Com mel que pode custar R$ 300, criação de abelha sem ferrão é feita até em armário de apartamento na BA

Foto: Lílian Marques/ G1

Criar abelhas em casa, no quintal, no apartamento. Sim, isso já é uma realidade em Salvador e em outras cidades baianas, como Mata de São João e São Gonçalo dos Campos. Mas não é uma abelha comum. Chamada de “abelha social” ou do bem, ela tem o ferrão atrofiado e não oferece riscos ao ser humano. Além disso, é nativa do Brasil.

A mais comum das abelhas deste tipo, apelidadas de sem ferrão, é a uruçu. O mel produzido por ela tem encantado os produtores (meliponicultores), consumidores e chefs de cozinha. Na Bahia, o litro chega a custar R$ 300, dez vezes mais do que o mel comum, que pode ser encontrado a preços entre R$ 30 e R$ 50 (o litro).

O motivo? Elas estão na lista de animais em risco de extinção na natureza. Portanto, são raras, o que torna o que é produzido por elas bem valorizado. Com 28% de água na composição, 10% a mais do que o comum, o mel produzido pela abelha sem ferrão é mais fluido, mais claro e tem uma leve acidez.

“Essa especificação de mais água é pela abelha, o homem não tem interferência nisso. E no mel de abelha sem ferrão tem própolis. Tudo que ela faz dentro da colmeia é com cerume [cera mais própolis]. Se ela coloca mel em um pote de cerume, o mel absorve o própolis e fica com frações de própolis de forma natural”, explica o meliponicultor. Pedro Viana, 61 anos.

Litro do mel da abelha sem ferrão chega a custar R$ 600 — Foto: Lílian Marques/ G1

Litro do mel da abelha sem ferrão chega a custar R$ 600 — Foto: Lílian Marques/ G1

Pedro, já foi petroquímico, representante comercial e empresário, mas há dez anos se dedica às abelhas. Ele tem criações no apartamento em que mora, no bairro de Boa Viagem, em Salvador, e em um sítio na Costa do Sauípe, no litoral norte baiano.

“[Quando comecei] comprei quatro matrizes. Depois que você domina, que tem conhecimento, a reprodução é muito fácil. Uma você consegue, de setembro a maio, fazer 15 novas caixas. Você faz quatro divisões nesse período e de uma caixa você faz 15. As abelhas são meu novo desafio”, diz o meliponicultor, que produz cerca de 200 litros de mel por ano.

Pedro Viana [de camiseta amarela] no meliponário em Sauípe, litoral norte da Bahia — Foto: Pedro Viana/ Arquivo Pessoal

Pedro Viana [de camiseta amarela] no meliponário em Sauípe, litoral norte da Bahia — Foto: Pedro Viana/ Arquivo Pessoal

Viana detalha as características do mel da abelha sem ferrão que despertaram o interesse dos chefs da chamada alta gastronomia.

“Por ele conter mais água, propicia a fermentação. Mas a fermentação não evolui até a desmaturação, apodrecimento, algo que venha a desqualificar o produto. Quando ele fica fermentado, acrescenta outro sabor ao mel. E isso deixou os chefes da gastronomia encantados com as possibilidades de combinações que podem fazer nos pratos, sobremesas, drinks e tudo mais. Além disso, é um produto artesanal. Não existe, no Brasil, em escala industrial, ainda”, disse.

Manteiga de mel de uruçu é servida em uma entra com pães, no restaurante do chef Ricardo Silva, em Salvador — Foto: Ricardo Silva/ Arquivo Pessoal

Manteiga de mel de uruçu é servida em uma entra com pães, no restaurante do chef Ricardo Silva, em Salvador — Foto: Ricardo Silva/ Arquivo Pessoal

O produto já é usado em restaurantes da capital baiana e de outros lugares do país. O chef de cozinha Ricardo Silva, do restaurante Carvão, em Salvador, usa o mel da uruçu no estabelecimento dele e diz que o produto é muito apreciado pelos clientes. O chef criou uma manteiga de mel de uruçu, que é servida em uma entrada com pães, e também usa o produto em drinks e refeições.

“Primeiro, uso pela valorização da história das abelhas nativas. A abelha africana foi introduzida aqui no Brasil. Claro que se o mel [da abelha sem ferrão] não fosse muito bom a gente não usaria. Ele tem um sabor diferente, dulçor diferente, são sensações diferentes do mel comum”, disse o chef, que mantém o mel comum em outras receitas.



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