Pequenas empresas levam internet para longe dos grandes centros

No Brasil, há 2,2 mil provedores de internet licenciados, de acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). No entanto, a maioria é desconhecida para boa parte da população do país – ainda mais para quem vive em grandes cidades, onde a oferta de serviços de internet fica na mão de poucas empresas.

De acordo com provedores da Bahia, de Minas Gerais e do Paraná, a excelência no atendimento é o maior diferencial para vencer a concorrência das grandes operadoras e de quem vende internet fixa de forma clandestina.

Na década de 90, quando a internet surgiu no Brasil, os provedores eram os responsáveis por conectar os usuários à internet. As empresas de telefonia levavam os cabos até a casa do cliente, mas eram proibidas por lei conectá-los.

Em 2013, a regulamentação foi derrubada e as operadoras passaram a vender não só a infraestrutura mas como o acesso à internet também. “Os provedores tiveram que se reinventar. Hoje, são operadoras”, afirma Erich Rodrigues, presidente da Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint). É por isso que, hoje, quem mora em metrópoles costuma conhecer apenas três ou quatro empresas que oferecem esse serviço.

Mas, de acordo com Rodrigues, os provedores regionais têm uma característica em comum: 78% das operadoras licenciadas são pequenas empresas enquadradas no Simples. Ou seja, faturam menos de R$ 3,6 milhões por ano. Metade das 2,2 mil companhias que têm o aval da Anatel para funcionar, aliás, atuam em apenas um município brasileiro.

Atualmente, de acordo com o presidente da Abrint, as operadoras estão trabalhando para oferecer mais planos de fibra ótica, com velocidades que podem chegar a 100 megabits por segundo. Além da fibra, os provedores oferecem planos por internet a cabo e por rádio.

Os valores dos pacotes dos pequenos provedores são similares aos praticados por operadoras mais conhecidas, mas com um atendimento melhor que o prestado por elas. “As pequenas empresas do setor estão próximas aos assinantes e conseguem resolver os problemas com mais facilidade”, afirma.

Sem atendimento automático
Quando o cliente de uma grande operadora precisa de ajuda, ele provavelmente terá de enfrentar um atendimento automático e esperar alguns minutos antes de falar com um atendente de verdade.

Os clientes da Ampernet, no entanto, não precisam passar por isso. “Nosso serviço de atendimento não têm robôs, só pessoas. Isso faz com que o contato com os assinantes seja mais humano, mais próximo”, diz Thiago Luquini, 33, presidente da empresa.

A sede da Ampernet fica em Ampére, município de pouco mais de 18 mil pessoas no sudoeste do Paraná. Criada há 18 anos, a empresa está hoje em 30 pequenas cidades da região.

De acordo com Luquini, os contatos dos clientes vai além das dúvidas e problemas com a internet. “Eles ligam aqui para perguntar sobre qual modelo de televisão comprar. Pedem até ajuda para usar o Netflix. E nós não os deixamos na mão.”

Sobre a disputa com grandes empresas, Luquini não se assusta. O empreendedor afirma que a Oi está em todos os municípios em que a Ampernet vende planos de internet e enfrentar a concorrência não é um problema. “Temos preços competitivos e um atendimento melhor”, diz.

Hoje, a Ampernet tem pacotes de internet que começam em 3 megabits (a rádio, R$ 76 ao mês) e chegam a 100 megabits (por fibra ótica, R$ 344 ao mês).

Pioneirismo
Chegar primeiro e estabelecer uma relação com a população local são caminhos que os pequenos provedores costumam tomar. É o caso do baiano Maurício Andrade, 50, empreendedor que atua neste mercado. Ele fundou, há 21 anos, a MMA Internet e Sistemas. A empresa fica em Santo Antônio de Jesus, no Recôncavo Baiano.

Andrade é formado em análise de sistemas e, no começo dos anos 90, tinha o hábito de desenvolver bulletin board systems (BBS), um sistema informativo que usava uma linha telefônica para a transmissão de mensagens por computadores. O BBS é considerado uma versão rudimentar do e-mail.

Naquela época, somente computadores em universidades tinham acesso à internet. “Eu descobri a internet na Universidade Federal da Bahia e concluí que a web traria boas oportunidades de negócios”, afirma.

Quando a MMA foi lançada, em fevereiro de 1995, a maior parte das pessoas sequer conhecia a internet. Para vender seus primeiros serviços, ainda como provedor de internet discada, o baiano usou o nome de sua família como garantia de que seu negócio era confiável. “No interior, vale sempre a boa reputação da família. E foi o nosso nome que permitiu o crescimento da empresa”, afirma.

Hoje, a MMA está presente em 27 municípios do Recôncavo. Os preços dos planos variam entre R$ 39,90 (1 megabit) a R$ 189,90 (50 megabit). A principal meta da companhia é levar internet por fibra ótica a 100% de seus assinantes.

Excelência em primeiro lugar
Para oferecer uma boa experiência, muitos empreendedores escolhem focar em uma região – ao contrário da estratégia das grandes operadoras. O empreendedor Marcelo Couto, 48, é um exemplo. Ele fundou, em Santa Rita de Caldas, no sul de Minas Gerais, a Nowtech. A empresa está também nas cidades de Ipuiuna, Caldas e Ibitiúra de Minas.

Quando perguntado sobre o interesse em levar a Nowtech a mais cidades, Couto diz que prefere ficar onde está. “Prefiro buscar a excelência nas regiões em que estamos. Vejo caso de operadoras, grandes e pequenas, que tentaram crescer e não conseguem manter a qualidade do serviço”, afirma.

Couto diz que as grandes empresas também estão na região em que a Nowtech atua. Porém, para o empreendedor, elas não são as principais rivais da sua empresa. “O problema são as redes de internet clandestinas. Há pessoas que não respeitam as normas da Anatel. Há um problema de falta de fiscalização na região.”

Erich Rodrigues, da Abrint (Foto: Divulgação)

Desafios
Para o presidente da Abrint, os pequenos provedores enfrentam alguns desafios para seguir crescendo. Um deles é a falta de incentivo governamental para o setor. “Não há linhas de crédito disponíveis para as operadoras.”

De acordo com Rodrigues, ainda há muitas cidades brasileiras sem bons provedores de internet. As más condições de infraestrutura e econômica destes municípios fazem com que os negócios não sejam lucrativos. “Ao levar internet para o interior do país, nós levamos desenvolvimento econômico e social. Lutamos por benefícios fiscais que nos ajudem nessa missão social e que façam a nossa operação valer a pena”, afirma.

(Revista PEGN)



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