Dança com caixão em funeral viraliza na web; veja meme feito em Gana

Em meio à pandemia do novo coronavírus, as pessoas estão passando mais tempo online e, consequentemente, a ‘máquina de memes’ não para. A ‘zuêra’ do momento no Brasil e no mundo é a “dança do caixão”, em que um grupo exibe seu inegável talento carregando um ataúde no meio de um funeral sob um ritmo eletrônico: Astronomia 2K19, de Stephan F..

https://twitter.com/morreuounao/status/1247554594697359367

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As imagens (ver vídeo abaixo) começaram a ser usadas para ilustrar situações do dia a dia durante a epidemia. No meme, o vídeo sempre se apresenta com situações que escondem um acontecimento incerto e cuja resolução intuímos catastrófica.

Depois de alguns primeiros segundos, corta a cena e apresenta os verdadeiros protagonistas da história: os coveiros africanos. Voltamos à situação cômica e, como era de prever, dá errado. Ato contínuo, entram os baixos da canção e aparecem nossos fúnebres dançarinos.

A soma de um humano se ferrando até a sua própria morte, e dos coveiros celebrando com seu caixão no ombro, em puro transe, é uma fonte de piadas inesgotável.

Mas qual seria a origem dessa imagem? Segundo a rede britânica BBC, trata-se de um cortejo fúnebre que aconteceu, de fato, em Gana.

“Os carregadores de caixões elevam o ânimo nos funerais em Gana com danças loucas. As famílias pagam cada vez mais dinheiro pelos seus serviços para que se possam despedir dos seus entes queridos desta forma”, explica um documentário da BBC.

Esta seria uma nova tendência no mercado funerário no país africano, com profissionais fazendo performances de dança durante a cerimônia de despedida. “Quando o cliente vem até nós, perguntamos: ‘Você quer algo solene ou um pouco mais de teatro? Ou talvez uma coreografia?’”, explica Benjamin Aidoo, chefe dos carregadores de caixão, à BBC.

Ele também conta por que decidiu adicionar coreografias e uniformes a seus serviços e diz perguntar a seus clientes se querem que “seja solene ou quer um pouco mais de espetáculo?”.

Uma cliente que contratou a dança diz: “Decidi dar à minha mãe uma viagem dançante para o criador”. A música que estão dançando, tocada pela fanfarra que também é parte do serviço, é jazz africano.

O vídeo dos dançarinos do caixão apareceu pela primeira vez no YouTube em 2015, quando uma usuária precisou viajar para Gana para assistir a uma sessão fúnebre da sua sogra. “Eu testemunhei uma performance incrível! Os praticantes de dança profissionais homenagearam orgulhosamente ‘a casa’ da mãe com movimentos corporais de tirar o fôlego”, publicou ela.

Com a animação, o velório se torna, além de uma despedida, uma celebração da vida do defunto. Os ganenses sempre deram muita importância pública aos enterros que, aos poucos, se transformam em acontecimentos de grande importância e de muito luxo.

O processo de viralização desse meme foi lento. Desde aquele vídeo dos primórdios, postado no YouTube, fazem cinco anos e muita coisa mudou. Em 2019, uma variante ainda mais divertida de sua coreografia se popularizou no Facebook. Aquele vídeo mostrava outro grupo de animadores de enterro portando um caixão, mas virando-o à metade de caminho e esparramando seu conteúdo (sim, o próprio falecido) em frente a centenas de pessoas.

Foi esta peça e não a que finalmente conquistou o firmamento da viralidade e que serviu para o primeiro meme, um postado no TikTok em 26 de fevereiro. O vídeo mostrava um esquiador tentando fazer um salto complexo, perdendo o controle no caminho e espatifando-se previsivelmente no outro lado do montículo de neve. Quando sua “façanha” virou um fracasso total quem aparece são os coveiros. Mas coveiros igualmente fracassados.

O vídeo recebeu mais de 4,5 milhões de visitas em menos de um mês, e foi responsável por uma corrente de réplicas ao longo das semanas seguintes. Não passou muito tempo até que outros usuários optaram pelo vídeo da BBC, bastante mais cômico pela pose dos bailarinos, em vez do postado originalmente no Facebook. A pose dos coveiros desafiantes em frente à câmera, outorgava-lhes um nível superior.

Vale lembrar que a África tem tantas tradições funerárias quanto povos. Entre elas, há os enterros festivos, celebrando a vida, não a morte. Particularmente notórios na África Ocidental, entre populações cristãs e politeístas de Gana e Nigéria – muçulmanos fazem funerais discretos. A despedida vem na forma de grande evento social. Um funeral nesses países, envolvendo música, dança, banquetes, bebida, pode ser mais caro que um casamento, com ricos exibindo sua opulência e pobres, acabando com suas economias. É marcado para o sábado, de forma que os convidados possam chegar e as preparações serem feitas. Durante a semana, o corpo espera no necrotério.

Funerais felizes geralmente se reservam a pessoas mais velhas, que tiveram uma vida realizada e uma “boa morte”. Mortes trágicas e antes do tempo contam com eventos discretos, indicados por uma cruz no caixão e uso de vermelho e preto, as cores do luto doloroso. Funerais festivos usam branco e preto. Às vezes, é os dois ao mesmo tempo: os parentes próximos sofrem e vestem vermelho e preto, os outros festejam. Alguns no próprio país condenam o que enxergam como desperdício.

De acordo com a Folha de S.Paulo, antes da dança viralizar, Gana já tinha fama por seus caixões “fantasia”, representando alguma coisa importante ou simbólica para a pessoa falecida, como carros, celulares, garrafas de Coca-Cola.

A tradição da festa na despedida foi levada da África Ocidental pelos escravos. Pode ser vista nos funerais jazz de Nova Orleãs e as cerimônias do vodu haitiano.

Mas, durante a crise do Covid-19, cerimônias como essa foram banidas e a colorida indústria funerária do país está parada.

*Correio



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