‘Paladinos da ética’ estão no listão da Odebrecht

A divulgação da lista com o nome de 200 políticos de 18 partidos beneficiados com recursos da Odebrecht (veja a lista completa abaixo) levantou uma nova dúvida a respeito dos obscuros vazamentos da Operação Lava Jato. As planilhas foram apreendidas há um mês durante a 23.ª fase da investigação que teve como alvo o casal de marqueteiros João e Mônica Santana.

Os documentos foram encontrados na residência de Benedicto Barbosa Silva Júnior, presidente da Odebrecht Construtora. De acordo com a Força-Tarefa, a documentação foi colocada no sistema da justiça federal pela PF na noite de ontem. Os dados foram disponibilizados no inquérito sem sigilo que envolve o casal Santana.

A publicização dos nomes dos políticos coincidiu com a divulgação da intenção dos executivos da construtora de firmar um acordo de colaboração premiada com os investigadores. Em despacho na manhã de hoje, o juiz Sérgio Moro determinou que a lista fosse colocada em sigilo em função da existência de personagens com prerrogativa de foro.

A decisão é oposta a da última semana quando o magistrado tornou público os grampos com diálogos da presidente Dilma Rousseff e do ministro Jacques Wagner com o ex-presidente Lula.

Políticos próximos a cúpula do governo estranharam a decisão do juiz de determinar segredo. A avaliação é que Moro pode ter deixado propositadamente os documentos serem divulgados, assim como as escutas envolvendo o ex-presidente, ou foi pego de surpresa por uma iniciativa da PF de liberar a listagem.

O juiz foi procurado, mas não retornou os questionamentos da reportagem. O documento não deixa claro se os repasses são legais ou se são caixa 2, mas chama a atenção pelo conteúdo. Há a menção a políticos por meio de apelidos e diversos valores aparecem manuscritos, o que seria incomum para um sistema de contribuições legais.

A suspeita é que o executivo da empresa seria o responsável pela contabilidade paralela da construtora. Entre os nomes, aparecem o do principal expoente da oposição, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), do presidente do DEM, Agripino Maia, do líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima, do ex-presidente José Sarney, “vereadores PSDB-SP”, do ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT).

Também surgem na lista o braço direito de Cunha, o deputado federal Paulinho da Força (SDD-SP) e do filho do apresentador Ratinho do SBT, Ratinho Júnior, candidato à prefeitura de Curitiba nas últimas eleições. O apresentador é um “crítico feroz” da corrupção no atual governo.

Pessoas próximas ao executivo Marcelo Odebrecht dizem que o empresário decidiu entregar os nomes de integrantes do governo e da oposição na delação. Nos bastidores, fala-se da possibilidade de entregar doações ilegais a Dilma Rousseff, Aécio Neves e de Marina Silva. Caso se confirmem os repasses, as três chapas poderiam ser cassadas.

A decisão de Marcelo de fechar a delação veio após sucessivas derrotas no TRF da 4ª Região, instância imediatamente superior a Moro responsável por julgar recursos contra suas decisões. Os advogados entenderam que os desembargadores não estariam dispostos a entrar nas questões jurídicas colocadas e encampar todas as manifestações de Moro.

O pai de Marcelo, Emílio Odebrecht, hesitou em concordar com o filho na cooperação com a Força-Tarefa, mas acabou cedendo. Até mesmo uma conversa informal ocorreu com integrantes do primeiro escalão da TV Globo para questionar a postura da emissora na cobertura do caso envolvendo o executivo.

Emílio questionava que a emissora atuaria de forma política prejudicando a discussão judicial nos tribunais. O diálogo não avançou e Emílio cedeu as propostas da defesa de Marcelo. Outra curiosidade da listagem mostra que os políticos eram conhecidos entre os membros da Odebrecht por meio de apelidos inusitados. Cunha é identificado como “caranguejo”, Sarney o “escritor”, e Eduardo Paes era o “nervosinho. (Pragmatismo Político)

 

 



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