Dia Contra a Discriminação Racial: entenda os conceitos colorismo e branquitude

Foto: Reprodução/Jurien \huggins/Unplash

Colorismo e branquitude foram termos que apresentaram um aumento de 70% de busca no Google, em relação ao mesmo período do ano passado. Isso aconteceu em virtude dos debates protagonizados por integrantes do Big Brother Brasil 21. Mas, afinal, o que significam estes conceitos diante da sociedade brasileira?

No Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, 21 de março, o iBahia conversou com a  professora de sociologia e mestranda em antropologia na Universidade Federal da Bahia, Gabriela Bacelar, que explicou estes conceitos.

A questão do colorismo ficou em evidência logo no início do reality show, quando Karol Conká e Nego Di chegaram a questionar a negritude de Gilberto por causa da tonalidade da pele dele. Na ocasião, até piadas foram feitas.

Já a palavra ‘branquitude’ foi bastante usada por Lumena durante toda a participação dela no BBB. Isso ocorreu em momentos em que a psicóloga explicava algumas questões ou quando criticava Carla Diaz.

  • Colorismo

O termo colorismo surgiu em 1982, quando a escritora estadunidense Alice Walker, publicou seu livro “If the Present Looks Like the Past, What Does the Future Look Like?”. Ainda não há uma tradução da obra para a língua portuguesa.

De acordo com a publicação, negros e negras podem ter diferentes tonalidades de pele e isso influencia e/ou facilita uma inclusão ou a exclusão na sociedade. Ou seja, uma pessoa negra com uma pele mais clara teria alguns privilégios diante daqueles que possuem uma cor mais escura, sofreria menos racismo.

De acordo com Gabriela Bacelar, esse termo é muito propagado nas redes sociais desta maneira, mas a professora de sociologia pontua que este tema não nasceu no interior do movimento negro.

Segundo ela, há poucas publicações  acadêmicas brasileiras sobre o assunto. O tema  chegou a ser debatido no livro “Rediscutindo a mestiçagem no Brasil”, de Kabengele Munanga, na década de 90, porém o termo não ficou popular na época e hoje o debate permeia muito no âmbito da internet.

“Eu tenho uma crítica a esse conceito, pois entendo que o colorismo é um marcador de diferença no interior da população negra. Penso que no momento em que a pessoa negra é racializada (processo de atribuir identidades raciais) e sofre qualquer tipo de racismo, ela não está em um lugar de privilégio”, explicou a professora.

Foto: Reprodução/Redes Sociais

Gabriela também pontuou que o conceito surgiu no Estados Unidos, onde ocorreu o apartheid (segregação racial instituicionalizada), onde o fato de uma pessoa ter um bisavó negro já a determina como pessoa negra.

Por isso, a ideia do colorismo é muito aceita no solo norteamericano. Na opinião da pesquisadora, por esses motivos é delicado importar uma teoria ‘de lá pra cá’ sem adaptações.

Segundo a professora,  casos como o de Gilberto, no Big Brother Brasil, onde ele teve a sua negritude questionada, acontecem muito no Brasil, pois ele é extremamente miscigenado.

“Quando pensamos em uma pessoa negra, logo nos vem na cabeça a imagem de alguém retinto, de pele escura, como um estereótipo. Mas, no Brasil, poucas pessoas se declaram negras e há um grande porcentagem de pardos e pardas, negros de pele mais clara. Se fôssemos considerar apenas as pessoa declaradas como negras, os discursos contra o racismo e a luta do movimento negro cairiam por terra”, ressaltou a pesquisadora.

Durante os estudos, Gabriela percebeu que o ponto que pode determinar que  a pessoa se veja ou não como negra é o momento em que há uma racialização. “Quando o indivíduo sofre racismo, ela pode perceber que este é um dos pontos para se considerar negro”, pontuou.

  • Branquitude

O termo branquitude compreende a um lugar de privilégio racial branco, ou seja, aquelas pessoas a cor de pele e que possuem uma identidade social branca ocupam uma posição excludente e restrita diante da sociedade brasileira. Este modelo colabora para a construção e reprodução do racismo.

“A multidão termos raciais que ainda existem, como ‘moreno, escurinho, queimadinho de sol’, são usados para fugir da identidade negra, mas também podemos pensar que eles são para determinar que existe uma barreira na branquitude. Isso constitui o termo como um lugar excludente e exclusivo. Mesmo que a pessoa tenha um tom de pele mais claro, a identidade racial branca não tolera variações, ser branco é ser branco. A pessoa pode até não se considerar negra, mas ela também não pode ser branca”, explicou Gabriela.

A professora pontuou também que, diante de uma sociedade brasileira onde há construção da hegemonia racial branca e o racismo ainda prepondera nas relações, a branquitude é vista como um lugar de privilégio.

“Diante da nossa estrutura social, podemos considerar o lugar da branquitude como um status de privilégio, de controle de poder e, em certa medida, de opressão também”, finalizou Gabriela.

*iBahia


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