Sobrevivente de terremoto é único representante do Haiti no Rio

O terrível terremoto de 12 de janeiro de 2010 abalou o Haiti e deixou mais de 300 mil mortos. Alguns outros ‘nasceram de novo’, como foi o caso de Jean Indris Santerre. Ele perdeu a perna esquerda, esmagada por um poste. Seis anos depois do sismo, ele é o representante solitário na Paralimpíada do Rio.

Santerre foi convidado pelo Comitê Paralímpico Internacional (IPC) e seu grande objetivo não é só a medalha, já que não tem expectativas de brigar por elas, mas quer levar ao mundo uma missão: manter as portas abertas para que seus compatriotas vejam no esporte o caminho para o recomeço.

Segundo o Globo Esporte, o governo haitiano informa que cerca de 10% da população de 10 milhões de habitantes tem algum tipo de deficiência. O problema é que a situação econômica do país se torna um empecilho para reabilitação e reinserção social destas pessoas. Os obstáculos são muitos, desde o calçamento inadequado mesmo nas ruas das maiores cidades, como a capital Porto Príncipe, à falta de mão de obra qualificada de fisioterapeutas e outros profissionais da saúde.

Na realidade, o investimento no esporte não é visto pelas autoridades locais como prioridade, por esta razão, quem sonha ser atleta precisa contar basicamente com o próprio esforço.

A Agitos Foundation, entidade vinculada ao IPC e que busca captação de recursos e o desenvolvimento do paradesporto no mundo, atua no Haiti desde 2012.

Para chegar até atletas de alto rendimento, o investimento necessita ser grande. Por esta razão, o Comitê Paralímpico do Haiti se limita a fazer o básico para manter-se representado nos grandes eventos. Em 2015, foi defendido no Parapan de Toronto, no Canadá, apenas pela halterofilista Nephtalie NJ Louis. Na Rio-2016, o papel de único competidor cabe a Jean Indris, que competirá no arremesso de peso.

“O Haiti tem muitos deficientes, mas o governo não nos ajuda, não compreende como o atleta quer participar, representar o país. O governo deveria ter a responsabilidade de nos ajudar. Eu sou o único atleta porque os meios não permitiram que mais participassem. Não era possível. O governo não pode nos ajudar, por isso os outros não vieram e fui escolhido. Apesar de tudo (dificuldades) eu amo isso, participar. Vou fazer esforço mesmo que não haja medalha. Para mim estar na classificação é uma vitória”.

Jean tem 46 anos, treina de três a quatro horas por dia e trabalha à noite como técnico de informática. No Rio de Janeiro, ele está acompanhado de outros três oficiais, como o chefe de missão Tony Régis. Para a viagem da pequena comitiva, o presidente do Comitê Nacional, Jean Chevalier Sanon, levantou a quantia de US$ 8 mil (mais de R$ 26 mil na cotação atual).

“Antes dos torneios classificatórios tomamos a iniciativa de escrever ao Ministro do Esporte pedindo que enviasse um orçamento ao Ministério das Finanças, mas não foi dada nenhuma resposta. Nada foi feito. Fomos ao Brasil graças aos nossos esforços pessoais. Se não participássemos dos Jogos nossa credencial seria afetada. E ter uma licença paralímpica não é um presente. (…) Acreditamos que Jean era a melhor chance do Haiti nos Jogos. Do ponto de vista logístico e de treinamento não é um estreante. Tem o que chamamos de psicologia do jogo”, contou Sanon, que não veio ao Brasil, em entrevista ao site haitiano “Le Nouvelliste”. (NM)



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