Viúva cura depressão após acolher 19 bebês em casa: ‘Chamaram de louca’

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Para fugir da depressão, uma idosa de 65 anos decidiu fazer parte de uma iniciativa que consiste em acolher crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, afastadas de seus pais por medida de proteção. Moradora de Santos, no litoral de São Paulo, a aposentada Inês Bordinhon é voluntária há dez anos do programa Família Acolhedora e já cuidou de 19 bebês.

Alguns são filhos de usuários de drogas, outros, de moradores de rua. Inês sequer fica sabendo ao certo da história de cada um, mas, durante determinado tempo, ela abre as portas de sua própria casa e se torna a ‘mãe provisória’ daquela criança. “Tive bebê que ficou 20 dias e, outro, que ficou por um ano e meio. É um aprendizado diário”.

O envolvimento é tanto que ela adaptou a casa para receber os pequenos. Na sala, brinquedos e almofadas dão o tom da decoração. E o que mais chama atenção é uma parede repleta de fotos de bebês. Cada retrato traz uma história que ela faz questão de contar. “Esse aqui ficou comigo por um ano e meio. Essa outra foi a primeira bebê que eu acolhi”, diz, apontando para cada imagem.

Mãe de quatro filhos, ela conta que tudo começou quando ficou viúva. Para ‘preencher o vazio’, resolveu ir em busca de escolas, creches e asilos que aceitassem trabalho voluntário. “Nada me preenchia, até que eu conheci esse projeto. Sempre fui muito ligada nos meus filhos, mas eu não conhecia esse lado de pegar um bebezinho que não é meu e amar como se fosse meu filho, mesmo não sendo meu e sabendo que ele vai embora”.

A primeira bebê que ela cuidou tinha apenas quatro meses. “Ela estava mamando ainda. Foi um desafio”. Ela diz que no início ninguém a apoiava – mesmo assim, não desistiu. “Quando eu comecei todo mundo achou que eu era louca. Diziam: você não tem o que arrumar? Não tem o que fazer? Vai passear, viajar. Hoje as pessoas só elogiam”, diz.

Dedicada, ela conta que não lhe falta disposição. Inês acorda todos os dias por volta das 6h, em seguida troca a fralda do bebê, dá mamadeira e banho. O processo se repete ao longo do dia e, quando pode, ela aproveita para fazer os serviços de casa.

Para lidar com a saudade, ela conversa diariamente com o bebê. “Eu tenho que ficar me doutrinando todo dia. Eu digo: você está com a vovó hoje, mas você vai ter que ir um dia. Eu falo para eles, mas no fundo é para mim que estou falando”.

Ela garante que, com o tempo, a vontade de cuidar de ainda mais crianças só aumenta. Deixar de ser voluntária do projeto está longe de seus planos. “Às vezes eu coloco na minha cabeça que vou parar, mas se eu fico sabendo que tem um bebê para acolher aí cai tudo por terra”, conta.

A aposentada faz questão de registrar os momentos em que os bebês ficam sob seus cuidados. Mas o objetivo não é guardar para ter de lembrança: ela junta as fotografias, coloca em um álbum e entrega à família.

Família Acolhedora

Implementado em Santos em 2005, o programa beneficia bebês, crianças e adolescentes afastados da família por medida de proteção. “O nosso objetivo é tentar reintegrar essa criança à família de origem. Caso não tenha condições, aí sim a última alternativa é a adoção”, explica a assistente social Lilian Reis dos Santos.

A iniciativa, que atualmente conta com 10 famílias cadastradas, evita que as crianças tenham que ir para um abrigo. O programa é voltado exclusivamente a pessoas que não tenham interesse em adotar.

Para se cadastrar, é preciso atender aos seguintes requisitos: morar em Santos; ter mais de 18 anos; não ter interesse em adoção; não ser dependente de álcool e outras drogas; não passar por dificuldades financeiras; não ter doença incapacitante; apresentar condições favoráveis de moradia; todos os integrantes da família aceitem o acolhimento.

O Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente financia uma ajuda de custo de R$ 524,63 ao mês por criança acolhida. A sede do programa funciona na Rua Miguel Presgrave, 26, no bairro Boqueirão, de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h. O telefone para contato é (13) 3251-9333.

*G1



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