Moradores da área onde fica a barragem de rejeitos de mineração que foi interditada, no início da semana, na zona rural do município de Maiquinique, no sudoeste da Bahia, denunciam que a empresa segue em operação, mesmo com determinação para não funcionar.
“Ninguém parou. Tá todo mundo trabalhando. O povo está todo aí. Os caminhões estão rodando”, disse o pecuarista Edinilson Silva.
A mineradora foi interditada pela Agência Nacional de Mineração (ANM), na terça-feira (9), após uma avaliação técnica, que classificou a unidade na categoria de risco alto, tornando a represa uma das três de maior ameaça no país.
Neste sentido, a barragem apresenta risco maior que as de Brumadinho e Mariana – onde aconteceram as tragédias que deixaram centenas de mortos em Minas Gerais -, que eram consideradas de risco baixo.
Mineradora foi interditada por risco de rompimento — Foto: Reprodução/TV Sudoeste
De acordo com o relatório técnico de interdição emitido pelos auditores, a mineradora tem gravidade iminente de acidente de trabalho, que pode resultar em morte ou lesão grave à integridade física ou à saúde de cerca de 150 trabalhadores.
Entre os problemas, segundo o documento, está a falta de instrumentos para monitorar a barragem, que tem sinais de falha da estrutura e corre risco de rompimento.
A unidade tem 20 metros de altura e mais de 348 mil metros cúbicos de rejeitos armazenados. A administração do local é de responsabilidade da empresa Grafite Brasil.
Além do descumprimento da determinação da ANM, problemas provocados pela mineradora também são apontados pelos moradores da região, incluindo a poluição do ar e da água. Por conta disso, algumas pessoas chegaram a sair de casa.
Um dos moradores que se mudaram é o aposentado Herozino Pereira. Quando ele começou a morar na região, em 1942, a barragem ainda não estava em atuação. Contudo, ao longo dos 76 anos no local, foi sofrendo com os problemas.
Extração de grafite provoca pó que invade casas — Foto: Reprodução/TV Sudoeste
Há sete meses, o idoso deixou a casa onde morava, contra a vontade, para, segundo ele, preservar a saúde. “Para mim foi difícil, pelo modo que eu gosto daqui. Tinha meu pai, minha mãe, todos sepultados aqui. Eu gostava demais daqui”, disse seu Herozino Pereira.
O filho do aposentado, Heroizo Pereira Filho, conta que o pó proveniente da extração do grafite invade as casas, e que os resíduos liberados pela água que sai da barragem caem no rio que passa na região.
“Tivemos que sair, porque se não saísse, olha a situação que está aqui… grafite cai o dia todo. Não tem ninguém que atenda a gente [na empresa]. Quando chega lá, só tem promessa em vão”, disse Herozino Pereira Filho.
Barragem provoca poluição de rio — Foto: Reprodução/TV Sudoeste
“Eles abrem a comporta lá para soltar a água que eles usam e alaga tudo, espuma a água de produto químico. A água não faz aquilo. Usamos uma água aqui a 4 km de distância, encanada, porque não podemos usar a água do rio”, completou.
A reportagem tentou falar com um representante da empresa, para se pronunciar sobre as denúncias, mas ninguém quis receber a equipe da TV Sudoeste, afiliada da TV Bahia na região
Após a interdição, no início da semana, a Grafite do Brasil emitiu uma nota e informou que desde o acidente em Brumadinho inspeciona diariamente a barragem de Maiquinique, e que, desde fevereiro, implementou plano de ação de melhorias da estrutura e instrumentos para monitoramento da barragem.
A empresa informou também que não há risco de rompimento da barragem, que, segundo ela, segue as leis e normas de segurança.
Aposentado deixou casa por problemas provocados pela mineradora — Foto: Reprodução/TV Sudoeste
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