Com alta de 547%, cuidador de idoso é a profissão que mais cresce no país

A quantidade de cuidadores de idosos e o número de interessados em cursos de formação dispararam no Brasil, e a demanda deve crescer ainda mais após a profissão ter sido oficialmente reconhecida.

Há uma tendência de aquecimento desse mercado iniciada em 2007. Entre aquele ano e 2017, o número de profissionais saltou de 5.263 para 34.051, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho.

O aumento, de impressionantes 547%, faz dessa profissão a que mais cresce no país atualmente. E o interesse deve crescer ainda mais nos anos por vir, puxado por dois fatores.
O Centro Brasileiro de Cursos (Cebrac), por exemplo, teve aumento de 84% na procura por seu curso de formação de cuidadores, em 2018, na comparação com 2017, ano em que a disciplina foi inaugurada – a escola tem unidades em diversos Estados do país.

O mesmo acontece em outros centros de formação, como o Senac, que relata aumento de 40% desde 2015 na procura por seu curso para qualificar cuidadores em 45 unidades paulistas da rede.

Primeiro, o envelhecimento do Brasil. Segundo o IBGE, o total de indivíduos com mais de 60 anos deve mais que dobrar até 2050, saltando de 9,5% para 21,8% da população e ultrapassando 40 milhões.

O envelhecimento, vale dizer, é tendência global: segundo a Organização Mundial de Saúde, o número de pessoas acima de 60 anos deve chegar a 22% da população mundial até 2050, o equivalente a 2 bilhões.

Outro vetor foi a aprovação no Congresso Nacional, em maio, do projeto de lei complementar 11/2016, que regulamentou a profissão de cuidador de idosos, crianças e pessoas com deficiência ou doenças raras.

Para especialistas, essa “oficialização” pelas autoridades deve motivar novos estudantes e profissionais.

“Com a regulamentação, a tendência é aumentar a nossa carteira de alunos”, analisa Thiago Busignani, diretor-executivo do Cebrac, cujo curso, ele diz, já formou mais de 10.000 profissionais.
Sua previsão ganha força na procura pelo curso em 2019. De janeiro a maio, o número de matriculados beira 50% do total de 2018; a seguir esse ritmo, o Cebrac registrará novo aumento na demanda em 2019.

“A regulamentação vai tornar a profissão mais atrativa e melhor remunerada”, opina Ana Carolina Bhering A. do Amaral, coordenadora de saúde e bem-estar do Senac São Paulo.

A entidade relata ter formado 9.000 cuidadores nos últimos cinco anos.

Essa crescente exigência de qualificação, inclusive na lei recém-aprovada, mudou o perfil do cuidador: se antes predominavam pessoas próximas – parentes, amigos – e sem formação técnica, agora há cada vez mais profissionais multidisciplinares, treinados sobre legislação, psicologia, nutrição e até situações de emergência e primeiros socorros, como reanimação cardíaca.

Custo X Salário
A maioria dos cursos profissionalizantes para interessados em se tornarem cuidadores de idosos duram entre 9 e 12 meses e têm custo entre R$ 200 e R$ 400 ao mês, em média. No Cebrac, a mensalidade é de R$ 299 durante dez meses, e, no Senac, chega a R$ 1.152 para um mínimo de 160 horas de aulas.

O investimento representa entre um e três meses do salário desse profissional. Cuidadores de idosos recebem entre R$ 1.000 e R$ 1.400, em média, a depender da região do país, do nível de qualificação e do regime de trabalho, segundo empresas de análises de mercado, como a Catho e a Love Mondays.

De acordo com o Caged, o piso salarial de um cuidador é de R$ 998 para jornadas semanais de 42 horas.

Mas essa é uma média nacional. No Estado de São Paulo, a remuneração fica entre R$ 1.250 e R$ 2.100, e a média salarial chega a R$ 1.500.

Já para cuidadores que pernoitam no trabalho, o pagamento mensal fica entre R$ 1.800 e R$ 4.500, segundo dados de entidades como a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

Essa média, contudo, deve subir conforme aumente o número de idosos precisando de cuidados de profissionais qualificados, comenta Busignani, do Cebrac.

“Já vemos casos de filhos que não conseguem acompanhar os pais idosos, na maioria das vezes optando por contratar pessoas sem conhecimentos profissionais, o que gera maus tratos e acidentes”, ele diz.
A oferta de vagas tem potencial de crescer também no setor público, com ambulatórios e hospitais ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS) agregando novos profissionais.

“Com o envelhecimento da população, a perspectiva é que as prefeituras e os Estados criem centros e unidades para esse público”, diz Busignani.

Já Ana Carolina, do Senac, destaca o ganho para idosos e famílias com as novas competências, como prevenção de doenças, estímulo à autonomia do idoso e aprendizados sobre alimentação e tratamentos humanizados.

*Valor



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