A obra de Niemeyer no Líbano que sobreviveu à guerra civil

Oscar Niemeyer assinou o projeto de cerca de 600 obras, ao longo dos seus 104 anos de vida (1907-2012). Algumas não foram concluídas, mas muitas outras, sim: só no Brasil, 27 construções públicas projetadas pelo arquiteto e urbanista fazem parte do patrimônio histórico do país. Dentre as mais importantes se destaca o plano piloto da capital federal, Brasília, cidade inaugurada em 1960. Não foi só em terras nacionais que Niemeyer pensou seus projetos. O arquiteto carioca possui importantes obras em países da América, da Europa e da África. Nos Estados Unidos, é dele o projeto do prédio da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York. No Líbano, o arquiteto foi escolhido em 1960 para projetar o centro comercial internacional de Trípoli, a segunda maior cidade do país. O país havia há pouco se tornado independente, em 1944, e passava por um momento político e econômico positivo. A obra saiu do papel no início dos anos 1960 e teve sua construção paralisada em 1974, com o início de uma guerra civil no país. Sem nunca ter cumprido a função pela qual foi planejada, o centro foi ocupado por artistas em outubro de 2018. O público que passou a frequentá-lopede a restauração da obra, que está em estado de abandono e ganhou uma exposição em parceria com a Unesco, mesmo com os edifícios deteriorados.

Uma obra em meio a guerra

O Líbano enfrentou uma guerra civil entre 1975 e 1985, e Trípoli sofreu com o conflito. A obra de Niemeyer se tornou abrigo para milícias e alvo de ataques. À BBC, o arquiteto  libanês Wassim Naghi afirmou: “Todos esses prédios que estavam prontos para funcionar nunca foram usados. Há histórias até de execução de pessoas nesse prédio (durante a guerra civil). Dá para ver balas nas paredes”.  A estrutura resistiu às agressões da guerra, mas ficou abandonada com o fim do conflito. O conjunto de prédios de concreto planejados por Niemeyer é chamado de Feira Internacional Rashid Karami, nome de um ex-primeiro ministro da região, e conta com cerca de 15 estruturas espalhadas por uma área de 10 mil metros quadrados. A obra abrigaria congressos e feiras de comércio e tecnologia e foi inscrita em julho de 2018 para se tornar um patrimônio mundial da Unesco.

A ocupação

Desde setembro de 2018 artistas de diferentes países ocupam a Feira com o evento “Cycles of Collapsing Progress” (“ciclos do progresso em colapso”, em tradução livre), um evento cultural organizado para resgatar a edificação do esquecimento e relembrar seu potencial. O evento começou em 22 de setembro e terminou em 23 de outubro, organizado em parceria do Beirut Museum of Art (BeMA) e a organização sem fins lucrativos francesa STUDIOCUR/ART. A exposição contou com 18 projetos, 8 delas encomendadas e produzidas por artistas do Líbano e do México. Segundo o BeMA, o encontro das duas cenas artísticas permitiu a troca de perspectivas geográficas sobre o tema. Como a Feira é considerada um dos mais importantes legados da arquitetura moderna no Oriente Médio, o objetivo da exposição é promover um “diálogo através da arte contemporânea no contexto da exposição, sobre o tempo cíclico e os ciclos de colapso”. É possível ver um trailer da exposição e fotos das estruturas. Sahar Baassiri, que representa o Líbano na Unesco, afirmou à France Presse que a organização está mobilizada. “Pretendemos continuar o trabalho, tendo em vista inscrever o local na lista de Patrimônio Mundial em Perigo, na seção ‘arquitetura contemporânea’”.

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