Grupo de mulheres busca ajuda para repatriar corpo de brasileira vítima de feminicídio na França

O feminicídio da brasileira Franciele Alves da Silva, 29 anos, na última sexta-feira (25) em Champigny-sur-Marne, na região parisiense, mobiliza outras brasileiras que tentam ajudar a família da vítima, residente no Paraná, a repatriar seu corpo para Maringá. Detido para interrogatório, o marido da brasileira, Rodrigo Martin, confessou o crime. O marido de Fran, como era chamada nas redes sociais, Rodrigo Martin, de 27 anos, se entregou à polícia na noite de sábado (26), depois de passar 24h foragido. Neste domingo (27), ele permanecia detido para interrogatório. Os dois filhos do casal, de 2 e 4 anos, estão sob proteção da Justiça francesa de menores.

 

O crime aconteceu na noite de sexta-feira (25) no apartamento onde os brasileiros moravam há cerca de dois anos. Alertada por uma vizinha, a polícia foi ao local e encontrou Franciele inerte, com uma faca cravada no tórax e outros três cortes na parte inferior do corpo. Ela chegou a ser socorrida, mas não resistiu. Poucos dias antes da agressão fatal, Franciele compartilhou uma mensagem premonitória: “Não se case com a morte – não adote um barbado. Se relacionar com alguém que só te faz sofrer é se entregar à morte e esperar que ela não vá acontecer”.

A violência do crime chocou grupos de brasileiros nas redes sociais. A militante contra a violência doméstica Nellma Barreto, fundadora do grupo Mulheres da Resistência (Femmes de la Résistence) em Paris, foi procurada por uma amiga da vítima que pediu ajuda em nome da família de Franciele. Ela está em contato com um dos irmãos da vítima, Leandro Gabriel Torres da Silva, que deseja vir à França cuidar da repatriação do corpo e se inteirar da situação dos sobrinhos menores de idade.

“Eles estão completamente desesperados e desnorteados. Até a minha ligação no sábado, a família tinha informações vagas, sabia apenas do assassinato, mas nada sobre o destino das crianças”, contou Nellma à RFI. “É uma família pobre, sem recursos, o pai é idoso, a mãe já morreu, e é o Leandro que está cuidando de tudo”, explicou.

De acordo com Nellma, Franciele tinha confidenciado ao irmão que vivia um ciclo de violência doméstica. “Ela chegou a procurar ajuda em uma Igreja, mas sabemos que na maioria das igrejas evangélicas o pastor manda a pessoa orar e não ajuda a vítima”, lamentou a militante feminista.

Coleta de doações para ajudar família

O relato de Nellma sobre a situação de Franciele mostra as dificuldades que uma mulher pressionada por um companheiro violento e em situação de isolamento pode enfrentar no exterior. “Os únicos parentes residentes na França são a mãe dele, que já morava aqui, e uma prima dele”, soube a militante.

“Ela tinha poucos conhecimentos e, por ser imigrante ilegal, tinha medo de denunciá-lo e ser deportada com os dois filhos pequenos. Ela estava na França há dois anos e estava gostando daqui, porque sonhava em dar um futuro melhor para os filhos. Mas sofria dessa violência. Tanto é que o irmão chegou a tirar o passaporte porque queria vir para cá. No desespero, ele diz que se estivesse aqui, o feminicídio não teria acontecido, que as coisas poderiam mudar”, relata Nellma.

Franciele não trabalhava porque o marido a impedia, ressalta a fundadora do grupo Mulheres da Resistência. “O Leandro contou que o cunhado queria que Franciele ficasse em casa cuidando dos filhos; só ele trabalhava nas obras, na construção civil”, acrescenta.

Nellma lançou uma coleta de doações pela internet para ajudar nas despesas de repatriação do corpo de Franciele e permitir ao irmão Leandro a vir para a França acompanhar os trâmites. O link para contribuições estará acessível a partir desta segunda-feira (28) nas páginas do grupo Mulheres da Resistência (Femmes de la Résistence) no Facebook e no Instagram. “Eu faço um apelo aos brasileiros que ajudem essa família que está desesperada e não tem recursos”, insiste a militante feminista. Em cinco anos, desde que chegou à França, Nellma diz ter prestado assistência a muitas brasileiras vítimas de violência doméstica, mas nunca havia ocorrido um feminicídio.



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