Prisões temporárias de detidos na 27ª fase da Lava Jato vencem nesta terça

Vence nesta terça-feira (5) as prisões temporárias do dono do jornal “Diário do Grande ABC” Ronan Maria Pinto e ex-secretário geral do PT. Os dois são alvos da 27ª fase da Operação Lava Jato e estão detidos desde o dia 1º de abril na carceragem da Polícia Federal (PF) em Curitiba.

As investigações apontam que Ronan recebeu parte de um empréstimo fraudulento feito por José Carlos Bumlai em 2012. Também há indícios de que o dono do jornal tentou obter dinheiro para não publicar reportagens que pudessem ligar o PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ex-ministros Gilberto Carvalho e José Dirceu à morte do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, que ocorreu em 2002. A suposta chantagem teria acontecido ainda nos primeiros anos de mandato de Lula na Presidência.

Já Silvio Pereira, conhecido como Silvinho, é investigado por supostamente ter participado das negociações. Ele também é suspeito de receber cerca de R$ 1,6 milhão da OAS e da UTC, empreiteiras investigadas na Lava Jato.

Com o fim o prazo da prisão temporária, a PF ou o Ministério Público Federal (MPF) poderão solicitar a prorrogação para mais cinco dias ou a conversão para prisão preventiva, que é quando não há prazo para o investigado deixar a carceragem. Caso as autoridades não se manifestem, os presos serão soltos. A decisão cabe ao juiz Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância.

O foco da atual fase, batizada de Carbono 14, é o empréstimo de R$ 12 milhões obtido por Bumlai para pagar dívidas do PT. Desse valor, R$ 6 milhões foram para Ronan Maria Pinto, segundo a polícia. A polícia ainda está investigando o motivo do pagamento.

A operação foi chamada de Carbono 14 porque remete a episódios antigos e não esclarecidos. Bumlai foi preso em novembro de 2015, mas teve concedido o direito à prisão domiciliar, após os médicos detectarem um câncer na bexiga.

As investigações indicam que o valor repassado para Ronan teria sido por meio da empresa Remar, com a qual ele mantinha negócios. Bumlai admitiu em depoimento que fez o empréstimo junto ao Banco Schain, para pagar dívidas de campanha do PT. A quantia nunca foi paga.

O Ministério Público Federal e a PF acreditam que o empréstimo foi concedido a Bumlai como uma espécie de compensação pelo contrato entre a estatal e o Grupo Schain.

Sobre os indícios de que Ronan tentou obter dinheiro para não publicar reportagens sobre a morte do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, a polícia diz que a suposta chantagem teria acontecido ainda nos primeiros anos de mandato de Lula na Presidência.

Durante o depoimento à PF, na segunda-feira (4), Ronan negou saber da origem dos R$ 6 milhões que obteve junto à Remar. Segundo o empresário, a quantia serviu para financiar a compra de uma nova frota para a empresa de transporte da qual também é proprietário. Ele disse que obteve apenas um empréstimo junto à Remar e que quitou a quantia.

A advogada dele, Luiza Oliver, disse que o cliente apresentou documentos para comprovar que fez o pagamento à Remar.

Silvinho nega extorsão
Investigado por supostamente ter participado das negociações, o ex-secretário-geral do PT, Sílvio Pereira foi outro que prestou depoimento à PF nesta segunda-feira.

O ex-secretário-geral do partido confirmou que conhece Ronan Maria Pinto, mas disse desconhecer qualquer tipo de chantagem cometida pelo empresário. Ele também negou saber de fatos que possam ligar o PT, Lula, Dirceu e Carvalho ao caso Celso Daniel.

Silvinho negou qualquer tipo de irregularidade envolvendo a OAS e a UTC, mas confirmou que prestou serviços para essas empresas. Para ambas, ele afirmou que vendeu cestas de Natal. Sobre a vida pós-partido, ele afirmou que trabalha como cozinheiro.

Resumo da 27ª fase:
– Objetivo: descobrir os beneficiários do esquema investigado.
– Mandados judiciais: 2 de prisão, 2 de condução coercitiva e 8 de busca e apreensão.
– Presos temporários: Ronan Maria Pinto, empresário, e Silvio Pereira, ex-secretário geral do PT.
– Conduções coercitivas: Breno Altman, jornalista, e Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT.
– O que descobriu: um empréstimo fraudulento de R$ 12 milhões obtido por José Carlos Bumlai no banco Schahin, em 2004, tinha como um dos beneficiários finais Ronan Maria Pinto, que recebeu R$ 6 milhões.
– O que falta apurar: a razão do pagamento a Ronan Pinto: qual é a relação entre o repasse e o esquema de corrupção em Santo André; para onde foram os outros R$ 6 milhões do empréstimo.

Quem é quem na 27ª fase da Lava Jato:

– Ronan Maria Pinto
Empresário do ABC que atua no setor de transporte e coleta de lixo e é dono do jornal “Diário do Grande ABC”. Em 2015 foi condenado a mais de 10 anos de prisão por ter participado de um esquema de corrupção na prefeitura de Santo André entre 1999 e 2001. O nome dele também apareceu na Lava Jato depois da prisão do pecuarista José Carlos Bumlai.

– Silvio Pereira, o Silvinho
Se envolveu no mensalão do PT ligado ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. O secretário-geral do partido chamou a atenção pela primeira vez em 2005, com a revelação de que havia recebido de presente uma Land Rover da empresa GDK, fornecedora da Petrobrás. Em seguida, ele pediu para se desfiliar do PT e anunciou que abandonaria a política. Antes de ser julgado, fez um acordo para prestar serviços comunitários e não ser preso. O nome dele voltou a aparecer agora, na Lava Jato, em delação premiada do empresário Fernando Moura, que disse que uma vez pegou R$ 600 mil em dinheiro na casa de Silvinho. Segundo Moura, a quantia tinha sido entregue por uma fornecedora da Petrobrás. Em outro depoimento, Moura disse que o ex-secretário-geral do PT recebia “um cala boca” de dois empreiteiros para não falar o que sabia sobre o esquema.

– Delúbio Soares
Era tesoureiro do PT e foi condenado a 6 anos e 8 meses de prisão por corrupção ativa no caso do mensalão. Foi preso em 2013, e em 2014 foi autorizado a cumprir pena em prisão domiciliar. No fim do ano passado, o STF concedeu a ele o perdão da pena.

– Breno Altman
Jornalista ligado ao PT e ao ex-ministro José Dirceu. O nome dele já havia sido citado no esquema do mensalão pela contadora Meire Poza. A PF disse que Altman é o elo entre o PT e Ronan Maria Pinto. Meire disse em depoimento que recebeu do jornalista R$ 45 mil em três parcelas para que fosse feito o pagamento da multa de um dos condenados por lavagem de dinheiro no esquema do mensalão, Enivaldo Quadrado, sócio da corretora Bônus Banval.

*G1



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