Burocracia dificulta denúncia de crimes na central de atendimento da polícia no RJ

Uma testemunha de um assalto em Botafogo, na Zona Sul do Rio, ligou para a central 190, da Polícia Militar, para denunciar o crime, mas a burocracia e falha no treinamento não permitiram que o registro fosse feito.

Na ligação, a testemunha se identifica e o atendente começa a fazer uma série de perguntas. Apesar de saber o endereço e a localização de onde ocorreu o crime, o profissional pede referências e faz uma série de exigências, dando um claro exemplo de como a burocracia pode prejudicar o combate à violência.

O caso aconteceu no domingo (6). Dois homens armados aproveitaram o sinal fechado para roubar um motorista. A intenção da testemunha era avisar à polícia. Ela bem que tentou, mas perdeu a paciência.

Confira o diálogo:

Atendente: “190, Tiago. Boa tarde”.

Testemunha: “Boa tarde, Tiago. Acabei de ver um assalto aqui na rua Guilhermina Guinle, aqui em Botafogo, antes do sinal ali da Rua São Clemente. Estão assaltando com arma os carros”.

Atendente: “Qual o nome do senhor, por gentileza? ”

Testemunha: “Meu nome é Sérgio”.

Atendente: “Altura de qual o número da Guilhermina Guinle? ”

Testemunha: “No sinal da esquina com a Rua São Clemente. ”

Atendente: “Pode informar a numérica? ”

Testemunha: “Não sei informar, eu estava no carro atrás. Olha, o carro que foi assaltado…”

Atendente: “Ponto de referência? ”

Testemunha: “Esquina da rua. ”

Atendente: “Me refiro, por exemplo, a algo de amplo conhecimento: uma praça, igreja, mercado, banco, farmácia, padaria. ”

Testemunha: “Olha, Tiago, é na esquina, o sinal é na esquina. O assalto foi exatamente na esquina, no prédio. ”

Atendente: “Mas não tem nenhum ponto de referência, senhor? ”

Testemunha: “Tem uma loja de ar-condicionado de carro, conserto de ar-condicionado de carro na esquina. ”

Atendente: “Qual é o nome dessa loja? ”

Testemunha: “Qual o nome dessa loja de ar-condicionado que tem na esquina, você sabe, de carro? Não sei, Tiago. Então, deixa para lá. É melhor ele assaltar lá mesmo. Obrigado, viu? Boa sorte. ”

Quase um minuto e meio para fazer, ou melhor, tentar fazer a denúncia, foi o que a testemunha gastou. Um moradora que não quis se identificar, contou que os assaltos são constantes nessa região. Pedestres e estudantes de uma escola próxima são constantemente vítimas de assaltantes no sinal na esquina da Rua São Clemente.

Sem segurança, moradores são obrigados a mudar alguns hábitos, como a assistente social Raquel Castelpoggi.

“Eu moro e trabalho em Botafogo. Apesar de ser uma distância razoável, eu tinha uma rotina de voltar do trabalho todos os dias a pé para fazer exercício e eu tive que mudar completamente essa rotina. Eu estou voltando de táxi todos os dias porque não tem condição, é assalto em vários lugares de Botafogo, especialmente nessa esquina da Guilhermina Guinle com São Clemente, é praticamente todos os dias. Acho que tem até um ponto marcado de assalto. Então a gente mudar a rotina, estresse muito grande com filho, crianças na rua indo para escola, curso etc. Mudou completamente o Rio de Janeiro está numa situação deprimente e Botafogo chegou ao ápice também dessa situação”, disse a moradora.

A equipe do Bom Dia Rio circulou pela região na noite de terça-feira (8) e encontrou policiamento reforçado na esquina da Rua São clemente com a Rua Guilhermina Guinle. Mas os moradores continuam com medo.

“Muito assalto. Todo dia tem assalto aqui. Eles fecham direto aqui e tem assalto sempre, mas sempre sempre assim”, lamentou a ferroviária Márcia Varela.

A Secretaria de Segurança admitiu que houve um equívoco no atendimento e que o funcionário, recém-contratado, já foi identificado e vai passar por reciclagem. Por dia, a central 190, no Rio, recebe uma média de 20 mil ligações. A maioria é de ocorrências.



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