previa o projeto, por falta de recursos.

“Fizemos tudo o que era possível com o orçamento que tínhamos para proporcionar mais conforto para os devotos no santuário, sem prejuízos para o trabalho assistencial, que é a prioridade”, comenta Carla.

Além da questão financeira, outro desafio foi fazer tudo a tempo da celebração. Uma sacristia totalmente nova, de 250 metros quadrados, foi construída em pouco mais de 15 dias. Para o serviço, uma empresa de Mogi da Cruzes, no interior de São Paulo, foi contratada após uma concorrência.

A engenheira responsável, Boni Kotake, explica que foi utilizada uma técnica chamada ‘light steel frame’. Trata-se de um um sistema industrializado e racionalizado, formado por estruturas de perfis de aço galvanizado. O método é sustentável e econômico, pois dispensa o uso de água e tem menor geração de resíduos.

A arquiteta Heloísa Pomaro, sócia de Boni, ressalta que, mesmo sendo uma técnica mais prática, o trabalho foi desafiador por causa do prazo. “Foi a mão de Dulce que conduziu tudo, pois conseguimos finalizar em um curto espaço de tempo. A equipe inteira se dedicou muito para que o objetivo final fosse alcançado. Trabalhamos com união e garra. O pessoal da OSID foi muito parceiro”.

Heloísa esteve pela primeira vez em Salvador na década de 80, quando ouviu falar da futura santa. Lembra que nessa época ela já era muito conhecida e admirada pelo trabalho filantrópico. “Jamais pensei que viraria algo tão grandioso como é hoje, tampouco que um dia poderia trabalhar na obra dela. Agora eu pude conhecê-la ainda mais e a minha admiração só aumentou”.

Boni não conhecia quase nada da história de Irmã Dulce e se impressionou com o que viu. “Foi uma honra colaborar para as Obras Sociais, por tudo que é feito neste lugar. Não sou cristã, mas Irmã Dulce é uma mulher admirável e exemplar para qualquer ser humano. É bonito ver como a fé move as pessoas e como os baianos são devotados a ela”.

Fonte G1 Bahia



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