Pesquisadores nordestinos doam pele de tilápia para tratar vítimas de explosão no Líbano; técnica é usada desde 2015

Um grupo de pesquisadores do Projeto Pele de Tilápia, da Universidade Federal do Ceará (UFC), realiza uma mobilização para sensibilizar as autoridades brasileiras para viabilizar o envio de todo o estoque de 40 mil cm² de pele de tilápia para ajudar no tratamento de queimaduras das vítimas da explosão que deixou cerca de 5 mil feridos e mais de 100 mortos, em Beirute, no Líbano, nesta terça-feira (4).

O trabalho é realizado no Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM), que tem coordenação de Odorico de Moraes.

Para poder conseguir encaminhar o estoque de pele de tilápia do Brasil para o Líbano, é preciso que haja um consenso entre as autoridades dos dois países, conforme explica Felipe Rocha, biólogo e pesquisador do projeto.

“Como é um material de pesquisa, os ministérios da Saúde dos dois países precisam se contactarem e autorizarem o envio e o uso. Mas a pesquisa já está bem avançada e os resultados de efetividade de efeito já são comprovados e publicado em artigos nacionais e internacionais”, disse.

Tentativa de ajuda internacional
Esta não é a primeira vez que os pesquisadores tentam enviar o produto para o exterior. De acordo com o também pesquisador Carlos Roberto Paier, em 2019, a equipe tentou viabilizar o envio da pele da tilápia para ajudar vítimas de um acidente ocorrido na Colômbia, mas houve restrições sanitárias daquele país, o que acabou inviabilizando a exportação.

A pele da tilápia é um produto experimental, ainda não autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), motivo pelo qual o envio do material ainda é burocrático.

“É preciso ter uma empresa interessada em fazer a transferência da tecnologia. Se a empresa adquirir essa tecnologia e passar a produzir a pele da tilápia industrialmente, o produto poderá ser comercializado e passará a ser fiscalizado pela Anvisa”, esclareceu.

O tratamento de queimados já é realizado com o uso da pele humana, mas o estoque baixo e as complicações impostas pela pandemia da Covid-19, torna o processo bem mais caro, de acordo com Paier. “Para se ter uma ideia, no Brasil só existem dois bancos de pele humana, em São Paulo e no Rio Grande do Sul”, conclui.

Potencial de regeneração
Estudos clínicos realizados em mais de 350 pacientes, revelaram que a pele de tilápia tem alto potencial de regeneração, abrevia a dor do paciente, além de reduzir a troca de curativos e os custos operacionais clínicos. O seu uso é indicado para tratamento de queimaduras de 2º e 3º graus.

Segundo um dos coordenadores da pesquisa, Edmar Maciel, o tratamento por meio da pele de tilápia funciona como um curativo temporário e evita danos como contaminação pelo contato do ferimento com o meio externo.

“Ele age como curativo temporário que evita a troca de curativo, reduz a perda de líquido e a contaminação do meio externo para dentro da ferida. Dependendo da profundidade da queimadura a recuperação pode acontecer em um intervalo de 2 dias a até um mês e meio”, esclareceu.

Tratamento com a pele da tilápia
A princípio, a pele da tilápia foi utilizada para tratar vítimas de queimaduras. A técnica para a recuperação desses pacientes, desenvolvida pela UFC, chegou a ser exportada e usada para curar queimaduras de ursos na Califórnia.

Também houve sucesso na aplicação em cirurgias ginecológicas, técnica idealizada pelo médico Leonardo Bezerra, professor da UFC. No caso mais recente, o material foi usado em um procedimento inédito para reconstrução vaginal de uma mulher transexual, realizado na Unicamp, em Campinas (SP). Já no Ceará, os procedimentos são realizados em parceria com a Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (Meac).

No Ceará, cirurgias de reconstrução vaginal com a membrana do peixe já foram realizadas em mulheres com síndrome de Rokitansky, agenesia vaginal ou câncer pélvico.

A Agência Espacial Norte-americana (Nasa), como parte do projeto Cubes in Space (Cubos no Espaço), fará testes e enviará amostras da pele do peixe, utilizada especialmente em reconstruções da pele humana, como em casos de queimaduras.

Fonte: Diário do Nordeste

 



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