Antibióticos usados para casos de gripe estão em falta nas farmácias

Um desabastecimento que tem preocupado pais e responsáveis que vêm sofrendo para achar os antibióticos receitados em casos de síndromes gripais.
Paula Fróes/CORREIO

A vida de quem tem ido às farmácias de Salvador e de cidades da região à procura dos medicamentos Amoxicilina, Azitromicina e Axetilcefuroxima não está nada fácil. Em geral, mesmo com a receita nas mãos do cliente, a resposta do farmacêutico sobre esses remédios se repete: estão em falta. Um desabastecimento que tem preocupado pais e responsáveis que vêm sofrendo para achar os antibióticos receitados em casos de síndromes gripais.

Caso, por exemplo, de Juliana Silva, 29 anos, que passou por cinco farmácias nesta quinta-feira (14) na busca por Azitromicina para o filho. “Fui em três bairros diferentes procurando, perguntando para os farmacêuticos e nada. Até pedi para o pessoal que conheço pesquisar e também não acharam. Está muito complicado para encontrar e eu nunca vi isso antes”, reclama ela, afirmando que continuaria procurando o tempo que fosse preciso.

Essa busca foi feita também pela reportagem do CORREIO, que foi até 16 farmácias e ligou para outras 10 em 15 bairros de Salvador e região metropolitana. A Amoxicilina foi encontrada em 12  farmácias. Já a Azitromicina estava disponível em apenas 6 locais. O pior caso foi o da Axetilcefuroxima, que não foi encontrada nos estabelecimentos procurados.

Tem no SUS

O cenário, no entanto, não está assim nas unidades públicas de Salvador. De acordo, com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), no momento, Amoxicilina e Azitromicina – Axetilcefuroxima não é ofertado pelo SUS – estão em estoque nós postos de saúde e com precisão de chegada de mais um lote dos medicamentos em solução líquida para o dia 20 de abril.

Um pai, que preferiu não se identificar,  também passou a manhã toda em busca de Amoxicilina para o filho. No entanto, só foi em farmácias e não passou em postos públicos. “Quando a gente pensa que está em falta, já presumimos que, se não tem no privado, não vai ter no público de graça. Infelizmente, nem passou pela minha cabeça a ideia de que poderia ter em uma unidade básica. Vou agora procurar”, disse ele.

Ainda de acordo com ele, seu filho tem tido sintomas gripais e, ao pedir ao pediatra a receita de um medicamento, ele receitou a Amoxicilina. “Queria que ele passasse algo que pudesse amenizar os sintomas e ajudasse na melhora porque ele está mal há uns dias”, contou. A Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) foi procurada e afirmou que não há desabastecimento para os itens Amoxicilina e Azitromicina no estoque da Sesab, destacando que a distribuição é condicionada à solicitação realizada pelos municípios. Quem foi procurado para se manifestar sobre o caso e não retornou foi o Ministério da Saúde (MS).

Por que falta?

Apesar de ter em estoque, a SMS informou, por meio de assessoria, que a ausência dos medicamentos nas farmácias é resultado de um desabastecimento nacional. Médico infectologista da S.O.S Vida, Matheus Todt afirma que a falta dos remédios está associada a duas questões: o período e receitas equivocadas. “Essa época do ano que temos mais quadros gripais, pacientes com renite e outros problemas. Então, é comum que exista uma demanda maior. No entanto, não é comum o desabastecimento. Isso é algo recente e não recorrente. Só que com pandemia e uma falta de insumos de forma geral estamos passando por isso”, explica Todt.

Ainda de acordo com infectologista, esse cenário causa a ausência dos remédios por estar aliado ao fato de muitos médicos receitarem os antibióticos de forma equivocada, já que eles são só recomendados para quadros gripais bacterianos. “São indicados para sinusite, amigdalite, renite, faringite e outros. Para estes, são as principais opções. Porém, a gente tem visto médicos receitando para quadros gripais virais, como a covid-19. Muito por pressão dos pais. E também por mal uso dos antibióticos. Os médicos usam muito mal esses medicamentos”, fala ele, citando que 50% dos antibióticos são prescritos quando não há sequer uma infecção.

Falta para quem precisa

O Conselho Regional de Farmácia da Bahia (CRF-BA) foi procurado para comentar o que a ausência desses medicamentos nas farmácias pode causar à saúde pública. No entanto, não respondeu o contato. Farmacêutica da MultiMais em Salvador, Daiana Carnaúba diz que o primeiro problema é até lógico. “É simples: se tem muita gente comprando sem qualquer necessidade, quem realmente precisa fica sem. São medicamentos importantes e eficientes quando bem receitados. Então, para quem tem de fato um quadro que depende daquele medicamento, faz muita falta”, afirma ela.

Ainda de acordo com Daiana, essa falta tem sido sentida por ela e sua equipe nos últimos dias. São inúmeros os casos de quem aparece por lá e sai com as mãos abanando. “A gente tem algumas demandas de encomenda de pacientes que estão ligando e não estão achando. E o pessoal diz que procura por várias farmácias e não acha. Está difícil de encontrar na distribuidora e atrapalha nosso trabalho que é entregar esses medicamentos para quem precisa”, fala a farmacêutica, lamentando o que tem acontecido.

Mais que os problemas atuais, o mal uso desses medicamentos, que é uma causa da falta deles, pode trazer complicações também a longo prazo. Pelo menos, é isso que afirma Matheus Todt. “Expondo os microorganismos e bactérias da comunidade frequentemente a estes antibióticos, a possibilidade de desenvolver resistência é grande. E, nos últimos anos, não temos antibióticos novos. A gente pode estar criando um inimigo porque os antibióticos disponíveis não vão ter, daqui a 20 ou 30 anos, efeito sobre essas bactérias com resistência”, projeta.

Dá para substituir?

Na falta da Amoxicilina, Azitromicina e Axetilcefuroxima é possível e recomendável que os pacientes retornem ao médico para explorar outras opções medicamentosas recomendadas para casos gripais bacterianos. No entanto, para casos onde os antibióticos não são necessários, há também a velha opção de recorrer a chás ou remédios naturais que não curam o problema, mas funcionam como paliativos para amenizar os sintomas. Todt traz algumas recomendações para isso.

“Há possibilidade, em alguns quadros que não precisa de antibiótico, de tratar com chás, hidratação e repouso, que é o grande tratamento da gripe. […] São os clássicos como o de romã que melhora a garganta, chá de cidreira e hortelã para sintomas de via aérea. Não existe estudo pra dizer qual é melhor, mas são clássicos para atenuar os sintomas. O pessoal das antigas sabe como é”, conclui o infectologista.

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Fonte: Correio



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