Inteligência artificial vai permitir “tornar as suas vidas eficientes”

 

Vice-presidente e ‘engineering fellow’ da Google há uma década, Fernando Pereira sempre teve “curiosidade” sobre a inteligência artificial, em que as máquinas comunicam de forma inteligente com os humanos, tema que serviu de tese de doutoramento em 1982.

Sobre eventuais receios acerca o domínio das máquinas sobre os humanos, o investigador classificou-os de “pura ficção científica”.

Os benefícios do desenvolvimento da tecnologia de inteligência artificial vão “permitir às pessoas tornar as suas vidas eficientes nas partes em que podem ser automatizadas e poderem focar-se no essencial da sua vida pessoal e profissional”, considerou.

Isto porque as pessoas “têm tanto em que pensar” nos dias que correm, desde a revisão do carro, as consultas médicas agendadas, o pagamento de impostos ou a lista de compras, entre outras coisas, pelo que as máquinas podem tornar-se numa espécie de “assistentes”.

“Faz-me lembrar a noção, nos tempos medievais, onde o nobre tinha uma série de assistentes que faziam tudo. Essa era uma versão feudal, agora temos estes assistentes, máquinas que podem fazer aquelas coisas para nós”, apontou o investigador, recordando, por exemplo, “a simplificação da vida doméstica” quando surgiram as máquinas de lavar.

“Acho que temos muita burocracia na vida moderna, temos muitas coisas a fazer e se estas puderem ser descarregadas para uma máquina que seja capaz de comunicar connosco será positivo”, considerou, apontado que existem “grandes potencialidades” da inteligência artificial ao serviço de diversas áreas, entre as quais a saúde.

“A inteligência artificial dirigida a objetivos específicos será capaz de melhorar a nossa condição de vida”, afirmou Fernando Pereira.

“Acho que vai haver intensificação” da aposta da inteligência artificial, disse, recordando que hoje em dia as pessoas não dispensam os telemóveis e até mesmo os relógios inteligentes.

“Os métodos que temos para comunicar com as máquinas estão sempre a melhorar, à medida que vamos desenvolvido estas tecnologias vai ser possível ter conversas [com as máquinas] mais extensas”, disse, salientando que atualmente “manter a continuidade” da comunicação entre humanos e máquinas “é ainda difícil para os algoritmos que existem”.

No entanto, “a máquina vai passar a ter uma noção do contexto, do sítio em que estamos” e comunicar, “não da mesma maneira como se tivesse um ser humano comigo”, mas “de uma maneira útil”, ou seja, “temos este assistente constante connosco que nos ajuda”, podendo “devotar a nossa atenção às coisas mais importantes”, prosseguiu Fernando Pereira.

O investigador descartou, contudo, a possibilidade de as máquinas poderem assumir autonomia.

“Não tenho medo dessa maneira, esse tipo de autonomia da máquina é baseada em ideias de ficção científica, não na realidade técnica, que é a de que todos os sistemas que construímos são baseados em princípios bastante simples. Só a máquina ser capaz de manter conexão entre dois a três factos ou peças de informação é suficientemente difícil”, por isso a máquina “ter um plano para conquistar o mundo não me preocupa”, sublinhou.

No entanto, Fernando Pereira tem outras preocupações, que passam pelas “consequências imprevistas das máquinas”, como eventuais discriminações.

“Com a aprendizagem por máquina, a programação é indireta. Eu programo o objetivo principal, mas depois o algoritmo usa os dados de treino para atingir esse objetivo, mas se esses dados de treino estão contaminados com um preconceito”, por exemplo, “pode ser que a máquina atinja o seu objetivo principal à custa de quebrar objetivos secundários que eu nem sequer tinha pensado”, explicou.

Os objetivos secundários correspondem a leis, expectativas da sociedade, dos indivíduos.

Fernando Pereira trabalha na área da inteligência artificial há cerca de 40 anos, tendo feito a sua carreira fora do país, mas se fosse hoje, admite que a sua vida “teria sido diferente”.

“Hoje há muitas oportunidades na área” em Portugal, “há imensa gente a fazer coisas diferentes, tenho acompanhado” o que o país está a fazer, “não tanto como gostaria”, disse.

Ao fim de quatro décadas, Fernando Pereira sente como se tivesse ganhado “lotaria” pela forma como o tema passou a estar na ordem do dia.

“Quando me comecei a interessar pela inteligência artificial não tinha o propósito de ter este impacto prático, era a curiosidade de como uma máquina pode comunicar com o ser humano de uma maneira inteligente”, rematou.

 

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