Homens têm 72% das mil melhores notas do Enem, diz levantamento

Foto: Reprodução

Mais de 70% dos estudantes que tiraram as 1.000 maiores notas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) são meninos. No entanto, as meninas são maioria entre os candidatos. Dados tabulados pelo Estado mostram ainda que o total de jovens do sexo masculino se sai melhor nas quatro áreas cobradas pela mais importante avaliação do País. A maior diferença está nos exames de Matemática e Ciências da Natureza.

Os resultados indicam também disparidade de desempenho entre as raças. Garotas negras (pretas e pardas), que são a maior parte dos inscritos no Enem, representam só 6% das notas mais altas. Os meninos brancos são quase 50% dessa “elite” da prova e 15% dos candidatos.

Esse grupo tem perfil semelhante. As idades variam entre 17 e 19 anos, a maioria estudou em escolas particulares e possui renda familiar acima de 10.000 reais. Todos tiraram nota maior que 781,68 em uma escala que vai de 0 a 1.000. “Seria de se esperar que pelo menos no grupo dos 1.000, extremamente selecionado, as diferenças diminuíssem. E as 500 melhores meninas se equiparassem aos melhores 500 meninos”, diz a presidente do Movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz.

Os números são de 2016 e se referem à parte objetiva do exame, que inclui ainda Ciências Humanas e Linguagens. As notas gerais de 2017 – que não permitem esse detalhamento – devem ser divulgadas na quinta-feira. O total considerado é de 4,8 milhões de candidatos. Foram excluídos os treineiros e os que tiveram nota zero em alguma área. O levantamento feito pelo jornal Estado de S. Paulo checou também os 1.000 melhores dos dois anos anteriores do Enem e o padrão se repete.

A análise das notas do grupo todo que fez o Enem mostra que mesmo entre os brancos há diferença de desempenho. Em Matemática a nota de meninos brancos é 52 pontos maior que a de meninas brancas. Com relação às negras, são 81 pontos. Os jovens negros também têm desempenho melhor em Matemática e em Ciências da Natureza do que as brancas e as negras.

Independentemente da raça, homens têm nota 41,8 pontos superior às mulheres em Matemática e 24,3 em Ciências da Natureza, que inclui Física, Química e Biologia. Como a média do Enem é de 500 pontos, a quantidade é considerada significativa por estatísticos. Em Ciências Humanas há diferença de 21,6 pontos no geral, mas o desempenho das meninas é puxado para baixo pelas negras, já que as brancas têm até nota mais alta do que os homens negros. O padrão de notas mais altas dos homens se repete no Enem de 2014 e 2015.

Segundo educadores e pesquisadores ouvidos pelo jornal Estadão, fatores sociais e culturais explicam o pior desempenho das mulheres especialmente em Matemática e Ciências da Natureza. “O que se espera, nas famílias e nas escolas, é que as meninas sejam melhores em se comunicar, em se expressar, e não que elas se saiam bem em Matemática. Essa expectativa sobre elas e delas mesmas influencia muito na aprendizagem”, afirma Priscila.

“A explicação não deve ser buscada na Biologia, embora cérebros de homens e mulheres não sejam iguais. Mas isso não afeta a cognição, em áreas do raciocínio lógico, muito menos na inteligência”, diz o professor titular de neurociência da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Roberto Lent. Para ele, o que mais influência são as posições da família e os estereótipos da sociedade.

*VN



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