Um estudo sugere que o TDAH pode ter representado uma vantagem evolutiva

Foto: Andy Nowack/Zoonar/picture alliance

O transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) geralmente é identificado de forma negativa. Os sinais, que abrangem hiperatividade, impulsividade ou desatenção, são percebidos como uma fragilidade.

Entretanto, estudos recentes sugerem que indivíduos com TDAH frequentemente demonstram maior criatividade, dinamismo, competência social e emocional, além de apresentarem excelentes habilidades cognitivas.

Atualmente, uma nova investigação da Universidade da Pensilvânia procura rastrear as origens do TDAH e sugere que o transtorno seria uma componente significativa da evolução.

Os pesquisadores afirmam que o transtorno se desenvolveu como uma estratégia de sobrevivência adaptativa para nossos antepassados.

“O TDAH e os traços cognitivos semelhantes ao TDAH, como a distratibilidade ou a impulsividade, são amplamente difundidos e geralmente vistos de forma negativa. Mas, se são realmente negativos, sua persistência é um enigma. Acreditamos que eles podem oferecer benefícios adaptativos”, afirmou David Barack, um dos autores do estudo.

Para o estudo publicado na revista The Royal Society, os pesquisadores analisaram dados de 457 adultos, sendo que deles, 206 afirmaram ter sintomas fortes de TDAH.

Em um jogo virtual, os participantes tinham a missão de colher o maior número possível de frutos silvestres num determinado espaço de tempo. O jogo obrigava os participantes a tomarem decisões, como: continuo a colheita no mesmo lugar onde as frutas estão acabando ou mudo de local para explorar um novo arbusto? A última opção custava segundos valiosos.

Os participantes com TDAH tendiam a mudar mais rápido e passar menos tempo num único arbusto. Assim, colheram mais frutas do que o outro grupo sem sintomas do transtorno. Esses últimos, por sua vez, tendiam a passar mais tempo no mesmo arbusto, na esperança de otimizar a colheita.

Os pesquisadores ficaram surpresos com esses resultados, pois acreditavam inicialmente que uma rápida mudança de arbustos poderia levar a uma produção menor. “Mas os sintomas de TDAH mais intensos levam a uma taxa de recompensa mais alta e a um melhor desempenho”, segundo Barack.

TDAH como estratégia de sobrevivência

A tática usada pelo grupo com TDAH tem vantagens: evita a exploração de recursos em um único local e, ao mesmo tempo, expande a exploração para novas áreas.

Uma estratégia que pode ter sido vital para a sobrevivência dos caçadores-coletores no passado.

Outros estudos também sustentam a hipótese da vantagem evolutiva. Eles demonstraram que o estilo de vida nômade está associado a mutações genéticas que desempenham um papel no TDAH.

Isso pode ser uma explicação plausível para a disseminação atual do TDAH. Mas com a diferença que as características que costumavam funcionar bem na colheita de alimentos não são mais tão vantajosas na sociedade atual.

Principalmente quando os recursos não são mais tão escassos.

A dopamina, um neurotransmissor do cérebro responsável pela sensação de recompensa, é decomposta mais rapidamente em pessoas com TDAH do que em quem não tem o transtorno.

A busca constante pelo importante neurotransmissor pode fazer com que as pessoas com TDAH alternem constantemente entre diferentes tarefas sem realmente concluí-las.

Porém, os pesquisadores enfatizam a necessidade de mais investigações, pois o estudo apresenta algumas limitações, como por exemplo, os sintomas de TDAH foram baseados nas autoavaliações dos participantes, sem laudo médico.

Em uma próxima etapa, o estudo será realizado com pacientes diagnosticados clinicamente com TDAH. E a colheita virtual, passará para campos reais, o que exigirá mais esforço dos participantes.



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