Governo lança campanha para circos, com Michelle Bolsonaro vestida de palhaça

                                                                 Foto: Reprodução/Instagram

O secretário especial de Cultura Mario Frias anunciou, na noite da última quarta-feira (20/10), o lançamento de uma campanha em prol de grupos circenses itinerantes no país. Em publicação no Twitter, Frias afirmou que os circos são uma área desvalorizada “por não servir ao glamour que movimentava a elite artística que monopolizava as verbas públicas da Cultura”. Na mesma rede social, o secretário escreveu: “O circo tem que ser respeitado. Na minha gestão será prioridade”.

Desde 1991, ano de criação da Lei Rouanet, as artes circenses estão contempladas na política de incentivo à cultura dentro da categoria “artes cênicas”. Proporcionalmente, o setor, de fato, é menos beneficiado que os demais. Mas não porque representa uma fatia menos “glamourizada” das artes, como sugere o secretário.

De acordo com levantamento realizado pela Fundação Nacional das Artes (Funarte) em julho de 2020, há quase 700 circos em atividade hoje no Brasil. Desse total, a maior parte é formada por pequenos grupos familiares, que, quase sempre, não possuem as ferramentas e os conhecimentos necessários para acessar editais e redigir projetos com as formatações exigidas. Essa é a razão para a baixa adesão dos circos à Lei Rouanet, como os próprios artistas reconhecem.

— A maioria dos pequenos circos não é formalizada como empresa e não possui CNPJ. Quando o governo lança um edital pensando nas artes em geral, é muito difícil que algo relacionado a circo seja aprovado. Isso porque falta know-how para essas pessoas tentarem o recurso — avalia Limachem Cherem, diretor da área de circos do Sindicato dos Artistas e Técnicos do Rio de Janeiro (Sated-RJ).

Representantes de artistas circenses frisam que o dia a dia para quem vive de maneira itinerante é muito difícil no Brasil — e que, não à toa, muitas trupes se equilibram na informalidade, em terrenos dominados por milícia, já que não conseguem se viabilizar como negócios legais.

— É preciso lembrar que nem todo circense consegue acessar a internet hoje. Muitos desses artistas nasceram dentro do circo, debaixo da lona, e têm baixíssima escolaridade. Às vezes estão numa praça do interior do país onde não há internet disponível — explica Ana Lamenha, presidente e fundadora da Associação Brasileira de Artes, Cultura e Diversões Itinerantes (Abacdi).

Os detalhes da iniciativa anunciada pelo governo federal, batizada como “Respeitável Circo”, ainda não estão disponíveis para os cidadãos. O GLOBO tentou contato com a Secretaria Especial de Cultura, mas não teve retorno. Não há informações sobre o projeto no Diário Oficial da União, embora a campanha tenha inspirado uma solenidade em Brasília, na noite de quarta-feira, com direito à presença da primeira-dama Michelle Bolsonaro fantasiada de palhaça.

Na ocasião, também estiveram presentes, além de entidades de circo, nomes como Tamoio Marcondes, presidente da Funarte, umas das instituições responsáveis pelo projeto; Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos; e Gilson Machado Neto, ministro do Turismo, ao qual a pasta da Cultura está vinculada. As autoridades fizeram discursos em defesa do circo e receberam artistas que apresentaram números de palhaçaria e malabarismo.

Michelle Bolsonaro tomou o microfone vestindo um nariz vermelho de palhaço. “Meus amigos, meu palhacinhos lindos”, proferiu a primeira-dama, sorrindo para os artistas. “Olha, não aceito fazerem meme com o meu nariz, viu? Com certeza, ministra Damares, vai dar ruim”, avisou Michelle, arrancando risos de seus pares.

Governo distribui cartilha

Durante a cerimônia, o governo compartilhou uma cartilha aos presentes, em documento ao qual o GLOBO obteve acesso. O arquivo pretende esclarecer os direitos e deveres de quem trabalha com circo, apresentando informações que facilitem “o acesso do artista circense a programas de assistência social, de saúde e de educação”, além de “estimular o incentivo à formação de público e auxiliar na redução dos empecilhos burocráticos para a montagem das lonas nas cidades por onde os circos passam”.

Ao longo de 30 páginas, a cartilha exalta a importância cultural dos circos e aponta “uma série de possibilidades de apoio que o poder público e a iniciativa privada podem oferecer aos circos itinerantes”. Num dos trechos, ao reconhecer que há um “excesso de exigências burocráticas dos órgãos públicos e custo elevado das taxas”, além de um “desconhecimento de algumas autoridades sobre a relidade do circo”, o documento sugere o “acolhimento dos circenses, por meio de agentes públicos”.

“Nos municípios menores, recomendamos a existência de um ‘ponto focal’ (alguém capacitado para entender as diferentes necessidades dos circenses e dialogar com as áreas gestoras)”, afirma. Em outro parágrafo, o governo sugere que os municípios criem espaços permanentes para a instalação de lonas circenses.

Distribuição de cestas básicas

A campanha “Respeitável Circo” acontece depois de a classe se reunir com o governo e exigir ações urgentes para quem trabalha com circo neste momento de crise sanitária e econômica. Em setembro, a Aliança Nacional de Entidades de Circos e de Artistas Circenses do Brasil, formada por associações e sindicatos de quase todos os estados do país, promoveu um encontro virtual com Tamoio Marcondes, da Funarte.

Uma das reivindicações do grupo era a distribuição de cestas básicas para artistas que estão passando fome devido à falta de trabalho. O primeiro estado a receber a ajuda foi o Rio de Janeiro, em 22 de setembro, em ação promovida em parceria com o SESC-RJ, por meio do programa “Mesa Brasil”. Até o momento já foram doadas 2.500 cestas básicas

*Reportagem Extra



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