Velocista está no meio de polêmica que pode impedir adolescentes trans de competir nos EUA

 

 

Foto Joanna de Assis

Andraya Yearwood vive os dilemas comuns da adolescência, mas nunca teve dúvidas do que queria ser quando crescer. Segura desde pequena de seus desejos, se imaginava como uma atleta de sucesso. A performance como velocista é uma das razões da fama que previa em seus sonhos. Aos 17 anos, ela poderia ser mais uma promessa do atletismo americano, mas é considerada por muitas pessoas uma ameaça ao esporte feminino.

– Na minha vida eu sei de duas coisas: sou uma garota e amo correr. Não vou parar de ser eu mesma. Espero que a próxima geração não tenha que lutar como eu preciso – desabafou Andraya, ao descobrir que um grupo de pais de meninas que também competem no atletismo entraram na Justiça para impedi-la de competir.

Andraya é uma adolescente transgênero – nasceu menino, mas desde os 9 anos se reconhece oficialmente como uma garota. Para iniciar a transição sexual, primeiro uma terapeuta foi consultada. Ainda incerta de como explicar seus sentimentos em relação ao seu corpo e gênero, ela aprendeu o que significava a palavra “transgênero” – uma pessoa que nasceu no sexo oposto ao qual se identifica.

– Nessa época, o terapeuta estava tentando descobrir quem eu era ou quem eu queria ser. Foi aí que ele sugeriu certas palavras que eu poderia usar, que me identificasse. E aí eu pensei, sim, eu sou exatamente isso – transgênero. Foi realmente incrível finalmente poder me chamar de algo e seguir minha vida com esse conhecimento – explicou Andraya em entrevista exclusiva ao Esporte Espetacular.

Antes de vencer nas pistas, a primeira vitória de Andraya foi bem mais simples – conseguir o direito de usar o banheiro e o vestiário feminino da escola que estuda e treina todos os dias na pequena Cronwell, cidade de apenas 14 mil habitantes em Connecticut, estado vizinho a Nova York.

Apesar de ter começado a treinar com 9 anos, Andraya passou a frequentar o mesmo ambiente das colegas somente aos 15, com a autorização da escola que estuda e pratica atletismo todos os dias.

– Nunca sofri bullying, nada disso, na realidade os meus colegas me apoiam, entendem a minha condição. O direito de usar o banheiro das meninas veio no meu primeiro ano. Eles me autorizaram a usar o banheiro e o vestiário. Foi muito empolgante porque me senti muito bem-vinda – explicou.

A história mudou quando ela começou a se destacar nas provas regionais de atletismo do Ensino Médio. Em 2017, Andraya venceu a corrida dos 100m e dos 200m, com os tempos de 12s66 e 26s08. No ano seguinte, no campeonato estadual, Andraya correu ao lado de outra atleta trans, Terry Miller, que ficou com o ouro nos 100m, com o tempo de 11s64. Andraya chegou em segundo, com a marca de 12s29. Para efeito de comparação, o recorde juvenil americano nos 100m, batido em 1995, é de 11s34.

Em fevereiro deste ano, também em uma competição estadual, novamente dobradinha de Terry e Andraya em provas mais curtas – 60 jardas (ou 55 metros).

Nesta última prova, Andraya precisou enfrentar outros adversários – os pais furiosos que discordavam de sua participação nas corridas.

– Eu estava indo apanhar meu número de corrida e aí ouvi duas mulheres falando basicamente que eu não deveria estar competindo. Eu me lembro de ter me virado na direção delas, e uma dessas mulheres repetiu na minha cara. E eu não tive reação, eu só olhei para ela. Mas aí eu me virei e saí andando porque eu tinha que manter o meu foco e pensar na minha performance.

Na ocasião, Terry registou o recorde estadual com o tempo de 6s91. Andraya ficou com a prata, com 7s01. A atleta que ficou em terceiro, que não é transgênero, terminou a corrida com o tempo de 7s23.

Em redes sociais, a atleta publicou relato de contestações que têm sofrido por competir entre meninas. Andraya escreveu: “Nos últimos três anos, tenho competido no atletismo como uma atleta no time feminino. No meu tempo como atleta, tenho encarado muita discriminação entre os competidores, pais, técnicos e estranhos porque eles acreditam que tenho algum tipo de vantagem física e biológica. Muito ódio, realmente, tem mexido comigo mental e emocionalmente. Mas eu quero dizer que estou muito agradecida às pessoas que me apoiam e apoiam as minhas decisões. Sei que sou uma mulher transgênero e, portanto, uma mulher. Mereço correr no time feminino como qualquer mulher. Só espero que as pessoas possam abrir suas mentes em relação aos muitos aspectos que a comunidade trans encara no seu dia a dia”.

Fonte Globo Esporte



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