Projeto rural que atende 60 mil famílias na Bahia é eleito o melhor do mundo pela ONU

Foto: André Fofano/Divulgação

Uma iniciativa que está promovendo uma transformação significativa na vida de milhares de indivíduos que residem no semiárido baiano, auxiliando na produção e até mesmo na exportação de produtos adaptados ao bioma e às condições climáticas desfavoráveis, foi reconhecida como a melhor do mundo pela Organização das Nações Unidas (ONU).

O Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável da Região Semiárida da Bahia (Pró-Semiárido) alcançou o primeiro lugar entre 231 iniciativas financiadas pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) em 98 países.

Gerenciado pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), esse projeto baiano busca diminuir a pobreza rural de maneira duradoura, por meio da promoção da produção sustentável, geração de emprego e renda em atividades agropecuárias e não agropecuárias, além do desenvolvimento do capital humano e social.

Na Bahia, aproximadamente 60 mil famílias residentes no semiárido de 32 municípios com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) estão sendo beneficiadas por esse projeto.

Até o começo deste ano, mais de R$ 204 milhões foram investidos em iniciativas de apoio aos principais sistemas produtivos, como a fruticultura de espécies nativas como o umbu e o maracujá-do-mato, apicultura, criação de caprinos e ovinos, e produção leiteira bovina.

De acordo com Wilson Dias, diretor-presidente da CAR, o grande destaque desse projeto é incentivar a convivência com o Semiárido, em vez de impor culturas ou atividades que historicamente foram tentadas nesse ecossistema.

“Estamos falando de criar abelhas, em que com meio litro de água se resolve o problema de uma colmeia. Ou cultivar espécies vegetais nativas como o umbu, que consegue armazenar água em suas raízes por longos períodos de estiagem”, destaca Dias.

O projeto foi estabelecido em 2014 através de um acordo com o FIDA no valor de US$ 98 milhões, iniciando suas atividades em 2015 com duração prevista até 2021. Segundo Dias, os investimentos já estão programados e as ações nos próximos anos visam consolidar o progresso das atividades.

As quebradeiras de licuri do município de Capim Grosso, no sertão baiano, representam um dos exemplos de ações contempladas pelo projeto que demonstram sua eficácia. O licuri, um coco característico da região, historicamente era coletado por mulheres conhecidas como “quebradeiras de licuri”.

Atualmente, por meio da Coopes (Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina), formada graças ao projeto, essas mulheres estão beneficiando o fruto para a produção de óleo.

Esse produto é comercializado como matéria-prima para a L’Occitane au Brésil, uma marca de cosméticos francesa que desenvolveu uma linha de produtos exclusivamente com esse fruto, vendida no Brasil.

Entre outros fatores positivos que contribuíram para o primeiro lugar no ranking do FIDA, estão as parcerias relacionadas ao reflorestamento com o Instituto Regional de Pequena Agropecuária (IRPAA), a promoção de produtos locais e a reorganização fundiária de comunidades de fundos e fechos de pasto. Além disso, o projeto se destacou no quesito acesso à água.

No município de Ponto Novo, por exemplo, a implementação do sistema fusegate – que permite o controle dos vertedouros de uma barragem sem intervenção humana ou elétrica – resultou na ampliação da capacidade do reservatório de água da barragem em aproximadamente 24%.

Segundo Wilson Dias, o plano de investimento é elaborado em conjunto com grupos de interesse, como o de licuri, mel e agroflorestais. “Nesses diferentes grupos, discutimos as ações com eles. Temos 10 assistências técnicas que vão até essas comunidades, definem o plano de investimento e estabelecem uma parceria com a associação local, capacitando as lideranças para gerar recursos que serão direcionados para as tecnologias”, explica.

Para participar do projeto, foram selecionados municípios com os menores índices de desenvolvimento humano (IDH) combinados com o chamado “índice de semiaridez”, que leva em consideração o volume de chuvas, tipo de solo e relevo. Os beneficiários recebem apoio do projeto para regularização fundiária e ambiental, garantindo acesso ao crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).



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