Dilma afirma que Eduardo Cunha “age nas trevas”

A presidente afastada Dilma Rousseff (PT) deu uma entrevista exlcusiva ao jornalista Glenn Greewnwald, do ‘The Intercept’. Esta foi a primeira entrevista após ter sido afastada da presidência da República na semana passada. A conversa de 22 minutos mostrou que Dilma está firme, combativa e determinada.

A presidência foi assumida por Michel Temer (PMDB) e, como refere a reportagem, o peemedebista está pessoalmente envolvido em escândalos de corrupção. Temer também foi recentemente multado por violação de leis eleitorais e está por oito anos impedido de se candidatar a qualquer cargo público.

O ‘The Intercept’ avalia ainda que Temer provocou controvérsia internacional ao apontar 23 ministros, sendo absolutamente todos homens brancos, em um país de extrema diversidade como o Brasil. Além disso, um terço dos ministros indicados se encontram sob suspeita em diversas investigações de corrupção.

A conversa com Dilma aconteceu no Palácio do Planalto. Veja alguns trechos da entrevista.

Supremo Tribunal Federal

Greenwald questionou a presidente sobre a legitimidade do Supremo Tribunal Federal. Dilma responde: “Olha, eu acho que as decisões do tribunal têm sido legítimas. O que eu acredito é que o tribunal não vai julgar, não é o Supremo que julga agora o meu processo de impeachment. O processo de impeachment é julgado no Senado, no Brasil. Quem preside a sessão é o ministro presidente do tribunal, o ministro Lewandowski. Então, eu espero que a presidência do Lewandowski dê um rito mais consistente ao processo”.

Lava Jato

Em relação a possiblidade de Temer travar a Operação Lava Jato, Dilma avalia: “Olha, eu acho que essa pode ser uma ameaça, mas eu acredito também que nesse processo da Lava Jato tem muitos atores. Então, eu não acho que seja algo trivial enterrar a Lava Jato. Eu olho com muita preocupação quando se fala em voltar à situação anterior, na qual o Ministério Público não era indicado baseado na lista tríplice e, sim, indicado por razões políticas, o que levou a muitos engavetamentos, né? Tanto que no Brasil se chamava o Procurador Geral da República de engavetador geral da república. A partir do Presidente Lula – e eu dei continuidade a isso – qual foi o procedimento?

Nós escolhemos, dentro de uma lista de três, geralmente o primeiro da lista. Por quê? Porque era dar ao ministério público maior autonomia para investigar, e evitar esses processos de engavetamento. Eu acredito que hoje você tem uma estrutura, tanto do Ministério Público quanto da Polícia Federal, quanto de setores, segmentos do judiciário – por exemplo, o Supremo Tribunal, o Superior Tribunal de Justiça – você tem esses segmentos com muita disposição de aceitar as investigações. Agora, como em todas as instituições, nenhuma instituição está acima da situação política de um país. Todas as instituições sofrem os efeitos da situação política de um país”.

Responsabilidae fiscal

Sobre o crime de responsabilidade fiscal pelo qual é acusada, Dilma explica: “Não, porque não é proibido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. O que que ele chama de pedalada? Chama-se de pedalada um processo chamado Crédito Suplementar. Esse Crédito Suplementar está previsto na Lei Orçamentária, ele é autorizado pela Lei Orçamentária. E em que ele consiste? Consiste no seguinte: se você tiver um excesso de arrecadação específico numa ação de governo, você tem direito de utilizar esse excesso para ampliação deste governo.

Ora, eu te pergunto uma coisa: onde ocorreram esses decretos? Tribunal Superior Eleitoral. O crédito que eu autorizei foi pedido pela Justiça, pelo Tribunal. E este não é um excesso de arrecadação global, era um excesso em cada uma daquelas rubricas, é algo extremamente técnico. Não foi nada feito às escondidas, passou por todos, é uma análise que o Tribunal sempre fez”.

Bolsa Família

Questionada sobre a possibilidade do governo de Temer cortar o progama Bolsa Família e destiná-lo apenas aos 5% mais pobres, Dilma ressalta: “O governo Temer disse que vai focar o Bolsa Família apenas nos cinco por cento mais pobres. Qual vai ser o impacto disso, e como a população vai reagir, na sua opinião?

Eu acredito, viu Greenwald, que a população vai reagir mal. Por quê? Se focar nos cinco por cento, você calcula, num país de 200 milhões de pessoas, 204 milhões, você teria os cinco por cento, seriam 10 milhões. Hoje o Bolsa Família abrange em torno de 47 milhões de pessoas. Porque o Bolsa Família, a gente tem que entender pra que ele é feito. Ele não é feito para o adulto. Ele é feito fundamentalmente para a criança.

Porque toda a condicionalidade desse programa é: levar criança para a escola, vacinar e acompanhar a saúde infantil. Com isso, nós reduzimos mortalidade infantil, com isso nós colocamos na escola crianças que não iam para a escola, porque não tem como fazer política para as crianças, se não fizer para os adultos, para as famílias, para as mães. E isso eu acho que mostra claramente o caráter de retrocesso, de conservadorismo”.

Eduardo Cunha

Greenwald questinou Dilma sobre Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ser seu aliada no início do governo. Dilma foi clara:

“Calma, calma. Ele era meu aliado porque era do partido de centro, o qual, desde 1999, constrói a maioria com os governos. Ele não é do segmento – esse é um partido complexo. Ele não é do segmento, ele não é de um partido ideológico. Então, é pra entender o fato de que dentro desse partido convivem as mais diferentes características. Ele, inexoravelmente, era, entre aspas, meu aliado.

Nós começamos a ter atrito desde o primeiro dia do meu governo, do meu segundo governo. Ao longo do meu primeiro governo, nós tivemos atritos sistemáticos com ele. Então, essa é uma questão que é muito importante de ser entendida, porque ele age nas trevas. Ele é muito bom de agir nas trevas”.

A entrevista completa está disponível aqui.

(Notícias ao Minuto)



Veja mais notícias no blogdovalente.com.br e siga o Blog no Google Notícia