Eleições 2020: Apenas 1% dos candidatos possui algum tipo de deficiência

No primeiro ano em que este tipo de informação passou a ser declarada pelos candidatos, dados apurados pela reportagem com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que somente 1,2% dos postulantes a algum cargo nas eleições municipais tem algum tipo de deficiência, somando 6.592 pessoas.
Candidaturas podem ser indeferidas, o que explicaria eventuais variações nesses dados.
Para vereador, foram registradas 6.104 candidaturas, correspondendo a 93% do total de candidatos com deficiência; em seguida, estão prefeito (247) e vice-prefeito (241), representando 3,7%. Candidatos com deficiência física são a maioria, com 47,3%, seguido por 31% que declararam ter outras deficiências, 15,4% de candidatos com deficiência visual, 6% de candidatos com deficiência auditiva e 0,3% com transtorno do espectro autista.


As regiões com mais candidatos com deficiência são, na ordem, Sudeste (2.317), Nordeste (1.543), Sul (1.143), Norte (902) e Centro-oeste (687). Os Estados com mais candidaturas de pessoas com deficiência são Minas Gerais e São Paulo (com 971 e 942, respectivamente).

De acordo com o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são 45,6 milhões de pessoas com algum grau de deficiência no país. Em 2018 houve uma atualização do próprio instituto para dizer que existem mais de 12,5 milhões de pessoas com grande ou total dificuldade nos quesitos investigados. Isso representa cerca de 6,7% da população com deficiência severa.

Em Ribeirão Preto (SP), Mayra Ribeiro tem o desafio de ser uma mulher jovem e com deficiência a disputar o um cargo no executivo. Natural de Jaboticabal (SP), Mayra tem 28 anos, é assistente social e tem deficiência visual. É candidata a vice-prefeita na chapa “Ribeirão Para a Maioria”, do PSOL, encabeçada pelo Professor Mauro Inácio.

Essa é a sua primeira empreitada por um cargo eletivo. Apesar disso, ela é militante experiente e já participou de grêmios e movimentos estudantis, além do MST e do próprio movimento de juventude do PSOL.

“Foi aqui em Ribeirão [Preto], depois de conhecer mulheres em sofrimento psíquico do Hospital das Clínicas, que eu comecei a perceber o quanto é necessário militar e falar sobre os direitos das pessoas com deficiência para além de corrimão e rampa”, conta.

Durante a campanha, Mayra sofreu ataque por ser jovem, mulher e por ter deficiência.

“Você é tão menininha, jovenzinha e bonitinha e está concorrendo a um cargo tão sério” e “quando você estava começando a construir o movimento estudantil eu já estava militando”, foram alguns dos comentários recebidos por ela.

“Como dar um rumo para Ribeirão se essa moça não sabe nem para onde está olhando” foi outro ataque recebido pela candidata à vice-prefeitura nas redes sociais.

“Felizmente, nós, mulheres, agora estamos ocupando esses espaços”, comemora a assistente social.

Baixo interesse pela política

Adriana Dias é pesquisadora com deficiência, doutora em antropologia Pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e foi fundadora do comitê de deficiência da ABA (Associação Brasileira de Antropologia). Ela calcula que, no Brasil, pelo menos uma em cada duas famílias é afetada pela deficiência de alguma forma.

Sobre a baixa representatividade de candidatos com deficiência, a antropóloga identifica alguns motivos: falta de lei, de cota e de representatividade, além da carência do ensino formal.

“A grande maioria das pessoas com deficiência não consegue galgar Ensino Médio e Superior, principalmente as mulheres. Muitas famílias tiram as meninas da escola por medo de que elas sejam abusadas”, conta.

Com uma maioria fora do mercado formal de trabalho e da educação básica e superior, há pouca chance de que essa parcela da população realmente se interesse por política. “Eu vejo que falta uma discussão ampla sobre política e deficiência. Os próprios partidos, inclusive de esquerda, não promovem a discussão e não valorizam a temática”, opina a antropóloga.

Segundo a especialista, a tímida discussão da pauta da deficiência em outros movimentos como feminismo e movimento negro também influencia a representatividade.

“Essa é a grande questão geral que impede um engajamento da população com deficiência na pauta política.”

Adriana diz que existem países mais e menos avançados na temática. Alguns bons exemplos são Canadá e África do Sul. O último tem uma história particular marcada pelo apartheid, regime de segregação racial e que fez com que muitos líderes políticos adquirissem alguma deficiência.

“Lá você tem, segundo o pesquisador Pedro Lopes, muitas pessoas com deficiência ligadas a política de uma forma interessante e produtiva”.

Países com uma democracia mais estável, sólida e respeitada, como Inglaterra, Suécia, Dinamarca, Noruega, Alemanha e Itália, têm pessoas com deficiência em cargos públicos importantes, segundo a pesquisadora.

Fonte: BBC



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