Projetos do CT do Flamengo enviados à prefeitura não previam alojamento onde houve incêndio

Dois projetos de construção do Centro de Treinamento do Flamengo, que o clube enviou à prefeitura do Rio, em 2010 e 2018, mostram que não havia previsão de alojamento no local onde o fogo matou dez atletas.

O Flamengo tem duas plantas do Ninho do Urubu apresentadas à prefeitura. Em nenhuma delas há previsão de alojamento para atletas no local onde houve o incêndio.

O clube pediu autorização para construir o Centro de Treinamento em 2010.

Há nove anos, o Flamengo previa construir um estacionamento, uma instalação que serviria de depósito e lavanderia e do lado um prédio para a administração.

O documento a que a TV Globo teve acesso comprova que não havia planos para a construção de um alojamento para atletas. Os engenheiros responsáveis eram Alexandre Martins e Wagner Barroso.

O projeto foi aprovado pela Prefeitura no dia 7 de janeiro de 2011.

Em 2018, o Flamengo apresentou um novo projeto com informações diferentes do primeiro. A planta mostra que a ideia era deixar o estacionamento maior, ocupando as áreas onde ficariam a lavandeira e a administração. De novo, não há previsão de um alojamento para atletas no local onde houve o incêndio.

O responsável pelo projeto dessa vez é o arquiteto Francisco Alexandre Feu Rosa. Esse novo projeto foi aprovado pela prefeitura em abril de 2018.

Em nota, no domingo (10), a Prefeitura disse que a licença obtida com esse projeto permitia apenas a construção e não a utilização. Ou seja, para a Prefeitura, o Centro de Treinamento ainda estava em construção, por isso, não tinha o habite-se. O Ninho do Urubu também não tinha alvará de funcionamento. Chegou a ser interditado em outubro de 2017 e foi multado 31 vezes desde então por descumprir a ordem.

O contêiner onde os dez jogadores das categorias de base do Flamengo morreram nunca foi vistoriado pelo Corpo de Bombeiros.

Em 2018, os bombeiros fizeram três vistorias nas instalações que constavam no projeto original. Durante as vistorias, várias pendências relacionadas ao sistema de segurança contra incêndio e pânico foram detectadas.

Representantes da prefeitura, do governo do estado e do Ministério Público anunciaram, nesta segunda-feira (11), uma força-tarefa para investigar as causas do incêndio no CT do Flamengo. Apesar de a Prefeitura ter dito que o Ninho do Urubu não tem alvará e que, no papel, está interditado, o procurador-geral de Justiça disse que, a partir desta terça-feira (12), serão feitas perícias no local para analisar as condições de estrutura e para saber se há necessidade de interdição.

Eduardo Gussen disse que é cedo para falar sobre a responsabilização de culpados.

“Essas questões todas vão ser apreciadas a tempo e hora, o Ministério Público já vinha adotando medidas nesse sentido, mas a reunião de hoje ela teve um propósito imediato de acolhimento a essas famílias e de dar início à realização dessas perícias complementares. Se nós chegarmos a conclusão de que elas mereçam nova judicialização, as esferas vão entrar com as respectivas ações judiciais. O Ministério Público requer e submete ao Poder Judiciário. O mesmo faz o Ministério Público do Trabalho e a Defensoria Pública. Então nós vamos acionar o Poder Judiciário para que as respostas sejam dadas.”

A polícia deve ouvir nesta terça-feira (12) o gerente de Patrimônio do Flamengo e três funcionários do Ninho do Urubu que estavam na hora do incêndio.

Representantes da NHJ, a empresa que fabricou os módulos que serviam de alojamento, também serão interrogados.

O Flamengo suspendeu o pernoite de qualquer pessoa no Centro de Treinamento. O presidente disse que o clube vai assumir as responsabilidades e indenizar as famílias dos atletas.

“Falamos de toda a nossa disposição junto às autoridades de caso haja algum tipo de pendência ainda para a manutenção da operação do centro de treinamento, que nós estaríamos focados e trabalhando para poder corrigir isso no menor prazo possível e temos, vamos dizer assim, aquela expectativa positiva de que tudo isso será resolvido o mais rapidamente possível”, disse Rodolfo Landim, presidente do clube.

Mas três dias depois do incêndio, Landim acha que ainda não é hora de responder a tantas dúvidas sobre o que aconteceu.

“A gente vai falar no momento exato”.

O que dizem os citados

A Prefeitura afirmou que a legislação municipal do Rio só obriga os fiscais a irem até a obra em caso de denúncia ou para expedir o habite-se e que nenhuma das duas coisas aconteceu.

O arquiteto Francisco Alexandre Feu Rosa afirmou que foi contratado em 2017 para fazer somente o projeto arquitetônico do novo CT e que não tem responsabilidade sobre as construções anteriores. O arquiteto também disse que o contrato que assinou com o Flamengo não prevê o acompanhamento das obras do projeto.

Nós ligamos para o engenheiro Wagner Barroso, mas ele não retornou.

Nós não conseguimos contato com o engenheiro Alexandre Martins

E questionamos o Flamengo sobre o processo de aprovação da obra, mas ainda não tivemos retorno.

Fonte: Jornal Nacional



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