IBGE revela que 780 mil deixaram isolamento no estado em outubro

São oito meses e meio de pandemia do novo coronavírus na Bahia e, seja por motivo de trabalho, necessidade ou para rever os amigos, os baianos estão indo mais às ruas na medida em que algumas atividades são flexibilizadas pelas autoridades públicas e de saúde. De setembro para outubro, 780 mil pessoas deixaram o isolamento social na Bahia, de acordo com a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Covid-19, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta terça-feira (1).

A pesquisa aponta que é o segundo mês consecutivo que a queda entre quem estava rigorosamente isolado foi mais expressiva. Esse grupo reduziu 17,8% e passou de 3,214 milhões para 2,642 milhões de pessoas. Os que só saíam por necessidade também estão em menor número – de 6,396 milhões para 6,184 milhões. Com isso, a quantidade de baianos que flexibilizou o isolamento cresceu 12,5%, passando de 5,071 milhões em setembro para 5,705 milhões em outubro, isto é, mais 634 mil pessoas.

O mesmo acontece com aqueles que não fazem mais restrições. Estes somam agora 371 mil pessoas, frente a 214 mil em setembro – um aumento de 73,4%. Agora, a parcela que não cumpre o isolamento social soma 40,7%, percentual de 35,4% em agosto. Mesmo assim, a Bahia ainda é o segundo maior estado do Brasil com a maior proporção da população em algum nível de isolamento: são 59,1%, dentre os rigorosos e os que só saem por necessidade básicas. O maior percentual de isolamento é o de Sergipe, com 61,4%.

Enquanto isso, a curva de crescimento de novos casos da covid-19 voltou a subir no estado, após certo período de estabilidade. De acordo com o último boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), a Bahia registrou 3.118 novos casos e 25 mortes de covid-19 nas últimas 24h, com uma taxa de crescimento de 0,8%. Desde o início da pandemia, são 8.293 óbitos, 406.189 casos confirmados, sendo 386.676 curados.

Segundo especialistas de saúde ouvidas pela reportagem, o aumento do número de casos está diretamente ligado com a quebra do isolamento e das recomendações, decretos e protocolos sanitários, que foram frequentes, por exemplo, nas campanhas políticas das eleições municipais de 2020. Aliado a isso, o comportamento da população face a flexibilização é de que “liberou geral”. Contudo, na visão das especialistas, a melhor prevenção ainda é se manter em isolado o máximo que possível e distante de aglomerações, além de sempre usar a máscara.

Cansada de ficar em casa

Foi em outubro que Cláudia Lima**, 26 anos, moradora de Feira de Santana, parou de ficar trancada em casa. Ela só saía por conta do trabalho, pois é psicóloga hospitalar, e inclusive foi infectada pelo novo coronavírus em julho deste ano. Mas, a ausência de vida social já estava no limite. “Cumpri a quarentena o máximo que pude. Pratiquei o isolamento social até os infernos mesmo não sendo risco. Mas eu cansei. Já ultrapassei o ponto de não interagir presencialmente”, desabafou pelo Twitter.

A partir daí, Cláudia** começou a sair com as amigas aos domingos para tomar um café. “A gente reparou que não aguentava mais ficar isolada. A gente está em casa e sempre vê alguém numa festinha, na praia, e fica só aqui sacrificando nossa saúde mental e ninguém ligando”, reclamou a psicóloga. Nas saídas, ela pondera que evita aglomerações e mudam de rota quando o estabelecimento está cheio.

Já a estudante de geografia, Monique Silva, 26, saiu do isolamento social entre o final de outubro e início de novembro por motivos de saúde, para fazer exames. Ela mora em Salvador, no bairro Arenoso, mas passava a quarentena em Feira de Santana, no sítio da avó, onde só saía para o supermercado.

“Precisei quebrar o isolamento para fazer alguns exames e preferi ficar com meus pais em Salvador, estava sentindo falta”, contou a estudante. O pai dela, que é vendedor ambulante de sucos e refrescos, também precisou voltar à rotina de trabalho em outubro.

Apesar de os pais não serem grupo de risco, ela tem receio de sair de casa ou de contrair a covid-19 na rua. “Ainda está sendo uma paranoia, fico muito ansiosa, com medo de ser assintomática. São muitas coisas que passam na cabeça quando você sai, principalmente aqui no bairro que circula muito mais pessoas que no sítio e, agora que está aumentando o número de casos. A gente fica apreensiva, mas tentando se adaptar”, narrou Monique. Assim que acabar as consulta médicas, ela diz que voltará para o sítio em Feira.

No caso da jornalista Ingrid Aquilino, 27 anos, o isolamento nunca pôde ser cumprido com tanto rigor, justamente por conta do trabalho. “Sempre precisei sair pelo menos uma ou duas vezes por semana. Nunca consegui cumprir 100%”, afirma Ingrid. Em setembro, ela voltou ao trabalho presencial no escritório, onde é responsável pelo setor de marketing, todos os dias da semana.

Uma das suas principais dificuldades no retorno foi voltar a usar o transporte público. “No começo foi bem puxado. O baque maior foi quando a gente precisou voltar a enfrentar o ônibus e metrô, porque a vida parecia estar normal dentro dos transportes públicos. Hoje está mais tranquilo”, afirma. A jornalista também conta que tem saído por outros motivos, como para shopping centers e casas de amigos próximos, e raramente vai a restaurantes: “Ou você se acostuma ou vive no surto, então precisamos nos acostumar”.

Proteção efetiva

Para a diretora da vigilância epidemiológica da Sesab, Márcia São Pedro, o isolamento social é uma das medidas mais efetivas para conter a transmissão do novo coronavírus. “Quando a gente reduz o isolamento, as pessoas passam a circular em mais ambientes e pode aumentar o número de transmissão, tem uma probabilidade maior de uma pessoa contaminar outras pessoas”, pontuou a diretora. Além disso, ela ressalta que o problema não é descumprir o isolamento, e sim sair de casa sem cumprir os protocolos sanitários: “O cuidado e a responsabilidade precisam ser mantidos, porque a pandemia não passou”.

Ainda segundo Márcia, o crescimento do número de casos visto na Bahia é fruto das aglomerações e desrespeito às normas de saúde, principalmente durante o período eleitoral. “Nossos casos continuam acontecendo e agora está tendo um crescimento, que é reflexo das campanhas eleitorais. Alguns municípios não estavam fazendo teste, estavam fazendo aglomerações, passeata, carreatas, sem uso de máscara. Estamos sentindo um reflexo de um padrão comportamental que aconteceu há 15 dias”, explicou.

Já a médica infectologista da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador, Adielma Nizarala, aponta que a flexibilização e a retomada das atividades comerciais foi entendida pela população de forma errada. “A flexibilização não foi entendida como uma flexibilização pela população. Flexibilizar não quer dizer liberar as pessoas para se aglomerarem, não usarem máscara. Ela acabou achando que estava tudo ok”, avaliou a especialista.

Adielma diz ainda que mesmo com a vacina, é preciso contar com o apoio dos cidadãos até que todos sejam imunizados. “Não temos como passar o resto da vida com as coisas fechadas e mesmo com a vacina, precisamos saber a imunidade que podemos ter, se ela vai ser duradoura”, analisou a infectologista. Até lá, ela pede que as pessoas tenham consciência. “Essa responsabilidade é compartilhada. O gestor tem o cuidado de oferecer as condições de saúde, mas sou eu que tenho que me prevenir e fazer a minha parte”, aconselha. As principais precauções ainda são o distanciamento social de pelo menos 1,5 metro, lavagem das mãos, uso de álcool em gel e máscara.

Outros dados da pesquisa

O levantamento do IBGE também mostrou que o número de estudantes sem atividades reduziu na Bahia, principalmente por conta do ensino fundamental e superior. Já no ensino médio, metade não teve atividades em outubro. Entre setembro e outubro, o percentual de estudantes que não tiveram nenhuma atividade escolar passou de segundo a quarto maior do país. Ainda assim, sete meses após o fechamento das escolas, 29,6% não tiveram nenhuma tarefa escolar, totalizando 1,044 milhão de alunos e alunas.

Além disso, a pesquisa constatou que, até outubro, 12,1% da população baiana (1,806 milhão) tinham sido testados para covid-19, o que representou 1,806 milhão de habitantes. O número cresceu em relação ao último mês, com mais 280 mil testes realizados – um aumento de 18,3% em relação a setembro. Dentre os testados, 1 em cada 5 pessoas testou positivo, isto é, 344 mil baianos.

Outro dado foi que a Bahia foi o estado com maior percentual da população com ao menos um sintoma de gripe no mês de outubro. Foram 754 mil pessoas na Bahia, o que representa 5% da população do estado.

Fonte: Correio



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