Escolas de Salvador acendem alerta, e pais relatam preocupação com seriado Round 6

O seriado sul-coreano Round 6, disponível na Netflix, é um fenômeno e está na boca do povo. Lançada em setembro, em poucas semanas, a série já é a mais assistida da plataforma de streaming com 111 milhões de espectadores.

Um sucesso de público, mas também uma preocupação para pais e escolas de Salvador. É que, pela grande repercussão, Round 6, apesar de não ser indicado para menores de 16 anos, está também na boca das crianças e até em suas brincadeiras. O que deixa os responsáveis e os colégios para lá de preocupados já que a série faz uso de brincadeiras infantis para construir uma narrativa violenta em um jogo que dá ao vencedor uma fortuna, enquanto mata os que são eliminados no processo.

De acordo com Elisângela Santos, psicopedagoga do Colégio Montessoriano que já emitiu comunicado alertando os pais sobre, o seriado atrai as crianças por ter em seu roteiro brincadeiras, mas pode ser extremamente prejudicial aos pequenos pelo seu desfecho.

“São brincadeiras exibidas na série que têm um viés até infantil em sua concepção e, por isso, aguçam a curiosidade das crianças, mas que são inseridas em um contexto absolutamente violento, que é inapropriado para crianças e adolescentes. Questiono até se de fato poderia ser assistida por quem tem 16 ou 17”, declara a psicopedagoga.

Além do Montessoriano, o  Colégio Antônio Vieira também encaminhou comunicado aos pais e responsáveis sobre o seriado.
“Como esse conteúdo vem tomando proporção nas redes sociais e também percebemos que vem sendo comentado entre as crianças, durante o recreio e horários livres, convidamos a todos para que fiquem alertas e acompanhem diariamente os conteúdos de acesso de seus filhos, sejam eles em filme, séries, músicas, sejam os conteúdos explorados nas redes sociais”, informa o Serviço de Orientação Educacional do Vieira em comunicado.

O CORREIO, na última edição do fim de semana que foi às bancas no sábado (10), já tinha noticiado em matéria que contou como Round 6 virou um fenômeno que o Colégio Montessori, em Cruz das Almas, fez o mesmo alerta em um comunicado aos responsáveis pelas crianças. “São conteúdos explícitos na série: violência, tortura psicológica, suicídio, tráfico de órgãos, cenas de sexo, palavras de baixo calão, entre outros”, escreve a coordenação pedagógica.

Pais preocupados

Quem concorda com todas ações de conscientização sobre os riscos da série é a funcionária pública Jamile Anjos, 39 anos, que é mãe da pequena Maria Clara, 11, e ficou apavorada quando soube da filha que os coleguinhas estavam assistindo e comentando sobre um conteúdo tão violento. “Vi o que era e fiquei em alerta porque usa brincadeira associada a violência e a gente não quer que nossos filhos vejam. Perguntei sobre e ela disse que a maioria dos coleguinhas tinham assistido ou estavam assistindo. Aí fiquei apavorada, chamei a atenção no grupo de pais e falei também com a escola”, conta Jamile, que agiu para que, além da filha, outras crianças não tivessem acesso a esse tipo de conteúdo.

Na casa do casal de professores Rogenaldo Chagas, 41, e Ana Carolina Chagas, 40, os pequenos não viram e nem vão ver a série, que gera preocupação e já foi pauta do diálogo entre pais e filhos. “Aqui [Round 6] é reprovado por dois motivos: eles não têm idade adequada e é um conteúdo de violência e cunho sexual. A gente abole aqui, por exemplo, qualquer conteúdo que faça apologia a arma, violência e linguagem inadequada. Nós, inclusive, já orientamos eles dizendo que a série não é adequada”, diz Rogenaldo, que é pai de Patrício, 7, e Eva, 6.

Essa é a mesma realidade Gabriela Brito, 9, que, se depender da mãe Isabel Brito, 46, também não verá o fenômeno sul-coreano tão cedo. “Eu procurei saber da minha filha se ela tinha assistido, o que não aconteceu. E, particularmente, não vou liberar para que aconteça. Ela tem apenas 9 anos, está em fase de construção e eu conversei com ela sobre o porquê dela não poder assistir. Falei com ela para alertar até por conta das brincadeiras porque não dá pra pôr a criança em uma redoma e deixar ela sem saber de nada”, fala a professora, que quis informar a filha para que ela não participe nem de brincadeiras ligadas ao seriado.

Violenta e inadequada

Para Elisângela Santos, toda essa preocupação de pais e escolas tem sentido já que a série tem entrado não só no campo de visão das crianças, mas também em suas brincadeiras. “É uma série que não é para criança. Um conteúdo que remete a suicídio, tráfico de órgãos, tortura e violência realmente não é pra criança. E elas estão brincando fazendo referência a série, o que é muito natural porque, nessa idade, a criança é uma esponja que absorve tudo que vê de forma inocente”, relata.

A psicopedagoga diz ainda que os traumas adquiridos da série podem se estender por toda uma vida.  “Os danos psicológicos podem caminhar com esses jovens para o resto da vida. Cenas de violência podem disparar muitos gatilhos. Principalmente, para jovens que apresentam situação de ansiedade e depressão, acho muito perigoso”, alerta.

O próprio Hwang Dong-hyuk, criador da série, disse em entrevista ao jornal O Globo que se assustou ao saber que crianças estavam assistindo.

“Nem pensei na possibilidade de crianças consumirem por essas mídias. Essa obra não é para elas. Estou perplexo que crianças estejam vendo. Espero que os pais e professores ao redor do mundo sejam prudentes para que elas não sejam expostas a esse tipo de conteúdo.”, comenta Dong-hyuk.

O terapeuta infantil Iarodi Bezerra concorda com a inadequação da série para a idade abaixo da sua classificação, mas questiona o que pode ser uma atenção direcionada, que ignora outros conteúdos problemáticos.

“A série é para adultos. Mesmo que se utilize de um contexto com referências lúdicas, não é para criança. Atualmente, crianças e jovens estão em contato diário com conteúdos como Free Fire, Fortnite, GTA, Jogos Vorazes. Todos com nível de violência superior a Round 6. Ressalto que as crianças expostas à violência, podem apresentar sim comportamentos disfuncionais. Neste caso, os pais precisam fiscalizar e filtrar o que os filhos assistem, garantindo um desenvolvimento saudável e evitando desespero em um único conteúdo”, orienta o terapeuta.

Sobre o risco da série induzir violência para os pequenos que a assistiram ou participaram de brincadeiras ligadas a ela, Iarodi descarta essa possibilidade.

“A série não leva a criança a replicar a violência. Não acredito que ela faça isso por si só, é necessário fatores ambientais, sociais, emocionais e maturação cognitiva para que o façam. É só olhar que o conteúdo dos filmes de ação que passam na TV aberta em plena tarde de Domingo não são diferentes da série e não geram o mesmo alarde. O que precisa mudar é a responsabilização dos pais sobre o que os filhos estão vendo.”, afirma ele, que atende crianças com atitudes violentas, mas que não são agressivas por conta destes conteúdos e sim pelo ambiente familiar.

Relembre outros casos que assustaram pais e escolas:

Jogo da Baleia Azul: Disputado por adolescentes através das redes sociais em todo o mundo, o jogo, basicamente, era feito de desafios macabros propostos aos participantes, como automutilação, tentar ficar doente e, como ponto final, o suicídio. No Brasil, houve um caso de suicídio em Mato Grosso e outro na Paraíba que teriam sido causados supostamente pelo jogo.

Desafio da Boneca Momo: Uma boneca induzia crianças e adolescentes a praticar desafios que eram de violência contra familiares e amigos ou a própria criança, afirmando que eles precisavam mostrar coragem para cumpri-los. Se não concluíssem as missões, os participantes eram ameaçados pela boneca. O jogo suicida começava a partir do contato de pessoas desconhecidas com crianças e adolescentes pelo Whatsapp, onde usavam a foto da Momo, uma obra de arte assustadora com os olhos saltados e a boca grande. Pais afirmam também ter visto o desafio no Youtube, que disse não ter encontrado qualquer vídeo da Momo.

Fonte: Correio



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