Advogado José Geraldo Lucas Júnior é suspeito de matar barbeiro em Salvador e teve prisão temporária decretada — Foto: Reprodução/Redes Sociais
O advogado da família de Lucas Souza de Araújo, barbeiro que foi assassinato a tiros em um bar no bairro do Imbuí, em Salvador, afirma que o crime foi premeditado pelo suspeito, o também advogado José Geraldo Lucas Júnior, e que ele não tinha licença de porte de arma.
José Geraldo e o amigo dele, identificado apenas como Jean, estão detidos em prisão temporária desde a quarta-feira (27). Câmeras de segurança registraram toda a ação. As imagens mostram o momento em que José Geraldo atira e mata Lucas.
O advogado Marcos Rodrigues, que está representando a família da vítima, disse que essas imagens reforçam a tese da premeditação do crime.
“Foi algo totalmente premeditado, até porque foram buscar a arma para praticar esse fato, que acabou horrorizando toda a sociedade. As imagens vão acimentar tudo o que as testemunhas, que são os parentes que estavam naquela oportunidade, já deixaram claros no próprio inquérito policial. A tese defensiva de legítima defesa, não podem prosperar, uma vez que ele [José Geraldo] foi o primeiro [a agredir]”, explicou Rodrigues.
“Quem deu o início as agressões foi o advogado [José Geraldo]. Na imagem, deixa de forma límpida toda a trajetória criminosa. Isso para a gente é satisfatório porque deixa a sociedade sabendo de fato o que aconteceu”.
Vídeo flagra momento em que advogado atira e mata barbeiro em bar de Salvador — Foto: Arquivo pessoal
Ainda sobre a tese da premeditação, Rodrigues disse que outro ponto que reforça é que o amigo de José Geraldo foi buscar a arma – que ele não tem licença para porte.
“A pessoa, que sai portando uma arma de fogo para um ambiente totalmente público, que ingere bebida alcoólica, está premeditando algo. Até porque ele não tem porte de arma. Todos nós sabemos que, quem pode usar arma de fogo, se locomover de um lugar para o outro, é a pessoa que tem o porte pela Polícia Federal. Uma pessoa que já anda com arma de forma ilegal, é porque já presume-se que ele está imaginando praticar um ato criminoso”, disse.
“No momento do fato criminoso, ele teve a oportunidade de premeditar. No momento em que ele conversa com o amigo dele, que o amigo se desloca e vai pegar a arma de fogo e retorna, já é a premeditação”.
Outro ponto levantado é que a vítima não teve a oportunidade de se defender. Além disso, José Geraldo também colocou em risco a vida de outras pessoas que também estavam no bar.
“Não houve chance de Lucas e de qualquer outra pessoa que estava naquele ambiente de se defender. É importante deixar claro que quem vai buscar a arma não é o advogado. É o colega, o comparsa quem vai. Quando ele retorna, as testemunhas já dizem que ele vem mexendo a todo momento na cintura. Aí ele encosta no advogado e esse momento seria a oportunidade que ele ofertava a arma ao advogado. Aí o advogado pratica esse crime”.
Cunhada da vítima narra
A cunhada da vítima, que estava no bar e também foi assediada pelo suspeito, deu detalhes de como o caso aconteceu. Rosane Porto falou mais uma vez sobre o assédio cometido por José Geraldo, antes dele atirar e matar Lucas.
“Ele [José Geraldo] estava o tempo todo tentando assediar a gente. A gente ignorou logo de primeira e entrou no banheiro. Logo em seguida, quando a gente utilizou o banheiro, que a gente ia saindo, ele entrou muito rápido, muito próximo de mim, se encostando em mim. Eu achei estranho e fiquei próximo da saída, olhando se alguém poderia me ajudar.”
“Tentei chamar o garçom na hora e fiquei tentando tirar ela [esposa da vítima]. E ele, o tempo todo em cima dela, olhando para ela e falando coisas horríveis. Isso sim foi assédio sexual, porque ele estava toda hora importunando ela e a mim”.Rosane conta que conseguiu chamar o marido dela, que é irmão da vítima. Segundo ela, quando ele e Lucas chegaram ao banheiro, José Geraldo desconversou e negou a situação.
“Eu fiquei chamando meu esposo, que é o irmão da vítima, e na hora que ele entrou para nos socorrer, e meu cunhado – que morreu – também veio para nos socorrer, ele saiu na maior cara de pau. Ele não estava utilizando o banheiro, ele estava o tempo todo imprensando a minha cunhada. Quando meu esposo chegou para nos ajudar e perguntou a ele: ‘O que você está fazendo aqui? Você não está utilizando o banheiro’. Ele disse: ‘Eu não fiz nada’, sendo que ele fez sim”, narra Rosane.
“Ele [José Geraldo] ficou ligando para alguém para poder acobertar ele. Sendo que o tempo todo a gente tinha dito para ele que não queria nada”.
Ela conta ainda que a família pediu ajuda ao gerente do bar, para que José Geraldo fosse retirado do local, porque eles estavam se sentindo ameaçados.
“A gente pediu ajuda ao gerente, para poder tirar ele daquele local. A gente estava se sentindo ameaçado, porque ele não tinha ido embora. A gente resolveu chamar o aplicativo para ir embora. Foi nessa situação que ele saiu do local e tentou agredir o meu esposo com um soco”.
A cunhada da vítima disse ainda que não consegue esquecer o momento que passou, que acabou com a morte de Lucas.
“É muito difícil [ver as imagens], porque foi um momento de terror mesmo. Eu não consigo tirar essa imagem da minha cabeça, da gente estar em uma situação em que a gente não teve como se defender. A gente não foi para esse restaurante com más intenções, armados. A gente foi para se divertir. A gente sempre saiu para aquele ambiente para se divertir, para comer, para beber junto com ele. Para ser alegre, não para pensar que a gente vai criar confusão. Era para se divertir”.
Caso
O caso aconteceu no final da noite de domingo (24). O barbeiro Lucas Souza de Araújo estava no bar acompanhado da esposa, do irmão e da cunhada. No momento em que a companheira e a cunhada foram ao banheiro, José Geraldo e um amigo assediaram as duas mulheres.
Acompanhando a situação, Lucas foi tirar satisfação com o suspeito. Depois disso, acontece a sequência que é mostrada no vídeo. O advogado caminha na direção da mesa em que Lucas estava com a família e começa o tumulto.
O corpo de Lucas foi sepultado na cidade de Santa Inês, na terça-feira (26). No mesmo dia, as prisões temporárias do suspeito e do amigo dele foram decretadas pela Justiça. Na quarta-feira, o suspeito e o amigo se entregaram à polícia, na sede do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
No local, houve um novo tumulto, porque a família da vítima também estava lá. A esposa e a mãe de Lucas desmaiaram e precisaram ser socorridas. Abalado, o pai de Lucas pediu Justiça e apoio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e das entidades de Direitos Humanos.