Joias, dinheiro, calcinha e lixo; o dia seguinte da festa de Iemanjá

Três meninos franzinos são vistos na praia em frente à Colônia de Pescadores, no Rio Vermelho. Descalços, ladeiam as pedras à procura de presentes rejeitados pela Rainha das Águas. Vasculham todo o espaço e examinam a água, que já não está tão cristalina. Quando encontram algo que os agradam, vibram com o achado. E tem de tudo: batom, cordão – de conta e folheado a ouro -, barquinhos, pentes e espelhos.

Nas primeiras horas deste sábado (3), a maré baixa revela os mimos entregues no dia anterior e que, dizem os mais religiosos, são rejeitados por Iemanjá. Os devotos dizem que só retornam aqueles presentes oferecidos por filhos que não souberam se comportar durante o ano.

A garotada parece não se preocupar com as forças superiores e não se importa em levar para casa as oferendas. “Será que não tem medo de tomar uma rebordosa?”, pergunta uma senhora, na beira da praia, ao avistar os meninos. “É para fazer uma oferenda mais bonita”, justifica um deles, antes de tomar o rumo de casa, no Vale da Muriçoca.

Medo coisa nenhuma. “Se está na areia ou nas pedras é porque Iemanjá não fez muita questão do agrado”, explica o pedreiro Manoel Cerqueira, 50 anos, que, assim como os moleques, iniciou sua busca às 9h30. Pouco tempo depois, já exibia os objetos encontrados: um batom, um esmalte, um cordão e R$10.

Tudo, menos o dinheiro, vai agradar uma outra sereia, tão vaidosa quanto Iemanjá. “É para a minha mulher. Mas ela nem agradece, já vai logo pegando e dividindo com as irmãs”, lamenta Manoel. Este ano, os achados não foram lá essas coisas se comparado a anos anteriores quando Manoel chegava a levar para casa cordões de ouro.

Minha oferenda, não
A família Jesus chegou ao Rio Vermelho para depositar o balaio. Nenhuma das quatro irmãs conseguiu ir à praia nesta terça-feira (2). Ao pisar os pés na areia, elas, já cientes da movimentação do dia seguinte, colocaram a oferenda no mar, tratando de acompanhar o movimento da maré que levou o presente para longe das pedras. “Não levaram porque a gente estava reparando”, disse a dona de casa Helena de Jesus, 52.

Para Helena, mesmo que os meninos levassem embora a oferta, a missão já teria sido cumprida. “Não existe isso. É a força da maré que traz de volta. Eu acredito que tem muitas oferendas que nem precisam ir para lá (mar) para ser aceita. Já vale só o fato de arriar”, completa Helena.

Limpeza
Tudo o que retornou da festa, por sua vez, foi recolhido pelos 154 agentes de limpeza da Empresa de Limpeza Urbana do Salvador (Limpurb) que começaram a deixar a praia limpa ainda na sexta. De acordo com a assessoria da Limpurb, os primeiros agentes chegaram ao Rio Vermelho, às 23h, logo após o final das cerimônias religiosas. Permaneceram por lá até as 8h deste sábado (3).

O agente de limpeza Ademir Santos, 50, com ajuda de uma pá, retirou todo o lixo recolhido e empilhado próximo à Colônia de Pescadores. Em menos de 30 minutos, ele conseguiu levar até o caminhão de lixo cerca de 30 sacos plásticos lotados de sujeira. No total, ainda de acordo com a Limpurb, os profissionais retiraram cerca de 53 toneladas de lixo. Também foram utilizados dois caminhões-pipa para lavar as calçadas do bairro.

Dos objetos mais estranhos encontrados por Ademir estava uma calcinha. No entanto, Ademir não soube dizer se a peça intíma era, ou não, uma oferenda. “Rapaz, não sei, não. Acho que foi alguém que estava passando e largou a calcinha por aí”, brinca o agente.

Balanço da polícia
Neste sábado (3), a Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA) informou que a festa deste ano teve uma redução de 14% no número de furtos. Foram 49 contra 57 no ano passado. Três pessoas foram presas em flagrante, e houve ainda quatro casos de perda de documentos.

A polícia iniciou o patrulhamento especial às 23h de quinta-feira (1º), já prevendo um maior fluxo de pessoas. Em 2017, a operação começou à meia-noite.

 

*Correio24h



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