Dizem que ser mãe é padecer no paraíso.
Paradoxal, não é verdade?
A grande questão está no que diz Nietzsche: “As mães, mais que amar os filhos, elas amam-se nos filhos”.
Mas as crianças crescem sem pedir licença.
Quando acordamos, nos perguntamos assustados: como cresceu esse danadinho que eu nem percebi!
Cadê a pazinha de brincar na areia?
Cadê o aniversariante vestido de palhacinho?
Os nossos filhos cresceram e fincaram a bandeira da independência.
Ficamos órfãos dos nossos próprios filhos.
Lá estão eles vestidos com o uniforme da sua geração.
Ali estamos nós com os cabelos esbranquiçados.
Eles saíram do banco de trás e tomaram a direção da sua própria vida.
Eles cresceram e não esgotamos o nosso afeto.
Só nos resta rezar, torcer para que eles façam as escolhas certas.
Basta nascer o primeiro neto, e essa mãe reaparece desempenhando papéis que só ela sabe protagonizar.
O neto é o carinho estocado, não exercido no próprio filho.
Nos netos reeditamos o nosso afeto.
Mas eles também vão crescer e nossa orfandade vai continuar.
Precisamos nos conscientizar que os nossos filhos não são nossos. São filhos da vida. São como navios, eles chegam e se preparam para a saída, para continuar sua viagem.
O porto é seguro, mas o navio não pode continuar no porto. Ele foi feito para singrar os mares.
Quem ama solta a âncora.
Ame seu filho. Solte as amarras.
Gilnês Sampaio
Psicanalista Clínica Didata