Para ator, lugar deixado pelo artista jamais foi ocupado. Trama, que estreia na quinta (8), mostra episódio que levou Simonal a ser citado como colaborador da ditadura militar.
No auge da carreira, nos anos 1960, Wilson Simonal esteve à frente de um programa de TV de sucesso, assinou um contrato publicitário sem precedentes no Brasil e criou uma empresa para gerenciar a própria carreira.
“Quantos como ele você vê hoje? Nenhum. Não há, na história, alguém que tenha chegado aonde ele chegou. Ninguém ocupou esse lugar”, diz Fabricio Boliveira, que revive a trajetória do cantor no filme “Simonal”. A estreia é na próxima quinta (8).
Em seu ponto mais crucial, a trama retrata o episódio de 1971, em que Simonal é acusado de usar agentes do DOPS, o órgão de repressão da ditadura militar no Brasil, para sequestrar e ameaçar seu ex-contador.
A repercussão do caso levou o cantor de “Meu limão, meu limoeiro” a ser citado como colaborador do regime pela imprensa na época. Com fama de dedo-duro, amargou anos de ostracismo e rejeição, regados a problemas com álcool.
Simonal acabou pagando caro demais pelos erros por causa do racismo, avalia Boliveira. “Mataram esse mito, essa referência dele para a gente”, diz. “Essas coisas não mudaram, continuam acontecendo ainda hoje.”
‘Tropeço’
Isis Valverde concorda. Ela interpreta Tereza Pugliesi, mulher do cantor que o acompanhou do início da carreira aos anos de esquecimento. A cinebiografia também revela episódios de conflito na relação do casal.
Fabricio Boliveira e Isis Valverde são Simonal e Tereza em cinebiografia — Foto: Divulgação
“Se eu tropeço, quebro uma câmera, uma semana passa e todo o mundo esquece. Se é um negro, ele vai arrastar essa câmera pelo resto da vida”, analisa. “E todo mundo tropeça, ninguém passa incólume na vida.”
Antes de virar ficção, a história do cantor foi tema do documentário “Ninguém sabe o duro que dei” (2009), dirigido por Cláudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal.
Também foi contada nas biografias “Nem vem que não tem – A vida e o veneno de Wilson Simonal”, de Ricardo Alexandre, e “Simonal: Quem não tem swing morre com a boca cheia de formiga”, de Gustavo Alonso.
Max de Castro, filho de Simonal que trabalhou na trilha sonora da cinebiografia e colaborou com os atores na construção dos personagens ao lado do irmão Simoninha, diz que a ideia das obras não é sentenciar seu pai como mocinho ou vilão.
“É importante as pessoas poderem avaliar o lado humano, se colocarem no lugar dele, em vez de tentarem decidir se é inocente ou culpado”. Ele conclui: “A história é importante para que a gente possa debater e até amadurecer como sociedade”.
Fonte: G1