Apenas 30 cidades baianas não têm casos de covid-19, 10 na região sudoeste

Das 417 cidades baianas, 30 ainda não registraram infecções por covid-19, todas com população igual ou menor do que 20 mil habitantes. Essas cidades estão localizadas nas regiões sanitárias do centro-leste, centro-norte, oeste, sul e sudoeste. Só nessa última, 10 cidades ainda não foram contaminadas, cinco na microregião de Brumado e outras cinco na microregião de Guanambi.

Esses dados foram obtidos através de um levantamento do CORREIO com algumas prefeituras municipais e a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab). No último boletim divulgado nessa segunda-feira (29), a Sesab ainda contabiliza 32 cidades não contaminadas pela covid-19. Esse número, na verdade, é menor, pois algumas prefeituras notificaram os casos nas últimas horas, o que deve ser atualizado nos próximos dias no boletim estadual.

Das nove regiões sanitárias da Bahia, quatro já foram tomadas pelo novo coronavírus: Norte, Nordeste, Leste e Extremo-sul. Em todas as cidades que ficam no litoral baiano e na divisa da Bahia com outros estados também foram registrados casos da doença.

Para o professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) e pesquisador do portal Geocovid-19, Washington Rocha, esses dados refletem a interiorização da covid-19 na Bahia. “Percebemos que o histórico de espalhamento da doença se deu a partir de agrupamentos no litoral, que foram crescendo, e depois se espalhou rumo ao interior, principalmente ao logo das principais rodovias”, disse.

O professor prevê que em cerca de 60 dias, todos os 417 municípios serão completamente atingidos. Confira, no final do texto, a lista das 30 cidades sem covid-19 e suas características.

Gavião 
Contrariando todas as expectativas do grupo Geocovid-19, a pacata Gavião não tem casos de coronavírus, mesmo sendo atravessada pela BR-324, uma das mais movimentadas do estado, e cercada por cidades repletas de casos da doença. A cidade é um ponto fora da curva, por enquanto.

“O que temos percebido quando avaliamos a evolução dos casos no interior, é que o vírus se dissemina a partir de vias, ligações e estradas. Gavião fica na beira de uma rodovia federal. É bem provável que seja um caso de subnotificação”, disse Washington Rocha.

Morador de Gavião, Pablo Cunha, 25 anos, disse que as barracas da cidade que ficam na beira da BR-324 estão abertas e caminhoneiros param para fazer refeições. “Lá é vendido artesanato, lanche, café da manhã e janta. Esses dois últimos são muito fortes. Na pandemia, o número de barracas abertas diminuiu, mas elas ainda continuam funcionando, no geral”, afirmou.

A coordenadora da vigilância epidemiológica do município, Diana Moura, confirmou que essas barracas estão funcionando, mas descartou a possibilidade de haver subnotificação na cidade. “Se uma pessoa de Gavião receber atendimento em outra cidade, após a investigação epidemiológica, o caso virá para o nosso boletim. Creio que quando tivermos o primeiro caso, outros virão logo em seguida, pela facilidade de transmissão do vírus”, disse.

O epidemiologista Eduardo Martins Neto explicou que para haver notificação da doença em uma cidade é preciso que sejam cumpridos três requisitos: “Primeiro, tem que ter importação do vírus. Depois, alguém fazendo o diagnóstico e, por fim, alguém que faça a notificação”. Para a vigilância epidemiológica, o primeiro requisito ainda não foi cumprido. “A gente ainda não teve um paciente que chegou na unidade, foi atendido pelo médico e teve, como diagnóstico, a suspeita de covid-19”, disse.

“É preciso entender que a maioria das cidades já tem casos e as notificações crescem no interior. Se os vizinhos de Gavião têm casos, é bem provável que o vírus chegue”, disse o epidemiologista. Localizado no centro-norte baiano, Gavião possui pouco mais de quatro mil habitantes e uma ampla zona rural, onde vive quase metade da população. Lá não tem hospital e os pacientes são encaminhados para o de Capim Grosso, cidade vizinha, que já tem 94 casos da doença, segundo o último boletim da Sesab.

“A baixa população não influencia necessariamente para que não haja casos, pois tem municípios com a mesma quantidade de habitantes e muitos mais casos. É difícil mesmo entender o motivo de uma cidade como Gavião não ter contaminado, já que ela é situada na beira de uma rodovia de fluxo intenso e rodeada de municípios que já tem casos”, disse o pesquisador do Geocovid-19.

Das outras 30 cidades sem registros da doença, além de Gavião, somente Igaporã fica próxima de uma rodovia federal, a BR-430, que não tem fluxo comparável à da 324. A vigilância epidemiológica afirmou que tem investido em ações de comunicação com os habitantes da cidade, orientando como evitar ser contaminado pelo vírus. Também houve fechamento dos estabelecimentos não essenciais, como bares.

Tanque Novo 

Todos os 168 maiores municípios da Bahia já tiveram casos de covid-19. Com 20.403 habitantes, Tanhaçu, no sudoeste baiano, é a 169º maior cidade baiana e sem coronavírus registrado. Logo depois na lista de municípios sem a doença, também no sudoeste, desponta Tanque Novo, que possui 17.366 habitantes.

“Nós montamos um sistema de busca ativa, no qual ficamos sabendo e monitoramos quais são as pessoas que chegam em Tanque Novo. Recebemos sempre ligação de pessoas que relatam a chegada de alguém. Também temos um programa de rádio com boa audiência no qual passamos informativos para as pessoas sobre a doença”, disse o secretário de saúde da cidade, João Carlos, também conhecido como Dãozinho.

A 766 quilômetros de Salvador, Tanque Novo já recebeu mais de 1,5 mil pessoas que chegaram de fora e foram monitoradas pela vigilância epidemiológica. Houve ainda 14 pessoas que tiveram contato com pessoas contaminadas, alguns até que apresentaram sintomas, mas todos testaram negativos

Além de Tanhaçu e Tanque Novo, outras oito cidades da região sudoeste da Bahia não possuem casos de covid-19: Rio de Contas, Érico Cardoso,  Caturama,  Contendas do Sincorá, Lagoa Real, Igaporã, Matina e Sebastião Laranjeiras. “Os municípios da região têm feito um trabalho conjunto para evitar a disseminação do vírus. Fazemos barreiras, interceptamos veículos e todo o processo de monitoramento dos visitantes”, disse Dãozinho.

Para o professor Washington Rocha, do Geocovid-19, duas hipóteses explicariam a ausência de casos nesses outros municípios: “Isolamento geográfico, pois são cidades longe das estradas mais movimentadas e dos roteiros principais de tráfego no estado, e subnotificação, que pode acontecer principalmente onde a rede de atendimento à saúde é precária”.

Confira a lista de 15 cidades sem casos de coronavírus. Ao passar para o lado, você confere quais são as outras 15. Depois, tem um mapa que mostra o local onde estão essas cidades.

*Correio


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