Bahia tem apenas 20 cidades sem mortes por covid-19

 

Após quase 10 meses de pandemia, sobraram apenas 20 cidades na Bahia que não registraram mortes por covid-19. A estimativa foi levantada pelo CORREIO com os dados abertos da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) e confirmado com os boletins epidemiológicos emitidos pelas prefeituras. Todos os municípios, sem registro de óbitos, possuem características em comum: são pequenos, apenas um com mais de 20 mil habitantes, e com baixa infraestrutura de saúde.

Esse é o caso de Novo Horizonte, escondida na Chapada Diamantina, a mais de 500 quilômetros de distância de Salvador. A cidade já tinha entrado para a história por ser a última de toda região Nordeste a registrar um caso de covid-19, fato que só veio a ocorrer no dia 22 de setembro, segundo os dados da Sesab. Foram mais de seis meses livre do coronavírus e, se pelo menos depender do que espera o prefeito Djalma Abreu dos Anjos (PP), a cidade não verá mortes por causa da doença.

“A minha meta é passar por isso, até vir uma vacina, sem ter que registrar nenhum óbito no município”, diz o gestor. Para conseguir isso, o prefeito conta com a localização geográfica privilegiada de Novo Horizonte, cortada apenas por uma rodovia, a BA-152. “O fluxo de carros aqui é pequeno e isso ajuda muito. Para chegar até a entrada principal do município, o motorista ainda tem que passar por Ibitiara, que também fica na BA-152. Ou seja, nós somos a última cidade da estrada, a mais escondida”, explica.

Mesmo assim, o prefeito garante que o local onde a cidade está no mapa não diminuiu os cuidados da população de 12,5 mil habitantes para não se contaminarem com o vírus. “A dificuldade que nós temos, como em qualquer lugar, é com o pessoal mais jovem, que não quer distanciamento e uso de máscara. Mas os adultos e idosos são melhores. Nós continuamos com o trabalho de desinfecção e com a barreira sanitária funcionando”, conta Djalma.

Outra cidade que está com fiscalização na entrada do município e 24h por dia, segundo o prefeito Fernando Teixeira (PT), é Abaré, localizada no norte da Bahia, já na divisa com Pernambuco, a cerca de 550 quilômetros de distância de Salvador. “Nós sempre focamos em prevenção e cuidados. A barreira impede que pessoas com sintomas entre no nosso meio, como já tentaram. Temos quatro grupos que se revezam lá durante 6h cada”, diz Teixeira.

Abaré é a única cidade da lista que possui mais de 20 mil habitantes, são 20,3 mil, no total. Lá, 156 pessoas já foram contaminadas com o vírus, segundo a Sesab. “O caso mais grave foi de uma pessoa que nem era da cidade e, sim, de Belo Horizonte. Ele estava viajando, foi abordado pela barreira e estava contaminado”, explicou o gestor. Ao contrário de Novo Horizonte, Abaré é cortada pela maior rodovia brasileira, a BR-116, o que aumenta o fluxo de pessoas na cidade e costuma ser um fator que gera crescimento no número de casos.

Subnotificação 
Para o professor Gesil Sampaio Amarante, da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) e membro do grupo de estudos Geovid-19, a baixa população dessas cidades é um fator que contribui na ausência de óbitos, mas é preciso levar em conta o problema da subnotificação. “É importante lembrar que a gente nunca sabe exatamente o número de infectados, pois existem casos que não são notificados, não chegam aos conhecimentos das autoridades de saúde. É mais difícil ter subnotificação de morte, mas tem casos de pessoas que foram buscar atendimento médico em outra cidade e o óbito acaba não sendo registrado no local de residência do doente”, explica.

Esse tipo de erro na notificação apontado pelo professor acontece atualmente. O boletim da Sesab, por exemplo, aponta que 27 cidades não registraram óbitos, mas o CORREIO confirmou que pelo menos sete dessas já tiveram alguma morte, o que reduz o número de municípios sem morte para 20. Por exemplo, Antas, no nordeste da Bahia, teve apenas uma morte, que aconteceu no dia 9 de agosto de 2020, mas que na declaração de óbito aponta Tucano como município de residência. Por esse motivo a morte foi declarada como sendo da cidade vizinha, pelo menos no boletim estadual.

Nova gestão 
Nas cidades de Novo Horizonte e Abaré, os prefeitos que tomaram posse no início de 2021 são os mesmos que estavam no cargo no ano passado, o que não muda a forma como as prefeituras lidam com a pandemia. Mas nem todas 20 cidades baianas sem mortes tem essa realidade. Esse é o caso de Cipó, de 17 mil habitantes, localizada no nordeste da Bahia. Lá o atual prefeito Marquinhos do Itapicuru (PDT) venceu o anterior Abel Araújo (PP) nas eleições de 2020.

Mudou o prefeito, mas a meta de não ter óbitos por covid-19 na cidade continua a mesma, garante Marquinhos. “Estamos reestruturando o centro de covid-19, visando apoiar à população com a realização de testes e identificação precoce de casos positivos”, disse o prefeito, que pretende ainda realizar parcerias com Guarda Municipal e Polícia Militar para fiscalizar e evitar aglomerações na cidade.

Das cidades sem mortes, Cipó é a que tem mais casos confirmados de covid-19. São 312, no total. Estatisticamente, por a taxa de mortalidade da doença ser de 2,53%, em tese, dos 312 infectados, oito pessoas morreriam em Cipó, calculou o pesquisador Gesil Sampaio. “Mas na prática não é bem assim, pois existem outras varianças. Para compensar esse dado, em outro lugar morreu mais do que a média. Mas aí reforço que é preciso lembrar que pode ter gente que morreu e não foi registrado como covid e isso tende a acontecer mais em cidade pequena pela ausência de infraestrutura de saúde, de testagem”, explicou.

Fonte: Correio

 



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