Medalhistas de ouro da BA em Olimpíada de Matemática falam de prêmio e rotina: ‘Nunca encarei o estudo como obrigação’

 

Foto: Alan Tiago Alves/G1

“Nunca encarei o estudo como sendo uma obrigação, algo que meus pais tivessem que me forçar a fazer. Estudar para mim sempre foi uma coisa natural, que eu amo e gosto de fazer por conta própria”. A fala é de um verdadeiro campeão de 11 anos que, apesar da pouca idade, já sabe o que é colocar no peito uma medalha de ouro.

O pequeno Emmanoel Wallace Gouveia foi um dos cinco estudantes da Bahia que estiveram entre os 575 de todo o país premiados com medalhas de ouro, nesta terça-feira (8), pelo desempenho na 14ª Olimpíada Brasileira de Matemática das escolas públicas e privadas de 2018, que teve 18,2 milhões de inscritos.

A cerimônia de premiação ocorreu no auditório de um hotel no bairro do Itaigara, em Salvador, e contou com a presença do ministro da Ciência, Tecnologias, Inovações e Comunicações (MCTIC), Marcos Pontes.

Nesta edição, a olimpíada reuniu concorrentes de 54,4 mil instituições de ensino do país. Além das 575 medalhas de ouro, 6,9 mil alunos ganharam medalhas de prata ou bronze e 46,6 mil receberam menção honrosa. Os ganhadores de medalhas garantem ingresso em programas de iniciação científica.

Morador da cidade de Feira da Mata e estudante do oitavo ano do ensino fundamental em uma escola pública, Emmanoel participou da olimpíada pela primeira vez em 2018 e não esconde a emoção de ter levado a medalha.

Ele fez questão de viajar cerca de 960 quilômetros, de casa até a capital baiana, para participar da premiação – só tinha ido a salvador uma vez, quando era criança, levado pela mãe para conhecer o mar.

“Fiz a primeira vez a olimpíada no ano passado. Eu estava no sexto ano, fiz a primeira fase sem ter me preparado previamente, porque não fomos avisados que ia ter a prova. Foi uma surpresa porque eles não avisaram com antecedência. Não tinha nenhum cartaz. Descobri no dia, fiz a prova, que foi super legal, questões muito lúdicas. Depois, eu percebi que tinha passado para a segunda fase. Então, decidi me dedicar, estudar pela internet, e fiquei em primeiro”, destaca.

O gosto pelos estudos, conta o jovem, vem de muito cedo e ele sempre teve o apoio dois pais. Diz que, muitas vezes, se o pai ou a mãe não pedirem para ele fazer outra coisa, ele passa o dia estudando.

“Meu pai é matemático e, antes de eu fazer a olimpíada, ele imprimiu algumas das provas anteriores para eu me familiarizar. Minha mãe também sempre me ajuda. Tem dias que, além da escola, eu estudo mais três horas em casa tanto matemática como outras matérias. Só que quando fui fazer a olimpíada, tirei um tempinho ainda maior, porque é uma prova um pouco diferente”, conta.

“Não é memorizar uma questão que aparece na prova, não é simplesmente saber quanto é dois vezes dois. A questão é resolver com algo que aprende na escola”, destaca Emmanoel.

A mãe, sempre do lado, não mede esforços para encher a boca para dizer o quanto se sente orgulhosa.

“Desde que ele começou a estudar, eu percebo que ele tem um desempenho muito grande não só em matemática mas também em outras áreas, nas outras matérias. Ele sempre gostou de estudar. E não é a gente que obriga, pelo contrário. Às vezes o pai dele tem que chamar a atenção e dizer: ‘Meu filho, a vida não é só estudo’. Aí leva ele para ir em um rio, para ir a algum lugar para ver se ele espairece”, diz a mãe Elizabeth Batista, 34 anos.

“A gente incentiva ele a andar de bicicleta, fazer outras coisas que outros meninos fazem e ele não quer. Diz que prefere ficar em casa estudando. Ele gosta de pesquisar e o que não consegue aprender sozinho, com a internet, ele pede auxílio do pai”, revela Elizabeth.

“É uma felicidade imensa. O orgulho vai nas alturas. A gente fica muito feliz e orgulhosa, mas também sempre dizendo a ele que não é uma coisa obrigatória e que não é porque ele ganhou agora que ele vai ter que ganhar sempre. Ele já fez a primeira fase desse ano de novo e, das 20 questões, acertou 19. A gente só pede para ele ir no tempo dele, e que o importante é fazer o que gosta. Não tem obrigação nenhuma de trazer o ouro sempre, mas se vier novamente vamos agradecer”, completa a mãe.

Emmanoel ainda está em dúvida sobre o que vai fazer no futuro. Diz até que pensa em ir para a área de saúde, pela paixão que vem florescendo dentro dele por medicina, mas também não descarta a área de exatas.

“Para o futuro, alguma coisa na área de medicina ou astronomia, porque eu também gosto muito de ciências, além da matemática. Ainda tenho um tempinho para decidir”, diz.

Outro estudante premiado nesta segunda-feira foi Ryan Barbosa Castro, de 14 anos, único de Salvador a ganhar medalha de ouro nesta edição da competição de matemática.

Estudante do Colégio Militar de Salvador, Ryan também está no oitavo ano do ensino fundamental e faturou a segunda medalha de ouro seguida. Apesar do bom desempenho, revela que não é de estudar muito.

“Desenvolvi uma facilidade para a matéria porque, antes, eu estudava mais. Hoje em dia, Não estudo muito. No geral, para me preparar para a olimpíada, eu acabei estudando um final de semana antes. Só que também tem o fato de que, ao longo do ano, eu faço programa de iniciação científica e, tecnicamente, acabo estudando”, destaca.

O jovem afirma que a mãe, professora de matemática, é a grande inspiração.

“Ela sempre me incentiva e acho que é por isso que eu me dou bem. Ano passado, estive no Rio de Janeiro para ganhar outra medalha de ouro da olimpíada de matemática, a minha primeira, e também tenho outros prêmios de outras competições, inclusive uma de astronomia. A felicidade é grande por saber que o meu esforço deu resultado”, diz.

Sobre futuro, também diz ainda não ter decidido sobre o que fazer.

“Eu não decidi. Às vezes escolho alguma coisa assim, mas só fica por um dia e do nada mudo para outra coisa”, brinca.

Fonte G1 Bahia



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