Indígenas mundurucus querem evitar a construção de hidrelétrica no rio Tapajós

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Num barranco do rio Tapajós, a menos de 30 km de onde será construída a usina hidrelétrica de São Luiz, o “capitão” Juarez Munduruku, da aldeia Sawré Muybu, ajeita os colares de contas atravessados no peito. Começa a discursar: “Bom dia a todos e todas”.

Está rodeado de outros mundurucus, nome dado pelos antigos inimigos parintintins e que significa “formigas de fogo”. Há alguns “pariwat” (brancos), reunidos para a fixação de mais uma placa delimitadora da terra indígena que leva o nome da aldeia.

“Sawe!”, gritam todos e todas em volta, na saudação tradicional. Ainda não oficializados pela União, os 1.780 km² da Sawré Muybu – quase 20% maior que o município de São Paulo– são habitados por 132 indígenas.

Fornecida pela ONG Greenpeace, a placa imita as que o governo federal usa para demarcar terras indígenas homologadas, mas não tem o logotipo da Funai. Na árvore ao lado, uma tábua mais simples colocada há dois anos pede respeito à “terra-mãe”.

O bom guerreiro se distingue pela escolha das armas e pela destreza em seu uso. O líder Juarez faz jus à fama militar dos mundurucus e recorre ao que os brancos gostam de ouvir: “todos e todas”. Afinal a guerra, agora, é de palavras, como gostam de dizer.

“Se for acontecer mesmo [a usina], vamos invadir. Todo o mundo já se comprometeu”, havia dito Juarez um dia antes, num barracão erguido pela ONG na aldeia. “Vamos botar 500 guerreiros lá.”

Os mundurucus não confiam na palavra dos caciques de Brasília. Recebidos na capital depois de invadirem a obra de Belo Monte, quase 500 km a nordeste, ouviram de Gilberto Carvalho (PT), então ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, em 2013, que o Planalto podia dialogar, mas não abria mão de São Luiz do Tapajós.

O capitão-geral dos 12 mil mundurucus, Arnaldo Kabá, retrucou que os índios não abriam mão de seu rio sagrado. Juarez corrobora: “Tem de me matar primeiro. Pelas minhas pernas, é difícil [sair]”.

 

NOVA BELO MONTE

A UHE São Luiz é a bola da vez no portfólio de expansão do setor elétrico. Terá 8.040 megawatts (MW) de capacidade e deverá gerar em média pouco mais de 4.000 MW, o que daria para abastecer uma metrópole de pelo menos 8,5 milhões de pessoas.

Em conjunto com Belo Monte (11.233 MW), que também fica no Pará, São Luiz responderá por 68% da ampliação, até 2024, da capacidade de geração hidrelétrica.

Essa fonte renovável, mas combatida por ambientalistas e índios, passará de 90.000 MW para 117.000 MW.

 

Fonte: UOL



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