Hospitais intensificam preparativos para atendimento de pacientes com queimaduras durante as festividades juninas

Foto: Adilton Venegeroles | Ag. A TARDE

Os fogos de artifício e as fogueiras, elementos tradicionais das festas juninas, atraem a atenção com seu espetáculo luminoso, mas também representam um risco de acidentes se não forem manuseados corretamente. Um exemplo disso ocorreu durante uma festa no ano passado, em Conceição do Almeida, no Recôncavo, quando a técnica de enfermagem Karina Moreira sofreu queimaduras causadas por uma espada.

“Eu estava conversando com meu primo em uma área onde estavam soltando espadas, quando uma delas veio em minha direção e bateu em minha barriga. Eu tentei afastá-la com a mão, mas ela desceu e queimou minha perna direita”, relata Karina. Ela lembra que, inicialmente, lavou a área afetada. “Como técnica de enfermagem, eu sabia que deveria apenas lavar a queimadura”, conta. “Depois, fiz um curativo. No dia seguinte, fui ao hospital para um tratamento adequado.”

Como profissional da saúde, Karina alerta para o aumento significativo nos casos de queimaduras durante as festividades juninas. “Todos os anos, nessa época, vemos um grande número de atendimentos a pacientes com queimaduras – e alguns casos podem ser graves, dependendo da parte do corpo afetada”, destaca. “Quando uma espada explode, por exemplo, além das queimaduras, o paciente pode sofrer traumas graves.”

Para garantir assistência em casos de acidentes com esses artefatos, a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) implementou um esquema especial de plantões reforçados nos Hospitais Geral do Estado, Regional de Santo Antônio de Jesus e do Oeste, unidades que contam com centros especializados no tratamento de queimaduras.

Somando-se a outras iniciativas na área da saúde durante o São João, serão investidos mais de R$ 3 milhões em ações de vigilância, assistência à saúde e conscientização da população para aumentar os estoques de sangue, além de reforçar as equipes de profissionais por meio de 564 plantões.

O Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital Geral do Estado (HGE), reconhecido em âmbito nacional, é a unidade que recebe o maior número de pacientes vítimas de queimaduras graves. Para o tratamento, são designados cerca de 200 profissionais especializados, juntamente com dois cirurgiões de prontidão para atender emergências.

 

UTI e leitos  

O coordenador do CTQ, Marcos Barroso, que também é presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras, explica que este é um setor bem específico. “Costumo dizer que é um hospital dentro do hospital”, relata. “Aqui, temos nosso próprio centro cirúrgico, uma sala de balneoterapia, onde realizamos os curativos maiores. Temos ainda uma UTI e os leitos de enfermaria. Conseguimos resolver todas as questões do paciente dentro do CTQ.”

A secretária de Saúde da Bahia, Roberta Santana, aponta que o esquema montado pela Sesab para o período foi feito para garantir, caso necessário, a assistência à população, destacando os casos de queimaduras. “Teremos reforços das equipes nos hospitais que são referência para tratamento de queimados”, afirma. “Vamos assegurar também inspeções diárias nas unidades de saúde com o intuito de verificar a necessidade de substituição ou suplementação de material.”

A titular da pasta acrescenta que estará disponível ainda o Centro de Atendimento a Múltiplas Vítimas, que é acionado em caso de desastres ou emergência com múltiplas vítimas.

O espaço no HGE está apto a receber e tratar mais de 25 vítimas simultaneamente e tem toda a infraestrutura para o primeiro atendimento de emergência, com profissionais em regime de plantão.

Junho concentra alta de casos

Levantamento feito pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) aponta que em média, nos últimos dez anos, junho concentrou mais da metade de todos os atendimentos a pacientes vítimas de acidentes com fogos de artifício. O maior índice foi registrado em 2014, quando 68,38% de todos os atendimentos do ano relativos a fogos no Hospital Geral do Estado (HGE) foram realizados em junho (105 de 166).

Já o menor índice foi registrado em 2020, ano no qual as grandes festas foram canceladas por causa da pandemia de Covid-19. Ainda assim, o porcentual foi alto: 40,84% de todos os atendimentos do ano ficaram concentrados em junho (29 de 71). No ano passado, com o retorno das festas juninas, o número total de vítimas de acidentes com fogos voltou a subir: foram 110 atendimentos no HGE, dos quais 57 em junho (51,81%).

Para se ter uma ideia de como os festejos impactam no número de ocorrências do gênero, nos primeiros cinco meses deste ano, a unidade registrou apenas 12 atendimentos causados por fogos. O estudo da Sesab também aponta uma tendência de queda nos atendimentos desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) reafirmou, em 2019, a proibição da prática conhecida como “guerra de espadas”. Em 2018, foram realizados 130 atendimentos de vítimas de fogos de artifício, sendo 73 (56,15%) em junho. No ano seguinte, o número caiu para 79 atendimentos no total, dos quais 49 emjunho. Na Bahia, nos últimos cinco anos, foram registradas 464 internações – casos mais graves – por causa de acidentes com fogos. Junho responde por 26,1% dessas internações.

Segurança

Segundo o soldado do Corpo de Bombeiros Militar da Bahia Alan Serra, a redução no número de acidentes com fogos de artifício está diretamente ligada ao uso correto dos artefatos. Para ele, o primeiro cuidado que se deve ter é comprar apenas em locais credenciados para o comércio de fogos.

“Por se tratar de um material explosivo, ele deve ser produzido e comercializado em locais adequados”, afirma. “Caso a quantidade de pólvora, a boca expulsora ou o pavio, por exemplo, não estejam nos tamanhos e quantidade corretos, pode haver um acidente grave.”

Serra ainda explica que outro cuidado que deve ser tomado é o manuseio no momento de soltar os fogos. Quando se trata de um rojão, ele afirma que a melhor forma de soltar é colocando-o em uma base fixa. “Não é recomendado segurar com as mãos”, detalha.

“Da mesma forma, as bombas devem ser acesas no chão. O risco de explosão na mão existe.” O soldado também recomenda a supervisão atenta de crianças – apenas artefatos classe A, com pouca quantidade de pólvora, estão autorizados para os menores. “Sempre busco comprar os fogos para meus filhos em barracas que estão em locais credenciados, além de conferir a procedência na embalagem”, afirma o comerciante Márcio Santos, que aproveita a feira de fogos montada na Avenida Paralela. Além dos fogos, outro ponto de atenção são as fogueiras, tradicionais no período junino. Elas devem ser montadas e acesas afastadas das casas e da rede elétrica e não devem passar de um metro de altura. “Para acender, nunca devem ser usados combustíveis como gasolina ou querosene”, explica o soldado Alan Serra. “O recomendado é usar um papel com óleo vegetal.”

 

As informações são do A Tarde



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