Quando chorar faz bem: lágrimas de animais podem ter respostas para olho humano

olhos

Na clínica de oftalmologia do hospital veterinário da Universidade Federal da Bahia (Ufba), a professora Arianne Oriá estava acostumada a receber cães e gatos. Até que, um dia, dois pacientes inusitados chegaram para o atendimento: eram jacarés-de-papo-amarelo, moradores do Zoológico de Salvador.

A dupla tinha um problema oftalmológico. Mas, para entender a fundo a situação, era preciso saber como eram os animais saudáveis. Assim, ela começou a estudar os outros jacarés da mesma espécie no zoo.

“Me chamou atenção o fato de que eles passavam até uma hora e meia sem piscar, com a superfície ocular totalmente saudável. Aí veio uma grande pergunta: qual é a composição da lágrima que faz com que o olho fique tão saudável?”, lembra a professora do curso de Medicina Veterinária.

O episódio, em 2009, foi o suficiente para marcar o curso dos acontecimentos a partir dali. O resultado, 11 anos depois, seria uma pesquisa que pode mudar o tratamento até de doenças oculares de humanos.

Na semana passada, o trabalho coordenado pela professora Arianne ganhou as manchetes das editorias de ciência dos principais veículos internacionais, a exemplo do jornal The New York Times, da CNN estadunidense e da revista National Geographic.

No último dia 13, um dos artigos resultado da pesquisa foi publicado pela revista científica Frontiers in Veterinary Science, destacando justamente a similaridade entre a composição das lágrimas de animais e dos humanos, além da possibilidade de os estudos levarem a respostas quanto à cura do chamado ‘olho seco’, que afeta pelo menos 18 milhões de brasileiros, segundo entidades médicas.

As pesquisas compararam 10 espécies de animais, incluindo tartarugas marinhas, corujas, araras, cavalos, cães e o próprio jacaré. A ideia era identificar o que influenciava na composição da lágrima. “Nossos resultados mostraram que a gente tem mais uma modificação da lágrima relacionada ao ambiente do que qualquer outro fator”, diz a professora Arianne.

Uma das novidades é que o grupo identificou, no filtro lacrimal (o nome mais ‘técnico’ da lágrima) dos jacarés, diversas proteínas não caracterizadas – ou seja, proteínas nunca antes descritas em lugar nenhum. Agora, a pergunta é outra: seriam essas proteínas as responsáveis pela “saúde” dos olhos desses animais?

“O que eu quero realmente é encontrar essa resposta, porque eu vejo, hoje, o sofrimento pelo olho seco, na clínica de cães e gatos, e vejo paralelamente nos humanos pelas pessoas que conheço. Essas pessoas têm que se valer de algo para proteger seus olhos e acredito que, depois desses resultados, a gente tem algo muito especial que pode vir daí”, explica a professora.

Fonte: Correio



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