H1N1 matou 104 pessoas na Bahia nos últimos 10 anos

Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Em um único ano, mais de 575 mil pessoas morreram em decorrência de um novo tipo de gripe em todo o mundo. Era 2009, há dez anos, e o nível de alerta para pandemias da Organização Mundial de Saúde alcançou o nível 6 – o mais alto da escala. O vírus que matou tanta gente, segundo estudos do Centro de Controle e Prevenção de Enfermidades (CDC) de Atlanta, nos Estados Unidos, era o H1N1. Desde então, a Bahia enfrenta o problema.

De 2009 a 2019, o H1N1 matou 104 pessoas no estado. Destas, 69 aconteceram nos últimos quatro anos – aproximadamente 66%. De acordo com a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), foram 22 óbitos em 2009 e, após isso, a marca só foi ultrapassada em 2016, com 30. Em 2018, foram 33. Este ano, já são seis mortes, todas em Salvador. De acordo com o infectologista Antônio Bandeira, esse aumento de mortes é justificado pela baixa imunização.

“As pessoas se vacinaram nos anos anteriores a 2016 e, com o baixo índice de 2014 e 2015, baixaram a guarda. A quantidade de notícias diminuiu. Com a crise de 2016, todo mundo se vacinou em 2017. E, em 2018, repetiu o erro de se considerar seguro com a vacina do ano anterior”, explica.

O infectologista alerta ainda para o fato de o H1N1 ser um vírus relativamente novo, o que faz com que nosso sistema imunológico ainda não esteja preparado para combatê-lo adequadamente.

Além das seis mortes por H1N1 este ano na capital, há ainda casos envolvendo outros subtipos de vírus que também podem ser letais, como o H3N2 ou determinadas cepas de Influenza B.

Apesar de todas as mortes ocorrerem na capital, Antônio Bandeira explica que isso não significa, necessariamente, que os soteropolitanos corram mais risco: “Há mais notificações porque o fluxo na capital é maior, já que os sistemas de vigilância acabam operando de maneira mais coesa e rápida”.

Fora da curva
Na última década, apenas em três anos, a Bahia não registrou mortes por H1N1: 2011, 2012 e 2015. Nos outros, a incidência variou, alcançando números alarmantes em 2009, 2016 e 2018.

Em 2016, com 30 mortes, a Bahia foi o 10ª estado que mais sofreu com o H1N1. Ano passado, foi o 7º, com 33 óbitos. Segundo dados da Secretaria de Vigilância em Saúde, até o presente momento, já é o 8º estado em número de casos identificados em 2019.

De acordo com o Boletim Epidemiológico divulgado pela Sesab, foram 24 casos reste ano. No mesmo período, em 2018, foram 225 – uma redução de 89,3%. Mas, comparando todos os anos, o atual já é o quinto em número de óbitos.

Para tentar frear o problema, a partir de amanhã, as 128 salas de imunização da rede municipal disponibilizarão as doses da vacina contra a gripe para toda a população, das 8 às 17 horas. De acordo com orientação do Ministério da Saúde, a ação seguirá até o dia 14 de junho. Para consultar os locais de vacinação, basta ir ao site da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e escolher as opções USF e UBS – um mapa mostrará todas as unidades disponíveis na cidade.

Na Bahia, durante a Campanha Nacional de Vacinação contra a Gripe, de 10 de abril a 31 de maio, 71,79% do público-alvo foi vacinado – a meta era 90%. Significa que 2.576.453 de pessoas foram imunizadas. Já Salvador vacinou 81% – 583 mil pessoas. A dose protege contra os vírus H1N1, H3N2 e uma cepa de Influenza B e precisa de um intervalo de duas a três semanas para ativar o efeito.

O período, inclusive, é propenso para buscar a imunização. Isso porque, segundo o especialista, o vírus tem maior número de registros no inverno, que começa 21 de junho, por conta das baixas temperaturas e da maior circulação em ambientes fechados, o que potencializa a possibilidade de contaminação e a expectativa de vida do vírus.

Vacinação pode salvar sua vida
O surto que a Bahia enfrentou em 2018 teve, como uma das causas, o descuido. De acordo com o infectologista, o número de infectados “cresceu absurdamente” porque as pessoas não se vacinaram.

“Em 2017, as pessoas estavam protegidas, acharam que estava tudo bem e até sobrou vacina naquele ano, que foi ofertada para o público fora da campanha. Em 2018, vimos o resultado disso. Menos gente vacinada resultou em mais gente atingida”.

O médico infectologista e professor da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Robson Reis, confirma os benefícios da prevenção: “A vacina é extremamente eficaz. Há uma circulação de boatos que colocam em dúvida a eficácia da prevenção, mas nenhum deles é fundamentado em acontecimentos da realidade”.

Um desses boatos afirma que a própria vacina provoca gripe. “O que é completamente inverossímil. O que há é uma confusão: pode acontecer uma leve rinite alérgica ou coincidir o período da vacina com um resfriado, mas só”, explica Robson. A vacina contra a gripe é feita com o vírus morto – não provoca a doença.

Ainda segundo o especialista, outros boatos associam a primeira dose a uma proteção permanente. A hipótese não se sustenta. Afinal, os vírus da gripe sofrem mais mutações em um dia que os seres humanos são capazes de mudar em milênios. Logo, é preciso tomar a vacina todos os anos.

Primeiro, porque a imunidade da vacina se mantém por um período de aproximadamente 12 meses. Segundo, porque a cada ano surgem vírus diferentes, que causam diferentes tipos de gripe, e a vacina é produzida a partir dos vírus mais propensos a aparecer naquele período.

Segundo Antônio Bandeira, os sintomas da gripe, independentemente do vírus causador, são semelhantes ao de um resfriado normal: dor de cabeça, dor na garganta e indisposição.

O médico destaca ainda que, embora os alvos mais fáceis do vírus sejam crianças menores de dois anos e adultos acima de 60, todos podem ser atingidos.

“O vírus pode pegar qualquer pessoa. Claro que crianças, idosos, pacientes com problemas respiratórios ou doenças crônicas são alvo mais fácil, até pela imunidade mais baixa, mas todos precisam se imunizar”, alerta.

O diagnóstico do vírus influenza é feito a partir da coleta de uma amostra do muco nasal ou oral do paciente, que é examinado em laboratório.

Só o H1N1 mata?
Apesar do histórico de mortes por H1N1 nos últimos 10 anos, existem outros vírus que provocam gripe e também matam. Em 2019, além das seis mortes por H1N1, outras três idosas morreram por H3N2. No último dia 24, foi confirmada a morte de uma criança de dois anos, a primeira por Influenza B. Houve ainda uma 11ª morte por Influenza A não subtipada, mas os dados do paciente e local da morte não foram informados pela Sesab. As informações são do último levantamento da secretaria, divulgado em 31 de maio.

Os três vírus citados são os que mais matam e, por isso, são os combatidos na vacinação. No entanto, não são os únicos que oferecem riscos. Parainfluenza, Vírus Sincicial Respiratório e subtipos que ainda não foram identificados também causam doenças respiratórias.

A indicação neste caso, quando não há imunização, é ter algumas precauções como lavar as mãos, evitar tocar olhos, nariz e boca, manter os ambientes bem ventilados e adotar hábitos saudáveis, com alimentação balanceada e ingestão constante de líquidos.

Conheça os tipos de vírus
H1N1: subtipo de Influenzavirus A e a principal causa da gripe. A letra H refere-se à proteína hemaglutinina e a letra N à proteína neuraminidase. Este subtipo já originou várias estirpes, como a da gripe espanhola, já extinta, e a atual, que surgiu em 2009.

H3N2: outro subtipo de Influenza A, é a segunda estirpe de vírus mais comum no Brasil. Seu nome também deriva das proteínas que o compõem. Historicamente, uma de suas estirpes causou a Gripe de Hong Kong.

Influenza B: é outro gênero da família dos ortomixovírus, à qual pertence o Influenza. Diferente da multiplicidade dos subtipos de A, possui uma única espécie, mas que pode se diferenciar em cepas. A vacina trivalente, disponível na saúde pública, contempla, além dos H1N1 e H3N2, uma cepa. A vacina tetravalente, oferecida no serviço particular, contempla duas cepas de Influenza B.

Parainfluenza: A parainfluenza se divide em quatro sorotipos: hPVI1, hPVI2 , hPVI3 e hPVI4. Pode ser responsável por causar doenças como resfriado comum, pneumonia, bronquiolite e laringotraqueobronquite. A maioria das pessoas se recupera espontaneamente, mas pode ser fatal em crianças abaixo dos seis anos.

Vírus Sincicial Respiratório: O vírus sincicial respiratório (VSR) é uma das principais causas de infecções das vias respiratórias e pulmões em recém-nascidos e crianças com menos de dois anos, e um de muitos vírus que podem causar bronquiolite (infecção dos brônquios, nos pequenos tubos respiratórios dos pulmões).

Curiosidades

  • O primeiro registro sobre a gripe foi feito em 412 a.C. pelo grego Hipócrates, o pai da Medicina. O nome influenza vem do italiano e surgiu porque se achava que a doença era causada pela influência do vento frio do inverno.
  • Os causadores da gripe são classificados como vírus ARN, que tem como material genético o RNA. O importante desta informação é que estes são vírus mais propensos a sofrer mutações genéticas, o que justifica a necessidade de repetir a vacina anualmente.
  • No primeiro registro histórico que teve, quando ocasionou a gripe espanhola, o H1N1 atuava causando uma tempestade de citocinas no organismo. Citocinas são células que sinalizam o alvo a ser combatido pelas células imunológicas. Quando a ação é exagerada – uma tempestade -, estas células podem se acumular no pulmão, obstruindo as vias aéreas, e pode causar morte por asfixia.
  • O H1N1 é conhecido também como ‘gripe espanhola’. Isso porque, em 1918, a Espanha teve um surto que matou 100 milhões de pessoas. A Primeira Guerra Mundial, que terminou no mesmo ano, foi 30 vezes menos letal.
  • H3N2 é também conhecida como ‘gripe de Hong Kong’, após deixar mais de 3 milhões de mortos nos anos 60 – principalmente em Hong Kong e nos Estados Unidos. Os vôos internacionais já eram realidade, o que colaborou na proliferação do vírus.
  • O H1N1, antes de infectar humanos, atingiu suínos. Por isso, em 2009, foi batizado de gripe suína. O vírus não se restringe às vias respiratórias e podem viajar através dos sistemas e se instalar no aparelho digestivo, causando enjoos e diarreia.

Fonte Correio*



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