Juntos há 68 anos, casal morre de covid-19 num espaço de 3 dias no ES

Os 68 anos de vida juntos acabaram no espaço de três dias para o casal formado por Florentino Domingos Altoé, 92, e Ana Gertrudes Altoé, 93. Primeiro morreu Florentino no dia 29 de maio, quando ele completou 68 anos de casamento. Três dias depois foi a vez de sua esposa Ana Gertrudes.

Segundo a Gazeta do Espírito Santo, o casal capixaba estava com covid-19 e passaram as últimas semanas internados, em quartos ao lado, mas separados. E se foram sem que um soubesse da morte do outro.

Para os cinco filhos, que se acostumaram a vê-los sempre juntos, o que sobra é a saudade, mas com a certeza de que eles continuam unidos. “A Covid-19 os levou, mas não os separou. Agora estão juntos na eternidade”, observa Silvana Altoé, uma das filhas do casal.

A história de amor de Ana e Florentino começou no interior do Espírito Santo, no distrito de Jaciguá. Lá os avós deles tinham se refugiado quando vieram da Itália. Ainda pequeno Florentino enfrentou outra doença que dizimou muitas crianças, a poliomielite, e que deixou marcas em seu corpo.

Foi no mesmo distrito que ele conheceu a professora Ana e iniciou a sua família. O casamento de Ana e Florentino, segundo a filha, foi realizado às 6 horas, para que eles tivessem tempo de embarcar em um trem para Cariacica, para uma visita ao Convento da Penha, em Vila Velha.

Em 1971, quando os filhos começaram a crescer, eles chegaram a Cariacica e foram morar em uma pequena casa. Alfaiate, Florentino teve que refazer sua clientela. Mas com a ajuda da esposa, que se tornou costureira, conseguiu educar os filhos.

As filhas relatam que o amor e o companheirismo de seus pais era uma marca na família. “Estavam sempre juntos. Assistiam televisão de mãos dadas. Eram muito carinhosos um com o outro”, lembra a filha Elvira em entrevista à Gazeta.

De famílias católicas atuantes em Jaciguá, o casal participou da fundação da comunidade católica de São Judas no Centro de Campo Grande, para onde a família se mudou. Quando chegaram não havia uma unidade na região.

Há alguns anos que Florentino já estava acamado, resultado da síndrome pós-poliomielite, que aparece já na terceira idade, e ainda com Parkinson. Ele já dependia de cuidados até para se alimentar, mas mantinha a mente bem lúcida. Além dos filhos, o casal contava com a ajuda de duas cuidadoras. “Todos estavam tomando muito cuidado para evitar o contágio”, lembra Silvana.

No final de março, quando a pandemia pelo novo coronavírus já tinha sido decretada, Ana Gertrudes foi internada com uma úlcera e sangramentos. Acabou desenvolvendo uma pneumonia, ficou 17 dias internada, sendo onze na UTI.

Um mês após voltar para casa, quando ainda se recuperava lentamente, Florentino começou a apresentar febre, problemas na próstata e pneumonia. “Ele foi internado numa segunda, 18 de maio. No dia seguinte ela começou a ter febres e também foi internada. Ficaram em quartos separados, mas ao lado”, conta Silvana.

Um momento difícil para a família, que se revezava para cuidar deles enquanto estavam nos quartos. Três dos filhos acabaram contraindo o coronavírus. “Para amenizar a saudade do casal, os filhos gravavam áudios de Florentino para Ana e vice-versa”, conta Silvana.

No dia 23 de maio, o casal foi para a UTI sem saber que ambos estavam internados. “O quadro começou a se agravar, eles tiveram problemas renais”, lembra Silvana. No dia 29 de maio, quando completava 68 anos de casado, Florentino perdeu a batalha para a Covid-19. No dia 2 de junho, foi a vez de Ana.

Eles foram enterrados no túmulo dos pais. “Nada separou os dois. Seguem juntos na eternidade”, afirmou Silvana.

*Correio



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