Salvador bateu o recorde de crianças internadas em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por complicações da covid-19.
Segundo boletim da Secretaria Municipal de Saúde desta quarta-feira (9), 24 leitos estão ocupados nos dois únicos hospitais da capital que tratam pacientes infantis com a doença.
De acordo com o Correio, o número é o maior desde abril de 2020 e representa ocupação de 80% das 30 vagas disponíveis no município.
O dado mostra ainda que, mesmo com o aumento no número de leitos disponíveis na cidade, a taxa de ocupação tem escalado.
Em dezembro do ano passado, Salvador possuía 20 leitos de UTI pediátrica para tratamento da covid-19. Esse número aumentou para 29 na última semana de janeiro deste ano.
Simultaneamente, o número de crianças com quadros graves da infecção pelo Sars-Cov-2 vinha oscilando nas primeiras semanas do ano entre 17 e 19, até que bateu o recorde nesta quarta-feira.
Em outras quatro ocasiões, o número de crianças internadas em leitos intensivos chegou a 22: Em 15 de setembro e 20 de dezembro de 2020; além de 6 de janeiro de 2021, quando a capital possuía 27 leitos destinados a este público. A última vez em que o número foi alcançado foi na segunda-feira (07).
O subsecretário de Saúde da capital, Décio Martins, diz que o aumento no número de crianças hospitalizadas é grave.
“Estamos vendo isso com muita preocupação, tanto que, na semana passada, dobramos a capacidade de UTI que nós tínhamos. Abrimos mais 20 leitos de clínicas médicas pediátricas e mais 10 leitos de UTI. Dos 30 da capital, 20 são de gestão do município e 10 do estado”.
No momento em que a covid-19 se alastra entre pessoas mais novas, a vacinação das crianças de 5 a 11 anos ainda patina, principalmente no interior.
Na capital, até esta quarta, 87.550 tinham sido imunizadas com a primeira dose, o que equivale a 50% do público alvo da campanha.
“O número de vacinados é expressivo, mas, por outro lado, ainda temos 92 mil crianças que poderiam ter se vacinado. Por isso, pedimos ao pais e mães que levem seus filhos para tomarem a vacina. A vacinação não está indo mal, mas obviamente pode melhorar. Nossa intenção é sempre conseguir vacinar 100% da população”, afirma Décio Martins.
Crianças são o novo alvo da Ômicron
“As crianças são a parte fraca do elo da cadeia de transmissão da covid-19, porque não foram vacinadas e estão vulneráveis. Além disso, boa parte delas, as menores de 2 anos, não podem usar máscaras”, explica o imunologista e pediatra Celso Sant’Anna.
Além de estarem sujeitas à casos graves por não se vacinarem, as pessoas não imunizadas acabam contribuindo para a aparição de novas variantes, uma vez que o vírus precisa se instalar no corpo humano para de multiplicar e, assim, fazer mutações.
“Elas funcionam como um reservatório importante do vírus na cadeia de transmissão da doença, possibilitando, a partir delas, o surgimento de novas variantes. Então, é preciso aumentar rapidamente o número de crianças vacinadas para que a gente contenha essa pandemia em uma estratégia coletiva”, destaca o médico.
Celso Sant’Anna ainda ressalta que a vacinação não oferece riscos suficientes para que sejam motivo para a não imunização deste grupo,
“Não podemos relaxar com a vacinação. As crianças não são cobaias e as vacinas são seguras. Já se vacinou mais de 250 milhões de crianças no mundo, com um número baixíssimo de efeitos colaterais”.
O virologista Gúbio Soares também destaca a importância da vacinação, mas explica que ela não é capaz de prevenir a infecção, mas sim quadros sérios da doença,
“É lógico que a vacina não vai evitar que as crianças, ou qualquer indivíduo, tenha a infecção, mas evita que a criança vá para a UTI e fique entubada, causando risco à sua vida”.
Desde o início da pandemia no Brasil, em março de 2020, 43 crianças, entre 1 a 9 anos, morreram na Bahia devido às complicações da covid-19.
Bahia possui taxa de ocupação de 77%
A taxa de leitos de UTI com crianças internadas por complicações da covid-19 também é grande na Bahia. Mesmo com a abertura de mais 15 vagas desde o dia 5, a taxa de ocupação está em 77%. Segundo a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), não há previsão de abertura de novos leitos.
Os dados sobre a vacinação entre as crianças de 5 a 11 anos também não são animadores em território baiano. Apenas 16,32% das crianças começaram o ciclo vacinal, o que representa um pouco mais de 240 mil.
Os municípios baianos com mais casos confirmados de covid-19 em pacientes pediátricos são: Salvador, Feira de Santana, Vitória da Conquista, Itabuna, Camaçari e Lauro de Freitas.
No Brasil, o percentual de imunização de crianças de 5 e 11 anos tem São Paulo na liderança, com 48,7%, seguido de Distrito Federal (34,8%) e Rio Grande do Norte (26,6%).
Ao todo, 19% dos integrantes desta faixa etária tomaram a vacina anticovid no país, segundo dados desta quarta do Consórcio de Veículos da Imprensa com base nos boletins das secretarias estaduais.
A Ômicron representa um risco para às crianças?
Sim. Como se aumentou a taxa de vacinação em adultos, o vírus procura se adaptar e sobreviver naqueles que não estão vacinados, no caso, as crianças.
Também pode aparecer uma nova variante, porque o vírus encontra facilidade em se multiplicar em crianças;
Qual é o tempo médio de internação de crianças por covid-19?
Ainda é cedo para responder, porque os internamentos aumentaram agora. Estamos vendo os efeitos dos vírus, então ainda é prematuro para dizer se são 10 ou 20 dias de internação.
Cada caso é um caso, tem crianças, por exemplo, que têm a imunidade comprometida por causa de outras doenças;
As vacinas são seguras?
A vacinação é segura para as crianças. Os Estados Unidos é um dos países que tem mais vacinado e não vemos falar em casos de comprometimento de crianças.
Os pais podem levar as crianças para se vacinarem e isso é uma ajuda que eles estão dando para a sociedade;
Como o senhor vê a volta às aulas das crianças neste momento da pandemia?
Os protocolos seguidos pelas escolas são relativos, porque é difícil aplicá-los em crianças. Elas gostam de brincar juntas, então o ideal é que elas estejam vacinadas pelo menos com a primeira dose.
O ideal seria que as aulas voltassem só em março e não agora, porque vacinando agora, teria um prazo de 15 a 20 dias da primeira dose e isso ajudaria
*Correio