Mais antiga do país, romaria de Bom Jesus da Lapa não tem fiéis pela 1ª vez em 328 anos

A mais antiga romaria do Brasil não poderá contar com a presença de fiéis pela primeira vez em seus 328 anos de existência por causa da pandemia do novo coronavírus. As celebrações da Romaria do Bom Jesus são realizadas desde a noite desta terça (28) até 6 de agosto no santuário em Bom Jesus da Lapa (BA). Os fiéis poderão acompanhar apenas on-line, mas, ainda assim, há romeiros que cruzaram o país e foram para a cidade, a 780 km de Salvador. Mesmo assim, o movimento será pequeno e o terceiro maior destino de turismo religioso do país estima um grande prejuízo.

O santuário está encravado em uma gruta com 50 metros de comprimento, 15 metros de largura e 7 metros de altura. Este espaço pode abrigar até 15 mil romeiros, mas neste ano terá no máximo 40 presentes. As missas contarão apenas com Dom João Cardoso, bispo da diocese local, e uma pequena equipe que inclui pregador convidado, músicos, leitores bíblicos, ministro da eucaristia, além dos operadores de som e vídeo. “Não existe registro de experiência como esta sem a presença de fiéis, mas que não tira o desejo de fazermos uma celebração com o brilho e alegria que os romeiros merecem. Nós sabemos que de uma forma ou de outra eles estarão presentes”, diz o padre João Batista Alves do Nascimento, de 48 anos, reitor do santuário.

De costas para o Rio São Francisco

O magnetismo em torno da montanha de pedra é tamanho que fez de Bom Jesus da Lapa uma das raras cidades ribeirinhas a darem as costas para o Rio São Francisco. Ali o povoamento se deu em torno do monte calcário que possui semelhança com uma catedral esculpida pela natureza – já os devotos do Bom Jesus acreditam que o trabalho foi feito pelas mãos de Deus. A gruta ainda ostenta a imagem do Cristo na Cruz, uma réplica de 1903 que substituiu a original trazida em 1705 pelo Padre Francisco da Soledade.

Essa visão atrai mais de 2 milhões de peregrinos anualmente, o que faz Bom Jesus da Lapa o terceiro maior destino de turismo religioso do país, atrás apenas de Aparecida (SP) e Juazeiro do Norte (CE).

“É realmente um aperto no peito que a gente sente de não poder participar desta festa. Desde que fui ordenado, há 20 anos, organizo caravanas para a romaria do Bom Jesus”, conta o padre Vagne Alves da Gama, 53 anos, vigário da paróquia de Bom Jesus, em Palmeiras (BA). O santuário permanecerá aberto à visitação pública das 8h às 14h, mas há um rígido protocolo de segurança, que inclui:

  • acessos separados para entrada e saída;
  • uso obrigatório de máscara;
  • passagem por cabine de desinfecção e totens de álcool gel;
  • restrição no número de usuários, que vai ser controlado por plantonistas da vigilância sanitária, Corpo de Bombeiros e Polícia Militar, que evitam aglomeração.

Hotéis vazios e sem ônibus nas ruas

Oliveira Neto, de 48 anos, proprietário de dois hotéis, acha a precaução exagerada. “Nossa ocupação atual é praticamente zero, não existem mais romeiros na cidade”, afirma. No ano passado, diz ele, todas as 60 vagas já tinham sido reservadas com no mínimo três meses de antecedência. “Hoje eu só tenho dois apartamentos ocupados por funcionários de uma empresa de energia que estão fazendo um curso”, conta.

Para evitar o prejuízo, ele fechou as portas de um hotel e mantém o outro aberto, com só três dos oito funcionários habituais. O transporte intermunicipal de Bom Jesus da Lapa foi suspenso, assim em outros 389 municípios baianos. Isso quer dizer que chegar até lá só é possível usando veículos particulares. “A gente não pode impedir o direito de ir e vir das pessoas, mas continuamos com a campanha para os fiéis ficarem em casa e acompanharem a programação pela internet. Não podemos permitir que a cidade vire foco de contaminação”, explica o prefeito Eures Ribeiro (PSD). Ele calcula que algo em torno de R$ 90 milhões deixe de circular na cidade este ano.

Fonte: UOl



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