Marcas nordestinas quebram hegemonia de negócios entre Rio e São Paulo

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RIO – Sol o ano inteiro. Ritmos populares quentes. Água salgada irresistivelmente morna. Nem só questões climáticas e culturais fazem ferver o Nordeste. Novas marcas de roupas, calçados, biquínis e design têm esquentado o cenário da moda, quebrando a hegemonia do eixo Rio-São Paulo, principalmente com o impulso do consumo nas redes sociais.

Muitas dessas novas etiquetas sobrevivem apenas na web, em contas no Instagram ou páginas no Facebook. Criada em novembro do ano passado, a marca de maiôs Iara é um desses exemplos. As irmãs baianas Camila e Pâmela Lucciola criaram a coleção à distância já que a primeira, atriz, mora no Rio, e a segunda, jornalista, em Salvador. A primeira tiragem, com 60 peças e seis modelos, foi lançada no Instagram e acabou em dez dias.

— Não esperávamos o alvoroço que se criou. Eu tinha viagem marcada para um lugar onde não tinha internet e minha irmã estava atolada em trabalho. Acabei indo para Caraíva e montei uma lojinha lá — lembra Camila.

Fotos de famosas com os maiôs, como Fernanda Paes Leme e Carolina Dieckmann, logo começaram a pipocar nas redes.

— Eu e minha irmã sempre fomos consumidoras de beachwear, mas não tínhamos o know-how da moda. Buscamos uma excelente modelista, para que os maiôs caíssem bem, e apostamos forte da combinação de cor, já que para estampas exclusivas precisaríamos produzir uma quantidade bem maior. Foi uma brincadeira que deu certo — comemora Camila, que na segunda coleção dobrou a tiragem.

Foi justamente a aposta no potencial de pequenas marcas que fez as irmãs Juliana e Deborah Kang retornarem para Fortaleza, sua cidade natal. Formadas em Nova York em marketing e design de estampas, respectivamente, elas montaram a Amaré.

— Vimos a necessidade de atender clientes menores, que muitas vezes não alcançam os mínimos das estamparias grandes do Sul e do Sudeste. Apostamos no mercado local — afirma Juliana.

Natural de Recife, a blogueira Camila Coutinho atesta a mudança no cenário de moda, que passou a ser influenciado por outros estados do país:

— Com a internet, qualquer um pode produzir o seu próprio conteúdo e mostrar o que tem de interessante e de diferente de onde você mora. As pessoas não estão sendo influenciadas só por pessoas e marcas do eixo Rio-SP.

Há oito anos no mercado, a designer Candida Specht, de Salvador, vende hoje a maior parte de seus produtos na loja on-line para São Paulo e Rio. Para ela, estar fora do eixo é uma vantagem:

— Temos liberdade para produzir peças originais, fora de tendências da moda. Acho que até por isso começaram a olhar para a gente em busca do diferente. Além disso, há um movimento de melhorar a qualidade das peças e torná-las competitivas.

No quesito traço regional, quase todas as marcas são unânimes em destacar o artesanato.

— É preciso privilegiar quem faz peças que unem linguagens artesanais muitas vezes centenárias e aprendidas com os antepassados. Precisamos proteger o handmade — destaca Celina Hissa, diretora criativa da Catarina Mina, marca cearense de bolsas de crochê.

A viralização é quase sempre um trunfo para o sucesso das marcas. Lambe-lambes gigantes colados nos muros de Salvador com os dizeres “Mancha de dendê não sai”, canção homônima de Moraes Moreira e Paulo Leminski, geraram burburinho no mundo real e impulsionaram as vendas on-line de camisetas e cangas estampadas do Estúdio Miranda.

— Acreditamos que, justamente por colocarmos essa linguagem baiana em tudo que fazemos, estamos tendo uma boa repercussão além do mercado baiano — conta a publicitária Aline Biliu.

Ao lado da designer Mila Giacomo, Aline cria agendas e moringas, entre outros acessórios. As amigas trabalham em home-office, fazendo do Instagram um meio forte de divulgação e venda.

— Sabemos que os mercados de São Paulo e Rio têm mais tempo, são mais fortes e mais concorridos também. Mas sentimos que os negócios em Salvador estão em um bom momento para novos empreendedores. E ganhamos força no verão, com turistas que nos visitam e acabam nos levando de volta — afirma Mila.

No caso da Fridíssima, marca de sandálias, o impulso aconteceu no Facebook. Recém-formada em design de moda, a cearense Ligia Nantua postou na rede alguns pares confeccionados para satisfazer sua “alucinação por sapatos”. A publicação despretensiosa gerou interesse, e logo desconhecidos estavam entrando em contato para encomendar os calçados.

— Para a minha sorte, a Fridíssima se desenvolveu rapidamente sem muitas dificuldades, contrariando a maioria dos pequenos empreendimentos na área da moda fora desse eixo Rio-SP. O comércio on-line torna sua marca “cidadã do mundo”—- afirma Ligia, que tem hoje Salvador e Rio como os principais compradores da loja virtual.

 

Fonte: O Globo



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